A Polícia Civil divulgou nesta sexta-feira (16), durante coletiva de imprensa, que identificou e ouviu ainda na quinta-feira (15) dois suspeitos de terem quebrado a maioria das mais de 60 vidraças danificadas na Região Metropolitana na última terça-feira. Os homens, que são de Gravataí, foram identificados após os agentes obterem a placa do caminhão baú de cor branca que aparecia em várias imagens de câmeras de segurança. Eles, contudo, se apresentaram antes e disseram que fizeram os atos por "mera diversão".
Os suspeitos são o motorista do caminhão, que tem 35 anos e não tem antecedentes criminais, e o passageiro, de 21 e também sem antecedentes e que é filho do dono do veículo. O mais jovem confessou que usou uma arma de pressão que foi comprada em março, tipo um revólver, para atirar balas de chumbo nos locais.
O motorista, como é funcionário, disse que foi obrigado a praticar os atos com receio de perder o emprego. Antes que a polícia formalizasse pedidos de busca, os dois se apresentaram com um advogado ainda na quinta-feira.
Motivação
O que intrigava os servidores da segurança pública era a motivação. A diretora do Departamento de Polícia Metropolitana (DPM), delegada Adriana da Costa, diz que os suspeitos, além de confessarem envolvimento na maioria dos casos em Porto Alegre e Viamão, mas negando participação em Gravataí, relataram que foi apenas um ato de vandalismo. Conforme o depoimento, eles disseram que tiveram sensação de superioridade e prazer.
— Não chega a ser uma surpresa para nós, já houve casos semelhantes, mas acredito que muita gente esperava algo ideológico ou até mesmo político, mas no final verificamos autores com problemas psicológicos. Mesmo assim, vamos apurar e confirmar tudo antes do fechamento dos inquéritos — diz Adriana.
O passageiro, responsável pelos tiros, tem acompanhamento psicológico, usa medicamentos e tem crises de depressão e ansiedade, segundo a investigação. Os dois se inspiraram em um jogo de vídeo game e em um filme. O caminhão, o tacógrafo e a arma de pressão foram apreendidos e periciados.
Investigação
Os dois suspeitos confirmaram que iniciaram os ataques por volta das 19h de terça-feira pela Avenida Assis Brasil, zona norte de Porto Alegre, e terminaram por volta de 21h, em Viamão. Mesmo assim, negaram alguns pontos atacados nestes dois municípios e negaram também que estiveram em Gravataí. Os nomes deles não foram divulgados. A delegada diz que, apesar de um dos crimes ser de menor poder ofensivo e outro não, não foi necessário até o momento solicitar a prisão da dupla.
Por enquanto, os crimes são de danos, com pena de um a seis meses de detenção, e danos qualificados, com pena de seis meses a três anos de prisão, porque envolvem alguns patrimônios públicos. Além disso, a polícia está averiguando lesão corporal em um dos casos em que uma vítima estava no local e foi atingida por estilhaços.
A investigação continua porque a polícia trabalha para comprovar se os dois homens estão por trás de todos os casos ou se tem mais alguma pessoa envolvida. Várias testemunhas já foram ouvidas e outras ainda serão. Além disso, são analisadas dezenas de imagens de segurança, algumas delas foram repassadas pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC). Segundo o órgão, foram as primeiras câmeras que detectaram as placas do caminhão.
A delegada Adriana diz que vai acionar todas as vítimas que registraram ocorrência para fazer um levantamento dos prejuízos. Desta forma, os proprietários dos locais atingidos poderão solicitar ressarcimento. Preliminarmente e somente na Capital, a polícia avalia que o valor inicial é de R$ 100 mil.
— A polícia, em menos de 48 horas, trouxe o retorno à sociedade de fatos que causaram indignação à população. Sabemos que é um momento de crise financeira e os comerciantes, além do prejuízo diário decorrente de uma pandemia, foram surpreendidos por tais fatos, mas a polícia não mediu esforços para o esclarecimento dos fatos — destaca Adriana.
Casos
Até agora, foram contabilizados 63 casos de vidraças quebradas, 42 já foram registrados em delegacias, fazendo parte de inquérito que apura ação criminosa. Na Capital, são 43 locais, sendo que apenas nove ainda não foram registrados. São imóveis desde a Assis Brasil, passando pela Terceira Perimetral, com pontos nas avenidas Bento Gonçalves e Nonoai. O restante dos casos é em Viamão, na RS-040, e em Gravataí.
Foram atingidos vários estabelecimentos comercias, sendo muitas revendas de veículos, sede de curso pré-vestibular, atelier, clínica médica, bancos, relógios de rua, paradas de ônibus, entre outros.