A família de José Dougokenski, primeiro marido de Alexandra Dougokenski, vai pedir reconstituição da morte que aconteceu em fevereiro de 2007, em Farroupilha, na Serra. Na época, o caso foi tratado como suicídio, mas agora, em decisão de 21 de janeiro, o Tribunal de Justiça do Estado (TJ-RS) autorizou a reabertura da investigação. Alexandra é ré pela morte do filho Rafael Winques, 11 anos, em Planalto, no norte do RS, em maio de 2020.
A advogada criminalista Maura da Silva Leitzke, responsável por representar a família Dougokenski, explica que o objetivo da reprodução simulada dos fatos — nome técnico para reconstituição — é fazer com que Alexandra mostre sua versão da morte do primeiro marido. O pedido depende de autorização judicial. José Dougokenski foi encontrado morto com uma corda no pescoço aos 32 anos, em 5 de fevereiro de 2007. Ele é pai do primeiro filho de Alexandra.
— O que Alexandra diz não tem como se aplicar ao que efetivamente foi encontrado lá. Na época, ela descreve um cenário do que teria visto quando entrou no quarto que não fecha com as fotos e tudo que foi encontrado lá. Ela diz que tentou salvar a vida dele, reanimá-lo mas sequer tirou a corda do pescoço dele — diz a advogada.
A decisão de reabrir a investigação é da Vara Criminal de Farroupilha e acolhe pedido do Ministério Público. O promotor Ronaldo Lara Resende argumentou que há semelhanças na forma como ele e Rafael morreram, a capacidade da mulher de "cometer crimes cruéis", além de citar uma testemunha a quem Alexandra teria contado que matou o então companheiro.
A Polícia Civil deve definir nos próximos dias o delegado que ficará responsável por investigar a morte de José Dougokenski. A chefe de Polícia, delegada Nadine Anflor, explica que a delegacia de Farroupilha irá trocar de titular e o policial que assumir a DP será o responsável pelo trabalho:
— A polícia está totalmente à disposição. Isso ainda não foi discutido mas, se for necessário, reforçaremos equipes ou colocaremos mais um delegado no caso.
A investigação irá identificar se a casa onde Dougokenski morreu, no interior de Farroupilha, ainda existe. Maura acredita que o local da reconstituição não precisa necessariamente ser o mesmo que o da morte:
— O importante é mostrarmos a altura onde ele estava, o peso do corpo, a forma como ela tirou. Ela terá que reproduzir tudo que disse na época.
No depoimento que deu à polícia em 5 de fevereiro de 2007, ao qual GZH teve acesso, Alexandra diz que o marido havia comprado três garrafas de cachaça horas antes de morrer. Segundo relato dela, por volta das 22h30min da noite anterior, Dougokenski estava embriagado e mandou ela deitar. Alexandra conta que teria ido com o filho para o quarto de hóspedes. Minutos depois, teria ouvido o marido fazer barulho e suspirar forte. Assustada, afirma ter ido ao quarto do casal e encontrado o corpo de Dougokenski pendurado em uma corda de varal azul presa na viga do teto. Para socorrê-lo, subiu na cama, cortou a corda mas identificou que já estava sem vida. Ligou, então, para o patrão e foi para a casa da vizinha.
O boletim de ocorrência aponta que a Brigada Militar foi acionada por volta de 1h30min do dia 5 de fevereiro. A perícia chegou ao local às 4h. O laudo do Instituto-Geral de Perícias (IGP) feito na época confirma a presença de sete decigramas de álcool etílico por litro de sangue em Dougokenski. O exame aponta que o agricultor estava deitado de bruços, próximo à porta do quarto, com a corda ainda no pescoço.
O que Alexandra diz não tem como se aplicar ao que efetivamente foi encontrado lá. Na época, ela descreve um cenário do que teria visto quando entrou no quarto que não fecha com as fotos e tudo que foi encontrado lá. Ela diz que tentou salvar a vida dele, reanimá-lo mas sequer tirou a corda do pescoço dele.
MAURA DA SILVA LEITZKE
Advogada criminalista que representa família Dougokenski
Um pedaço da mesma corda estava amarrado aos caibros de madeira do forro. Havia pedaços de madeira sobre a cama. "Não se percebia nada que nos indicasse que ali ocorrera algum tipo de luta ou qualquer forma de violência", frisa o laudo de 2007. O documento conclui, "com grande margem de certeza", tratar-se de suicídio.
Treze anos depois, a família contratou uma perícia particular que aponta outra versão para o que teria acontecido naquela noite. O novo laudo compara as fotografias do corpo com características obrigatórias de um suicídio como o narrado por Alexandra e concluiu que há incompatibilidade com a cena de um suicídio. Os novos elementos levaram o promotor a pedir abertura da investigação.
— A família tem muita esperança que ao final da investigação, ela será denunciada de novo — afirma Maura.
Presa na Penitenciaria Estadual Feminina de Guaíba desde maio de 2020, Alexandra é acusada de ter matado o filho de 11 anos. No processo criminal que investiga a morte do menino, ela responde por homicídio qualificado e outros três crimes conexos — ocultação de cadáver, falsidade ideológica e fraude processual.
Na fase do inquérito policial que verificava as circunstâncias do assassinato de Rafael, Alexandra participou, em junho de 2020, da reconstituição da morte do filho em Planalto. Na noite da reprodução, a acusada disse que o filho desmaiou após ingerir dois comprimidos de Diazepam e que ela teria usado uma corda para fazer o transporte do corpo do menino entre a sua casa e a do vizinho. Dias depois, em depoimento no Palácio da Polícia, Alexandra mudou a versão e confessou que asfixiou o filho com uma corda por desobediência. Em audiência do processo criminal em dezembro, deu uma terceira explicação: negou que matou o filho e disse que o crime foi cometido pelo pai do menino, Rodrigo Winques, que mora em Bento Gonçalves.
Contraponto
À frente da defesa de Alexandra Dougokenski, o advogado Jean Severo afirma que a reprodução simulada irá confirmar que foi suicídio, o que já foi apontado pelo IGP na época da morte de José Dougokenski:
— É um direito da família pedir a reconstituição, mas é algo que já tinha sido resolvido. A perícia particular não tem valor nenhum. Vamos aguardar, e no final será comprovado que foi suicídio, basta olhar as fotos do local do crime. É lamentável querer reabrir esse caso. Alexandra nunca teria condições de erguer um corpo daqueles. Mas estamos prontos para colaborar, principalmente a Alexandra.