Sempre com um sorriso no rosto e uma palavra de conforto a quem precisasse. Essa era Suzette Sheffer, 41 anos, na descrição de familiares e vizinhos do bairro Vila Elizabeth, zona norte de Porto Alegre, onde ela vivia e onde foi assassinada na última sexta-feira (16).
Merendeira de uma escola, Suzette estava momentaneamente em casa, por conta da pandemia. No dia em que foi morta, pretendia comprar um celular.
Estava com o aparelho antigo, conferindo o horário do ônibus numa parada na Avenida Toledo Piza (perto de onde residia, no bairro Sarandi), quando foi abordada por tripulantes de uma pick-up branca e com listras vermelhas e amarelas na lateral. O homem que estava de caroneiro desceu do veículo e anunciou o assalto, conforme testemunhas.
Suzette entregou o celular, mas, mesmo assim, o criminoso disparou um tiro, que acertou o peito dela. A merendeira morreu junto à parada de ônibus, antes de receber socorro. O filho mais velho, de 16 anos, acompanhava a mãe nas compras e assistiu a tudo. Os dois autores do crime fugiram na caminhonete, levando o telefone.
Irmã de Suzette, moradora do mesmo bairro, a dona de casa Eva Scheffer diz que a merendeira era benquista por todos que a conheciam.
— Ela estava sempre com um sorriso no rosto, ajudava os vizinhos e os alunos da escola. É sem explicação uma tragédia assim.
Outra irmã de Suzette, a caçula Suzana, é funcionária do Hospital Cristo Redentor e diz que está acostumada a ver pessoas feridas, mas jamais pensou que isso aconteceria com um familiar.
— Às vezes o hospital atende um criminoso baleado várias vezes, ele sobrevive. A Suzette levou só um tiro e morreu. Sem motivo, vítima de um bandido sem coração. Estamos sem chão, transbordando de tristeza, sem conseguir entender o porquê. Ainda não sabemos lidar com essa perda...Sentimos que um pedaço nosso se foi para sempre. Queríamos que tudo isso fosse um pesadelo. Minha mãe tem 78 anos e ela que ficou com as crianças. Difícil acreditar — desabafa Suzana.
Educadores e até o 38º Núcleo do Centro de Professores do Estado (Cpers-Sindicato) postaram nas redes homenagens a Suzette.
Cláudia Tozzi, professora de história e vice-diretora do colégio estadual Rubem Berta — onde Suzette trabalhava há mais de 10 anos — gravou vídeo em homenagem à merendeira e depois falou com GZH.
— Suzette era estimada por todos, uma ótima funcionária e nesse tempo todo de escola fazia muito sucesso com o tempero da comida. Para nossa profunda tristeza, a morte foi motivada por um roubo de celular. Em meio a todo o contexto pandêmico, a gente perde uma grande pessoa, que deixa três filhos. Uma tristeza.
Suzette era uma dentre nove irmãs e irmãos. Ela deixa três filhos: Paulo, 16 anos (que estava com ela na hora do crime), Lucas, 11, e Júlia, 8 anos. Eles estão aos cuidados da avó materna, Ana, que tem 78 anos.
Polícia tenta localizar imagens
A Polícia Civil tenta localizar câmeras de monitoramento que tenham gravado os autores do assassinato. O delegado que investiga o caso, Marcelo Kaner (da 12ª Delegacia de Polícia), diz que tudo aponta para latrocínio (roubo com morte), mas nenhuma hipótese está descartada.
Os policiais checam se Suzette tinha algum histórico de desavenças com alguém. Nada indica isso, mas tudo tem de ser conferido, justifica o policial. Para tanto, serão ouvidos vários familiares, amigos da vítima e ex-companheiros. Ainda não foram localizadas imagens do crime.
A morte de Suzette foi o segundo latrocínio registrado no Rio Grande do Sul em abril (caso se confirme essa hipótese). Conforme a Secretaria da Segurança Pública (SSP), em abril de 2020 foram sete roubos com morte no Estado.