O Tribunal de Justiça do Estado (TJ-RS) autorizou que seja reaberta a investigação sobre a morte de José Dougokenski, primeiro marido de Alexandra Dougokenski. Ela é ré pela morte do filho Rafael Winques em Planalto, no norte do RS, em maio de 2020. A decisão é da última quinta-feira (21), da Vara Criminal de Farroupilha, na serra gaúcha.
A decisão acolhe um pedido do Ministério Público, que solicitou que a investigação sobre a morte fosse desarquivada pela Polícia Civil. Na época da morte de Dougokenski, que aconteceu em fevereiro de 2007, em Farroupilha, o caso foi tratado como suicídio. No entanto, o promotor Ronaldo Lara Resende mencionou, no pedido, semelhanças na forma como ele e Rafael morreram, a capacidade da mulher de "cometer crimes cruéis", além de citar uma testemunha a quem Alexandra teria contado que matou o então companheiro.
Além de autorizar a reabertura do caso, a Justiça também determinou que os peritos do Departamento de Criminalística e Posto Regional Médico Legal do Instituto Geral de Perícias (IGP) de Caxias do Sul, que realizaram laudos sobre o caso, "façam os esclarecimentos que entenderem pertinentes".
No pedido de reabertura do inquérito, o promotor afirma que, na ocasião, entendeu que o caso deveria ser arquivado porque o laudo pericial indicava "com grande margem de certeza, que se tratava de morte autoinfligida, ou seja, um suicídio por enforcamento". Porém, o promotor argumenta que novos elementos apresentados ao MP justificam nova análise.
Resende ressalta que Alexandra era a única pessoa no local onde Dougokenski morreu. Em referência ao assassinato do menino Rafael, o promotor ressalta que a mulher "é ré em um processo em que tudo indica ser ela a autora de um bárbaro crime perpetrado contra seu próprio filho, tendo dissimulado, de maneira fria e calculista, propagando um suposto desaparecimento da vítima, fingindo, inclusive, estar preocupada com a situação".
O documento do Ministério Público cita ainda que Rafael foi morto por "asfixia mecânica provocada por enforcamento com o uso de uma corda", mesmo instrumento e conduta que ocasionaram a morte de Dougokenski.
Além disso, o promotor destaca que Alexandra é "a mesma e única pessoa que estava com José quando do 'suicídio', prestando informações que direcionavam para um conjunto de fatores que dariam sustentação a um atentado, por parte dele (José), contra a própria vida, algo que também foi feito no caso de Rafael".
O promotor afirma que embora não haja indícios de falha nos laudos periciais, os peritos não examinaram elementos do contexto que só ficam evidentes agora: "a capacidade de Alexandra — única 'testemunha' da morte de José — em cometer crimes cruéis, alterar o local dos delitos e, ainda, atuar, teatralmente, quando instada a falar sobre os eventos a que deu causa".
Em outubro do ano passado, a família de Dougokenski contratou uma perícia particular que colocou em dúvida a tese de suicídio. Antes disso, a advogada criminalista Maura da Silva Leitzke havia feito uma análise de perfil e identificado, segundo ela, 95% de semelhança entre o modus operandis dos dois crimes. A partir disso, foi solicitado ao MP o desarquivamento dos autos do inquérito.
O que diz a defesa
Procurada, a defesa de Alexandra afirmou que a perícia realizada pela IGP na época da morte foi "precisa" e que tem convicção de que o caso se trata de um suicídio. O advogado Jean Severo afirma que a perícia particular — contratada pela família de José Dougokenski — não tem credibilidade e que dá "uma falsa ideia" para os parentes, o que é "lamentável", diz Severo.