O Ministério Público pediu que a investigação sobre a morte de José Dougokenski seja desarquivada pela Polícia Civil. Ele era casado com Alexandra Dougokenski, ré pela morte do filho Rafael Winques em Planalto, no norte do RS, em maio de 2020. Na época da morte de Dougokenski, que aconteceu em fevereiro de 2007, em Farroupilha, o caso foi tratado como suicídio. No entanto, o promotor Ronaldo Lara Resende menciona semelhanças na forma como ele e Rafael morreram, a capacidade da mulher de "cometer crimes cruéis", além de citar uma testemunha a quem Alexandra teria contado que matou o então companheiro.
Procurada, a defesa de Alexandra afirmou que não se opõe a reabertura da investigação e que a ré nega totalmente as acusações.
No pedido de reabertura do inquérito, o promotor afirma que, na ocasião, entendeu que o caso deveria ser arquivado porque o laudo pericial indicava "com grande margem de certeza, que se tratava de morte autoinfligida, ou seja, um suicídio por enforcamento". Porém, o promotor argumenta que novos elementos apresentados ao MP justificam uma nova análise.
Resende destaca que Alexandra era a única pessoa no local onde Dougokenski morreu. Em referência ao assassinato do menino Rafael, o promotor ressalta que a mulher "é ré em um processo em que tudo indica ser ela a autora de um bárbaro crime perpetrado contra seu próprio filho, tendo dissimulado, de maneira fria e calculista, propagando um suposto desaparecimento da vítima, fingindo, inclusive, estar preocupada com a situação".
O documento do MP cita ainda que Rafael foi morto por "asfixia mecânica provocada por enforcamento com o uso de uma corda", mesmo instrumento e conduta que ocasionaram a morte de Dougokiski. Além disso, o promotor destaca que Alexandra é "a mesma e única pessoa que estava com José quando do ‘suicídio’, prestando informações que direcionavam para um conjunto de fatores que dariam sustentação a um atentado, por parte dele (José), contra a própria vida, algo que também foi feito no caso de Rafael".
O promotor afirma que embora não haja indícios de falha nos laudos periciais, os peritos não examinaram elementos do contexto que só ficam evidentes agora: "a capacidade de Alexandra - única ‘testemunha’ da morte de José – em cometer crimes cruéis, alterar o local dos delitos e, ainda, atuar, teatralmente, quando instada a falar sobre os eventos a que deu causa".
Além disso, o promotor anexa ao pedido o depoimento de uma testemunha que refere, em juízo, que Alexandra teria contado ter matado o então companheiro. Segundo Resende, a decisão pelo pedido de reabertura do inquérito foi baseada em elementos apresentados a ele pela família de Dougokenski e dados extraídos do caso Rafael.
Em outubro, a família de Dougokenski contratou uma perícia particular que colocou em dúvida a tese de suicídio. Antes disso, a advogada criminalista Maura da Silva Leitzke havia feito uma análise de perfil e identificado, segundo ela, 95% de semelhança entre o modus operandis dos dois crimes. A partir disso, foi solicitado ao MP o desarquivamento dos autos do inquérito.
— O nosso próximo passo, como assistentes de acusação, é fazer um pedido de reconstituição do crime, ou seja, a simulação dos fatos para que fique efetivamente demonstrado que o que aconteceu lá foi mais um homicídio e não um suicídio como se fez crer na época — afirma a advogada.