Depois de 34 anos e dez meses na Brigada Militar (BM), o ex-comandante-geral da corporação coronel Mário Ikeda completou os primeiros 30 dias à frente da Secretaria de Segurança de Porto Alegre. O escolhido do prefeito Sebastião Melo (MDB) comanda uma pasta que abrange três braços principais – Guarda Municipal, Defesa Civil e Centro Integrado de Comando da Cidade (Ceic) – e agregará, nos próximos meses, o escritório de fiscalização, departamento que irá reunir sob a mesma chefia os fiscais de todas as áreas da prefeitura.
Em 50 minutos de conversa com GZH na sede do Ceic, o coronel Ikeda detalhou as prioridades dos primeiros meses no novo cargo. Entre os focos principais do secretário estão a criação de uma lei de incentivo à segurança, para captação de recursos, a ampliação do efetivo da Guarda e, sobretudo, o investimento em tecnologia para dar mais efetividade ao Ceic. Uma das ideias é a compra de software analíticos que produzam análise de comportamento das imagens.
— Hoje não tem tecnologia em cima da câmera. Ela está filmando, grava, é importante, ajuda a Polícia Civil a identificar o que ocorreu num crime, nos ajuda quando tem ocorrências. Agora, vai nos ajudar muito mais quando tiver sistemas que possam fazer análises da imagem e dar alerta para o operador. É humanamente impossível olharmos 1,5 mil câmeras. Imagina a quantidade de operadores que teríamos que ter aqui para ter todas as câmeras monitoradas 24 horas por dia. Não tem como. Tem tecnologia que faz isso — afirma.
O senhor assume a Secretaria de Segurança da Capital após 34 anos na Brigada Militar. Qual será o seu papel e seus projetos prioritários no cargo?
Prioridade de chegada que nos foi pedido pelo prefeito é a mudança do local da Secretaria de Segurança, para diminuir o custeio. Queremos um local mais em conta que possa atender nossas necessidades. Temos projeto aprovado pelo governo anterior referente a um financiamento do BNDES para investimento no cercamento eletrônico, no videomonitoramento da cidade, melhorar estrutura do Ceic e investir na Guarda Municipal e na Defesa Civil. É um projeto abrangente que acreditamos que vai melhorar muito a cidade. Também estamos trabalhando na Lei Municipal de Incentivo a Segurança, para poder destinar parte do ISS e parte do IPTU para investimentos na segurança pública aos moldes do que foi feito pelo governo do Estado. Já estamos trabalhando para enviar uma lei para a Câmara.
Sob seu comando, qual será o papel da Guarda Municipal?
O que vejo que podemos fazer diferença é potencializar ainda mais as ações da Guarda Municipal. Ela tem potencialidade muito grande de ações preventivas, que já vem executando. Via pouca ação da Guarda até o ano passado. A partir da covid, a Guarda ganhou outro contexto com necessidade de atuação na prevenção às aglomerações. Faz esse papel muito bem. Quando a pandemia acabar, não pode perder continuidade das ações da Guarda e em questões preventivas da segurança pública. Com a experiência na BM, pretendo ajudar e dar condições para a Guarda crescer dentre as suas atribuições, com mais visibilidade e atuação.
Nossa prioridade é fixar uma idade máxima de ingresso na Guarda. Hoje, a média é mais de 50 anos. Uma pessoa nessa faixa etária tem muitas condições de trabalhar, mas o trabalho da Guarda é muito semelhante ao da BM, que exige vigor físico para a pessoa permanecer seis horas de pé, andar de colete, armado, fazendo seu patrulhamento. O peso desse equipamento dá um desgaste físico muito grande.
CORONEL MÁRIO IKEDA
Secretário de Segurança de Porto Alegre
A Guarda poderia ter uma atuação mais efetiva? Pode dar algum exemplo?
Já tem um papel efetivo hoje, mas me refiro a melhorar a efetividade e ter mais visibilidade. Ela vem de uma fase de transição, de atuação específica na segurança patrimonial do município para ações preventivas de segurança. Na orla, por exemplo, tem presença constante. No retorno das aulas das escolas municipais, a Guarda terá um papel importante. Temos várias áreas com carência da presença da Guarda que, por falta de efetivo, não temos como suprir todas essas deficiências.
Há possibilidade de aumento de efetivo?
Nossa prioridade é fixar uma idade máxima de ingresso na Guarda. Hoje, a média é mais de 50 anos. Uma pessoa nessa faixa etária tem muitas condições de trabalhar, mas o trabalho da Guarda é muito semelhante ao da BM, que exige vigor físico para a pessoa permanecer seis horas de pé, andar de colete, armado, fazendo seu patrulhamento. O peso desse equipamento dá um desgaste físico muito grande. Uma pessoa jovem suporta melhor esse trabalho diário. Trabalhamos com a faixa de em torno dos 30 anos, no máximo, para ingresso. Contratações estão no nosso horizonte, mas antes é necessário fazer essa mudança da idade limite de ingresso.
