O distanciamento social e o esvaziamento das ruas devido à pandemia do coronavírus, especialmente nos meses de abril e maio, se refletiram na redução dos registros de roubo a pedestre em Porto Alegre. No primeiro semestre de 2020, a queda foi de 26,72% em relação a igual período do ano passado.
De janeiro a junho, foram 8.396 notificações para esse tipo de crime, média de 46 por dia. O número, embora expressivo, já foi bem maior. Nos primeiros seis meses de 2019, a Capital chegou a ter 11.456 ocorrências, média de 63 roubos por dia.
Nos meses completos em que regras de restrição de circulação de pessoas estavam em vigor (abril, maio e junho), a ocorrências caíram quase pela metade, com baixa de 45,24% em relação ao mesmo período de 2019. A maior redução foi registrada em abril, quando os casos caíram 50%.
— O isolamento afeta diretamente esse resultado, mas também há maior visibilidade do policiamento e da vigilância. Aquele que comete roubo ou furto fica mais fácil de ser localizado e identificado, também está mais visível. O aumento da troca de informações entre Brigada Militar e Polícia Civil também veio a colaborar na responsabilização — avalia o diretor substituto da Delegacia de Polícia Regional de Porto Alegre, delegado Ajaribe Pinto.
O aumento das flexibilizações das atividades econômicas nas últimas semanas pode vir acompanhado do crescimento dos roubos nas ruas, mas atitudes simples ajudam a evitar que pedestres sejam surpreendidos por criminosos.
A convite de GaúchaZH, o subcomandante do 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM), major Tales Américo Osório, mostrou nesta semana por uma hora e meia exemplos de comportamentos defensivos e atitudes que atraem a ação de ladrões. O ponto de observação foi a Esquina Democrática, no Centro Histórico, o bairro da Capital que tradicionalmente concentra o maior número de assaltos a pedestres. O uso do smartphone e mochilas e bolsas nas costas são os equívocos mais comuns.
Quando for imprescindível utilizar o celular – para ligação ou chamar carro por aplicativo – a dica é se encostar em uma parede e se manter atento ao que acontece na sua frente.
— Diminui em 50% a chance de ser pego de surpresa, já que ao menos as costas estarão cobertas. Se vem alguém de frente, há mais chance de perceber. Com bolsas e mochilas também, tudo que a pessoa carrega nas costas fica mais vulnerável — ensina o major.
Exemplos de atitudes defensivas ao roubo a pedestre
Um jovem com mochila e skate que parou para pedir informações aos PMs, foi usado de exemplo. O major explica que o ladrões tem facilidade de abrir o zíper sem a vítima perceber. Nesse caso, o pedestre havia recém desembarcado do trensurb, estava com a mochila nas costas e optou por colocar a carteira e o celular nos bolsos da frente da calça, conduta defensiva à ação dos criminosos. Durante a observação, um dos descuidos mais identificados é o uso fones de ouvido e a circulação com bens à mostra.
À frente do policiamento ostensivo na região, o major explica que o maior alvo no Centro Histórico são celulares e correntinhas. Os pontos mais sensíveis para ocorrência são a Avenida Voluntários da Pátria e Rua Julio de Castilhos. Nesses locais, a BM trabalha com foco no problema: utiliza guarnições a pé, em viaturas, motocicletas e a cavalo. Em todo o bairro, os horários mais críticos para ação de criminosos são entre 14h e 22h. Já na Avenida Farrapos, outro ponto preferencial de roubo a pedestre, o crime ocorre com mais frequência entre 6h e meio dia.
Atitudes que facilitam ação de ladrões
Com as ruas mais esvaziadas durante a pandemia, a BM identificou uma migração de criminosos para vias próximas a hospitais, locais que seguem movimentados. Essas regiões têm recebido reforços de policiamento. Dentro da área do 9º BPM estão instituições de saúde como Hospital de Clínicas, Santa Casa de Misericórdia, Moinhos de Vento, Fêmina e Presidente Vargas.
