O mais antigo prédio da Brigada Militar, em Porto Alegre, tem nesta semana nova chance de ter sua história preservada. Inaugurado em 1910, com objetivo de servir como Linha de Tiro, o imóvel tombado, localizado na avenida Coronel Aparício Borges, no bairro Partenon, está desocupado há duas décadas. Na próxima quinta-feira (4), uma tomada de preços buscará interessados em realizar a obra.
Tenente-coronel da BM, Najara Santos da Silva tem sua história vinculada ao prédio. Foi chefe do Museu da BM no ano de 2001, justamente quando o acervo foi todo removido dali e levado para a Rua dos Andradas, onde permanece até hoje. Isso porque o antigo museu já apresentava problemas como infiltrações e presença de cupins.
Desde então, houve uma série de tentativas de restaurar o prédio, mas nenhuma delas chegou a ser concluída.
— Perdi muitas noites de sono por conta desse prédio — recorda a oficial, que é formada em história e especialista em museologia.
A tenente-coronel atualmente é chefe da Assessoria de Assuntos Estratégicos do Gabinete do Comandante-Geral e integra a Associação dos Amigos do Museu da BM. Se a nova licitação se concretizar (depende de haver interessados), é a chance de ver o prédio finalmente recuperado. O objetivo é, após o restauro, manter os dois imóveis em funcionamento.
— De lá para cá, o acervo do museu cresceu muito. Não caberia mais todo aqui. Nossa intenção seria reconstituir a linha de tiro de quando foi inaugurada — explica Najara, que, curiosamente, foi a primeira mulher a ser instrutora de tiro na BM, em 1997.
A área do alpendre, nos fundos do prédio, é usada até hoje para as instruções. Com a reforma, dentro do imóvel ficariam expostos, por exemplo, armas utilizadas ao longo da trajetória da BM. Uma das que chama atenção é um canhão Whitworth (modelo 1863), utilizado na Revolução Federalista. Além do material bélico, a intenção é expor também materiais de campanha. Um dos itens curiosos está hoje dentro do prédio desocupado, mas pode ser visto pelo lado de fora, por meio de uma das janelas. É um fogão com rodas, da década de 1920, usado para preparar os alimentos para as tropas em deslocamento nos períodos em que a BM participava de conflitos armados.
— Perseguindo a Coluna Prestes, por exemplo, a Brigada Militar chegou até o Nordeste — explica a historiadora.
Com a restauração do prédio, um dos objetivos é recordar esses momentos da história. No Centro Histórico seria mantido o restante do acervo e também a área para pesquisa. O Museu da BM reúne indumentárias, insígnias, armas, material de campanha, medalhas, premiações esportivas, equipamento de bombeiros, mobiliário, viaturas, fotografias, lanças do período farroupilha e uma das escrivaninhas que pertenceu ao general Bento Gonçalves.
Prestes a completar 35 anos de BM, a tenente-coronel já sabe que, mesmo que o restauro inicie em breve, não deve estar mais na ativa quando a obra for finalizada. Mas está pronta para retornar para a reinauguração do prédio.
— Sabe sensação de missão cumprida? Deve ser algo muito gratificante — diz.
O prédio
O prédio foi inaugurado em 1910, na área conhecida como Chácara das Bananeiras, no bairro Partenon. O local foi construído com objetivo de servir como Linha de Tiro da BM, ou seja, como local de treinamento e manuseio de armas de fogo. Além do imóvel de alvenaria, com janelas de madeira, há um alpendre na área dos fundos, que deverá ser coberto no restauro.
Em 1985, o local foi transformado em Museu da BM, mas foi oficialmente instalado em 13 de março de 1987. Três anos depois, o prédio foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae). Em 2001, devido às condições nas quais se encontrava o imóvel, o acervo foi transferido para o prédio na Rua dos Andradas.
Onde fica
Na Avenida Coronel Aparício Borges, 2001, junto à Academia de Polícia Militar.
A licitação
A tomada de preços para contratação de empresa especializada para a execução de restauração do prédio está prevista para 14h desta quinta-feira. O projeto prevê reparos em todo o imóvel de 320 metros quadrados, incluindo o projeto arquitetônico de restauro, projeto elétrico, hidrossanitário, prevenção contra incêndios e climatização. O orçamento máximo, apresentado pelo Estado, é de R$ 1.079.102,40 – propostas com valores superiores a este serão desclassificadas.