Como vai funcionar o escritório de fiscalização que ficará dentro do guarda-chuva da secretaria?
Hoje temos fiscais em várias secretarias do município. A prefeitura quer centralizar esses fiscais constituindo um escritório de fiscalização. Estamos trabalhando em um projeto piloto para fazer esse escritório, também demanda mudança de legislação. Cada fiscal de cada secretaria tem um tipo de atribuição. A ideia é que um mesmo fiscal pudesse fiscalizar a plenitude de tudo que fosse de lei municipal. O prefeito nos pediu isso. É um trabalho mais demorado, mas queremos começar brevemente um projeto piloto.
O prefeito Sebastião Melo tem dito que a missão do senhor é transformar Porto Alegre na capital mais segura do país. Quais os desafios para a cidade chegar nesse patamar?
Acredito muito que, através da lei de incentivo, temos condições de chegar lá. Para melhorar, tem que ter condições econômicas para investir na segurança. Parte disso é constituindo a lei de incentivo, captando recursos, sabemos que os empresários já estão nos apoiando e irão nos apoiar na captação desses recursos através, por exemplo, do Instituto Cultural Floresta. Outra coisa é aumentar efetivo da Guarda Municipal, e também melhorar as dinâmicas do Ceic, trazer mais efetividade.
O recurso da lei de incentivo seria aplicado onde especificamente?
Na Guarda Municipal e no Ceic. É através do Ceic que se despacha viatura, que se confirma fato criminoso, depredação, pichação. Isso traz segurança ao município. Precisamos trabalhar numa lei que seja robusta, eficiente e que tenha efetividade para mudar a realidade da segurança pública da cidade.
O senhor fala em tornar o uso do Ceic mais efetivo. Como?
O Ceic foi feito para a Copa do Mundo, o foco dele eram as telas e o monitoramento. Hoje, trabalhamos mais com despacho do que monitoramento, atendendo demandas do 156 e 153, da Guarda e da EPTC. É mais demandado por solicitações do que monitora o que acontece na rua. Para aprimorar o monitoramento, dentro daquele investimento que vem do governo anterior, pretendemos comprar software analíticos para fazer análises de comportamento das imagens para dar alerta para quem estiver trabalhando aqui. E não o servidor buscar imagens da tela. Há tecnologia para isso que dá alerta de situações anormais que estejam acontecendo nas imagens. Já foi feita captação de recurso, o que temos que fazer é operacionalizar.
Pontos cegos tem, mas não se entra e nem sai de Porto Alegre sem passar por uma câmera. A prioridade inicial era cercar a cidade. E está cercada. Agora, se está se colocando em outros pontos que tem maior circulação de veículos para monitorar internamente. Entendemos que a criminalidade diminuiu, mas o criminoso migra, busca outra forma de agir.
CORONEL MÁRIO IKEDA
Secretário de Segurança de Porto Alegre
No governo passado, havia intenção de comprar câmeras com reconhecimento facial? Pretende levar isso adiante?
Dentre os softwares analíticos, um deles também faz reconhecimento facial. Está no nosso projeto.
O cercamento eletrônico lê diariamente 1,2 milhão de placas de veículos que circulam na Capital. Porto Alegre ainda tem muitos pontos cegos onde não é possível monitorar a circulação de pessoas e veículos?
Pontos cegos tem, mas não se entra e nem sai de Porto Alegre sem passar por uma câmera. A prioridade inicial era cercar a cidade. E está cercada. Agora, se está se colocando em outros pontos que tem maior circulação de veículos para monitorar internamente. Entendemos que a criminalidade diminuiu, mas o criminoso migra, busca outra forma de agir. Conforme ele vai buscando, nós também temos de ir atrás de alternativas para tornar cada vez mais difícil da criminalidade agir.
Quais bairros merecem mais atenção da secretaria?
Um local que carece de atenção, e o próprio prefeito já falou isso algumas vezes, referindo-se que precisa de “choque de ordem”, é o Centro. Temos de fazer um trabalho de melhorar o Centro. Estamos estudando em como dar uma atenção, para a população se sentir mais segura. Não vou especificar agora, estamos trabalhando nesse sentido. Tem decisões que podemos tomar, tem decisões que são do próprio prefeito. Temos o olhar e uma atenção ao Centro.
Como será sua interlocução com a BM e a Polícia Civil?
O prefeito já conduziu a primeira reunião do Gabinete de Gestão Integrada Municipal, aconteceu faz duas semanas. Teremos uma reunião mensal com representantes de todos os instituições da segurança pública mais Ministério Público e Poder Judiciário. Através desse gabinete temos a interlocução. A integração com os órgãos de segurança é extremamente importante. Todo final de semana a probabilidade de aglomeração são maiores, ali são ações integradas.