Primeiro nome anunciado pelo prefeito Sebastião Melo para o secretariado, o coronel Mário Yukio Ikeda, 54 anos, é conhecido dos porto-alegrenses pelo trabalho na Brigada Militar, onde subiu, degrau por degrau, até se aposentar como comandante-geral, no final e 2019. Só os mais próximos da família conhecem o outro lado do homem por trás da farda, para quem a esposa, a médica Maria Letícia, só tem elogios: afetuoso, habilidoso, organizado, paciente, equilibrado, parceiro.
Casados há 23 anos, com mais oito de convivência entre namoro e noivado, Ikeda e Letícia formam um casal nada convencional para os padrões brasileiros. Quando os filhos, a estudante de Relações Públicas Harumi, 19 anos, e o adolescente Yuji, 11, eram pequenos, quem dava banho? O pai.
— Nossos filhos sempre tomaram banho à noite, porque ele fazia questão de dar. Sempre teve muito jeito com bebês, não só com os nossos, mas com os sete afilhados também — revela Letícia.
Conhecido pelo controle emocional, que alguns colegas confundem com frieza, o coronel quase nunca se abala. A exceção é quando a violência atinge crianças.
O nome dos filhos do casal tem forte significado em japonês. Harumi significa “beleza da primavera”. Yuji é “segundo filho corajoso”. Os dois sempre contaram com o pai para ajudar nas tarefas escolares, até porque a mãe, em geral, trabalha das 7h às 22h. Durante a semana, quem cozinha é a mãe de Ikeda, Inês, que mora com o casal desde que o marido se aposentou e os dois voltaram do Japão para passar o resto da vida no Brasil. Aos fins de semana, o cozinheiro é ele. Engana-se quem imagina o japonês fatiando sashimis ou montando sushis: a especialidade do coronel é a culinária gaúcha mesmo, com arroz de carreteiro aos sábados e churrasco aos domingos. Na véspera de Natal, foi ele quem assou o peru e ajudou a mãe nos detalhes da ceia.
O comandante também é exímio jardineiro. Cultiva bonsais, cuida das orquídeas e faz arranjos florais inspirados nas ikebanas japonesas. O comandante também costura, lava e passa roupa. Conta Letícia:
— Ikeda sempre passou a própria roupa. No tempo em que a farda era engomada, ele mesmo engomava. E faz costuras simples, à máquina, como bainhas e pequenos consertos.
Mais velho dos quatro filhos de um casal que imigrantes japoneses, o coronel nascido em Guaíba sempre teve em mente de que a ele caberia cuidar dos pais e dos irmãos, como manda a tradição japonesa. Quando o pai se aposentou, os dois compraram a casa em que os Ikeda vivem hoje. É lá que o coronel prefere passar as horas de folga. Entre a aposentadoria e a campanha eleitoral, tratou de restaurar o jardim, mas ficou faltando a fonte - que agora terá de esperar. A partir de 1º de janeiro, o coronel terá pouco tempo para seu hobby, porque a missão dada pelo prefeito Sebastião Melo é desafiadora: fazer de Porto Alegre a capital mais segura do Brasil.