Dois meses após uma família ser rendida por criminosos na zona sul de Porto Alegre, a dupla suspeita de ter cometido o crime segue foragida. A investigação apontou que um dos assaltantes criou um perfil com uso de documento falso em um aplicativo de entregas para ter acesso à residência na Vila Assunção. Os bandidos fugiram levando eletrônicos e outros pertences das vítimas.
A investigação, realizada pela 6ª Delegacia de Polícia da Capital, com apoio da Divisão de Inteligência do Departamento de Polícia Metropolitana (DPM), conseguiu identificar dois suspeitos. Ambos tiveram impressões digitais descobertas pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP) dentro da moradia da família atacada e, segundo a Polícia Civil, tiveram prisão preventiva decretada pela Justiça, permanecendo foragidos.
GZH apurou que se tratam de Cristiano de Souza Santos, 34 anos, identificado como o falso entregador, e Marcelo Fagundes Alves, 41 anos, apontado como comparsa. Os dois são naturais da serra gaúcha, com antecedentes criminais por roubos e outros crimes.
Quando o assalto aconteceu, em fevereiro, Santos deveria estar em prisão domiciliar. Ele possui 30 anos e um mês de condenação (16 anos e seis meses a cumprir) por roubos e porte de arma. Em agosto do ano passado, havia recebido o direito de permanecer detido em casa.
Já Alves possui condenações por crimes como tráfico de drogas, roubos e porte de arma. A pena total soma 63 anos e seis meses, com 45 anos a cumprir. Em março de 2020, progrediu para o regime semiaberto e, no fim daquele mês, passou a ser considerado foragido. A suspeita da polícia é de que, após o crime, a dupla tenha deixado a Capital.
— Com certeza, fizeram e, com a repercussão que teve, foram embora. Fizemos o que podíamos para localizá-los aqui. No próprio inquérito, foi possível perceber que não conheciam a cidade. Depois desse, aqui na zona sul, não tivemos nenhum outro fato parecido — afirma a delegada Áurea Hoeppel, da 6ª DP.
Ainda que o crime tenha acontecido em Porto Alegre, como estão com mandado de prisão preventiva decretada, os foragidos podem ser presos em qualquer parte do Estado. A polícia diz que segue atenta caso a dupla regresse para a Capital. Durante a apuração, os policiais fizeram buscas em locais como a Vila Resvalo e a Vila Cruzeiro, em pontos onde havia informação de que eles tinham passado. Durante o assalto, um dos criminosos foi deixado por uma das vítimas na Rua Dona Otília, na Vila Cruzeiro, próximo de um ponto de tráfico de drogas.
Os dois foram indiciados pela Polícia Civil pelo crime de roubo qualificado. Em razão do cadastro falso, Santos ainda responde por falsidade ideológica e falsificação de documento público. O Ministério Público está analisando o inquérito, para então decidir se oferece denúncia contra os dois.
GZH entrou em contato com o Judiciário para saber se os dois já apresentaram defesa no caso. No entanto, em razão do ataque cibernético ao sistema do Tribunal de Justiça, ainda não foi possível obter este retorno.
O crime
O caso aconteceu na noite de 26 de fevereiro, uma sexta-feira, após uma família moradora da Rua Pareci, na Vila Assunção, pedir entrega de comida pelo UberEats. Quando uma das moradoras saiu para receber o produto, havia dois homens junto ao portão. Um deles estava numa bicicleta motorizada. Logo depois de alcançar o pacote, o entregador e o comparsa anunciaram o assalto. Com os rostos cobertos por máscaras de proteção para a covid-19, os dois fizeram ameaças, dizendo que estavam armados. A vítima foi obrigada a deixar que eles ingressassem na casa.
Dentro da moradia, os criminosos renderam mais quatro pessoas: outra mulher, uma jovem, um adolescente e um idoso de 84 anos, todos da mesma família. Os bandidos usaram toalhas e pedaços de tecidos para amarrar as vítimas, que foram trancadas em um dos quartos da moradia. Durante o assalto, os criminosos chegaram a consumir parte dos alimentos e bebidas que estavam na geladeira. A dupla permaneceu ali por cerca de três horas, até um deles ir embora na bicicleta e o outro ser levado de carro por uma das moradoras até a Vila Cruzeiro, onde ele desembarcou. Foram roubados da residência uma televisão, três notebooks, um celular, joias e dinheiro.
A polícia descobriu que foi usado um documento falso para fazer o cadastro no aplicativo. Os dados inseridos pertenciam a um morador de Caxias do Sul, na Serra, sem antecedentes criminais e sem vínculo com o crime. No entanto, a foto usada era do falso entregador – as próprias vítimas confirmaram que um dos criminosos se parecia realmente com a imagem que aparecia no app. A partir dessa imagem e de outras informações obtidas na apuração, a polícia conseguiu chegar ao nome dos investigados. As impressões digitais localizadas na residência confirmaram as suspeitas.
O que diz o UberEats
A Uber, responsável pelo aplicativo, afirmou por nota que são adotadas medidas de segurança em relação aos entregadores cadastrados, que está constantemente tentando evitar fraudes e que esta pessoa teve a conta desativada logo após a comunicação do fato.
Confira a nota
“A Uber não tolera nenhum comportamento criminoso. A conta do entregador parceiro foi desativada da plataforma assim que a denúncia foi feita, e colaboramos com as autoridades durante toda a investigação, nos termos da lei.
Estamos constantemente implementando novos processos e tecnologias para evitar fraudes e seguimos trabalhando para ficar à frente dos golpes. Temos uma ferramenta que faz a verificação de identidade do entregador parceiro em tempo real. De tempos em tempos, o aplicativo pede, aleatoriamente, para que os entregadores parceiros tirem uma selfie, antes de aceitar uma entrega ou de ficar on-line, para ajudar a garantir que a pessoa que está usando o aplicativo corresponde àquela da conta que temos no cadastro.
Além disso, todos os entregadores parceiros cadastrados na Uber passam por uma checagem de antecedentes criminais realizada por empresa especializada que, a partir dos documentos fornecidos para cadastramento na plataforma, consulta informações de diversos bancos de dados oficiais e públicos de todo o país em busca de apontamentos de crimes que possam ter sido cometidos. A Uber também realiza rechecagens periódicas dos entregadores parceiros já aprovados pelo menos uma vez a cada 12 meses”.
Como se proteger
- Fique atento ao perfil que aparece no app de entrega: nome e foto do entregador
- Caso seja chamado pelo interfone, cuidado. Questione para quem é a entrega e de onde ela veio antes de sair para atender
- Evite abrir o portão e ter contato direto com quem está fazendo a entrega. Uma opção é instalar junto ao portão do prédio ou casa um “passador” de encomendas
- Desconfie se houver mais de uma pessoa no momento da entrega. Neste caso, não abra a porta ou portão
- Em condomínios com portaria, opte por receber o produto no acesso do prédio e retirar ali com o porteiro
- Oriente as pessoas da sua família a adotarem as mesmas medidas de segurança