Moradores da região da Cruzeiro, em Porto Alegre, realizaram um protesto na tarde terça-feira (8), na Rua Cruzeiro do Sul.
O grupo colocou fogo em pneus e madeiras, e o trânsito foi parcialmente bloqueado na área até as 19h. Um automóvel Chevette também foi incendiado. Além disso, rojões e fogos de artifício são lançados. O batalhão de choque da Brigada Militar (BM) esteve no local.
Por volta das 16h, um novo foco de incêndio foi combatido pelos bombeiros, na Avenida Correia Lima próximo à Rua Nossa Senhora do Brasil, também no bairro Santa Tereza.
Segundo os moradores, Jane Beatriz Machado da Silva, 60 anos, morreu durante abordagem policial na região. Ela era servidora da prefeitura de Porto Alegre e trabalhava na área administrativa da Secretaria Municipal de Segurança (SMSeg). Conhecida na comunidade, Jane era ativista e militante em questões de gênero e raciais. Ela atuava na Cruzeiro como Promotora Legal Popular (PLP), após participar de uma capacitação promovida Themis, entidade que trabalha no enfrentamento da discriminação contra mulheres.
Uma sobrinha de Jane, ouvida por GZH, alegou que a polícia invadiu a casa dela. Cartazes e faixas criticam a Brigada Militar. O comandante do Comando de Policiamento da Capital, coronel José Carlos Pacheco Ferreira, não confirma a versão dos moradores. À noite, o Instituto-Geral de Perícias (IGP) divulgou que a causa do morte foi rompimento espontâneo de um aneurisma cerebral.
De acordo com o comandante do 1° Batalhão de Choque da BM, coronel Cláudio dos Santos Feoli, o relato dos policiais é de que eles faziam patrulhamento em uma travessa próxima da Moab Caldas quando receberam uma denúncia de maus-tratos a menores. Os policiais teriam ido até a residência, mas não confirmaram a denúncia.
Na saída do local, encontraram a mulher, que perguntou sobre uma filha, mas, segundo o relato dos agentes ao oficial, "logo depois ela teve um mal súbito e veio a desfalecer".
— Os familiares estavam presentes quando isso aconteceu, de pronto chamaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Com a demora, os policiais fizeram o socorro para o postão da Cruzeiro, com um dos familiares na viatura. Ao chegarem no hospital, eles ficaram sabendo que foi constatado o óbito — declarou Feoli.
O comandante informou que os policiais envolvidos na ocorrência estão sendo ouvidos na tarde desta terça para esclarecer os fatos e entender as versões divergentes apresentadas por moradores. A guarnição envolvida é da Patrulhas Especiais (Patres), um grupo tático do 1º BPChoque.
O comandante do batalhão atribui à "desinformação" o protesto dos moradores, já que o relato dos agentes é de que eles acompanharam a mulher durante a abordagem e, após ela passar mal, além de não ter a confirmação de uma ação com violência.
Feoli ainda assegurou que a ação dos policiais durante o protesto será de acompanhamento para tentar desobstruir a via "da maneira mais pacífica possível". Os atos seguirão no final da tarde de quarta-feira, na esquina entre as ruas Caixa Econômica e Cruzeiro do Sul.
Jane chegou com vida ao PACS
Conforme a secretaria de Saúde de Porto Alegre, a mulher chegou com vida ao Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul (PACS), levada pela BM. Ela estava em parada cardiorrespiratória e a equipe tentou reverter o quadro, mas não teve sucesso e a moradora morreu no local.
Delegacia de Homicídios vai apurar o caso
A investigação do ocorrido está a cargo da 6ª Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa. Conforme o delegado titular Newton Martins de Souza Filho, ainda não é possível determinar o que exatamente ocorreu que terminou com a morte de Jane Beatriz Machado da Silva.
— A investigação ainda está no início e é um caso sensível. Vamos ouvir os depoimentos de todas as partes envolvidas para então chegar ao mais próximo do que de fato aconteceu no local — afirmou o delegado.
Nesta terça-feira, a Polícia Civil já ouviu o filho de Jane e a vizinha que estava com ela no momento em que a vítima chegava em casa. Nos próximos dias, mais pessoas serão chamadas para depor como os outros familiares que estavam na casa e também os policiais militares envolvidos na ocorrência.