Muitos delinquentes usam essa poluição visual para se esconder. Roubam, saem correndo, trocam de roupa e a pessoa não reconhece mais. Faz a ação usando uma jaqueta preta, em dois minutos tira e veste uma camiseta amarela. A gente sabe que isso acontece, mas a vítima, não.
MAJOR TALES AMÉRICO OSÓRIO
Subcomandante do 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM)
A BM posiciona os policiais onde há grande quantidade de ocorrências. Com base nas informações das notificações – como horário, local, descrição da vítima e modo de abordagem – é possível planejar as ações de policiamento. Os grupos de WhatsApp com moradores e comerciantes também trazem informações importantes para a elaboração do patrulhamento.
— É possível combater o roubo a pedestre estando próximo da comunidade. Também por meio da patrulha comunitária aplicamos questionários que nos servem de base para direcionar o policiamento — diz.
No Centro, ações de fiscalização contra o comércio de ambulantes auxiliam no trabalho da segurança pública. Quanto mais poluído e movimentado estiver o ambiente, mais difícil é buscar e prender o criminoso, que tem mais facilidade de escapar circulando entre os comerciantes informais. Na manhã de quarta-feira (26), com parte da Rua da Praia livre de ambulantes, os policiais conseguiam visualizar melhor o vaivém de pessoas em toda extensão da via.
— Muitos delinquentes usam essa poluição visual para se esconder. Roubam, saem correndo, trocam de roupa e a pessoa não reconhece mais. Faz a ação usando uma jaqueta preta, em dois minutos tira e veste uma camiseta amarela. A gente sabe que isso acontece, mas a vítima, não.
Após ser assaltada no bairro Santana por três homens, ser agredida e ir parar no Hospital de Pronto-Socorro (HPS), a dona de casa Camila Badaraco Guglielmi, 42 anos, circula no Centro com celular e carteira dentro da roupa. O crime ocorreu há cerca de 10 anos, mas a cena ainda é presente na memória da porto-alegrense. Na bolsa, quase vazia, apenas álcool gel e niqueleira.
O isolamento afeta diretamente esse resultado, mas também há maior visibilidade do policiamento e da vigilância. Aquele que comete roubo ou furto fica mais fácil de ser localizado e identificado, também está mais visível.
AJARIBE PINTO
Diretor substituto da Delegacia de Polícia Regional de Porto Alegre
— Aquilo foi um trauma para mim, eu não quis entregar o celular e me agrediram, fiquei toda machucada. Desde então não coloco nada de valor dentro da bolsa — descreve Camila.
Na manhã a última quarta-feira, GaúchaZH a abordou quando viu que ela estava fazendo uma ligação enquanto caminhava na Esquina Democrática. Camila garantiu que se tratava de uma excepcionalidade:
— Estava ligando para o meu pai, que está comigo mas perdi de vista. Aí me assustei. Caso contrário, entro em algum estabelecimento para mexer no telefone ou atender ligação.
Orientações de segurança
- Evite se deslocar por lugares desertos ou mal iluminados
- Mantenha-se alerta em todo trajeto a pé, principalmente ao ingressar no seu veículo
- Cuidado na saída do trabalho e de bares e restaurantes
- Evite ostentar celular, cordões, relógios, joias e dinheiro
- Ao utilizar mochilas, certifique-se que os bolsos estejam fechados. Se tiver zíper, se possível, use cadeado
- Ao circular com mochilas e bolsas, traga-as para a frente do corpo, com a mão sobre zíper
- Bolsa apoiada em um ombro por alça lateral pode ser facilmente levada
- Não use celulares nem fones de ouvido enquanto estiver caminhando
- Não utilize celular pendurado na bolsa ou na roupa
- Transporte carteiras e celulares nos bolsos da frente
- Se for vítima de assalto, não reaja. Além do criminoso poder estar armado, em geral assaltantes agem acompanhados
- Se estiver na rua, em local que considera de risco, para utilizar o celular entre em algum estabelecimento, como uma loja