Titular da 4ª Vara Criminal de Santa Maria, o juiz Vinicius Borba Paz de Leão aceitou a denúncia do Ministério Público e tornou réu o professor de História Vinicius Pompeo, 37 anos. O educador vai responder pelos crimes de estupro de vulnerável e importunação sexual que envolvem ex-alunas do acusado. O magistrado deu prazo de dez dias para Pompeo se manifestar.
GZH conversou com quatro jovens que foram alunas de Pompeo. Em reportagem publicada em agosto, elas contam que, na escola, o professor de História acariciava suas partes íntimas, agarrava-as pela cintura, dava beijos no pescoço e fazia com que elas sentassem em seu colo durante as aulas. As quatro ex-alunas ouvidas pela reportagem ao longo do mês de julho – duas de 23 anos, uma de 20 anos e uma também adulta que prefere não revelar a idade – tiveram a identidade preservada.
— Passava a mão na coxa e na bunda. Na época, me sentia muito coagida a fazer as coisas que ele fazia com a gente para ter aquela aceitação que precisávamos ter com ele. Se não fôssemos carinhosas, ele ia pegar no nosso pé. Era uma relação de hierarquia. Hoje penso: como pode um professor fazer esse tipo de coisa com alunas de 12 e 13 anos? É um absurdo. Professor é para ser uma pessoa de confiança. Ele usava o poder sobre as alunas para benefício dele — relatou uma jovem, de 23 anos, à GZH.
Outra jovem, que foi aluna de Pompeo no 7º e 8º anos no Ensino Fundamental e no 3º ano do Ensino Médio, contou que o educador usava a simpatia para se aproximar das garotas:
— No corredores, ele chegava por trás, abraçava pelas costas, na altura dos ombros, fazia massagem. Beijava meu pescoço e falava que, além de tudo, eu era cheirosa. Tinha abraços longos. Ficava conversando e a mão escorregava para os peitos, bunda, coxa. Ficava apalpando enquanto abraçava. Mexendo, a mão subia e descia. Isso na frente de colegas, em rodas de conversa. Eu me incomodava com esses toques.
Na decisão em que aceita a denúncia, o juiz argumenta que, como os fatos narrados pelas vítimas não teriam deixado vestígios, a prova de materialidade, ao menos na fase preliminar do processo, será extraída dos depoimentos das jovens dados durante o inquérito policial. O magistrado afirma que os relatos possuem "indícios suficientes de autoria, pois o acusado era conhecido das vítimas e foi por elas apontado como autor". Também diz que "os fatos foram descritos com todas as circunstâncias passíveis de serem extraídas do caderno inquisitorial, e configuram, em tese, ilícito penal".
À frente da investigação na Polícia Civil, a delegada Roberta Trevisan ouviu mais de 50 pessoas e identificou 21 vítimas. O MP apresentou a denúncia apontando sete pessoas como vítimas e outras 27 como testemunhas. Em Santa Maria, o caso veio à tona após série de relatos nas redes sociais e chegou à polícia por meio de um dossiê, elaborado por um por grupo de jovens da cidade, contando situações constrangedoras vividas em sala de aula entre 2011 e 2019. O material serviu de ponto de partida para a investigação.
As situações investigadas teriam acontecido em duas escolas particulares de Santa Maria – no Colégio Marco Polo e no Colégio Franciscano Sant'Anna – e em dois cursos pré-vestibulares – ambos fechados atualmente. As direções das instituições foram ouvidas pela polícia, mas nenhuma delas disse já ter registrado alguma reclamação da conduta do professor. Neste ano, Pompeo atuava no Colégio Marco Polo, mas foi afastado em 23 de junho. Em agosto, GZH também contatou as instituições. O Colégio Franciscano Sant'Anna preferiu não se manifestar, enquanto o Colégio Marco Polo afirmou que "o assunto deixou a direção, professores e colaboradores e toda comunidade escolar em choque, pois, até então, não tinha recebido registros de reclamações de alunas".
Contraponto
Em depoimento à polícia, Pompeo negou os relatos e disse que os fatos não ocorreram da forma como foram narrados pelas ex-alunas. Nesta quarta-feira (14), GZH ligou e enviou mensagem para o educador, mas não obteve retorno das tentativas de contato.