Morta ao lado do namorado, Willian Dutra da Silva, 31 anos, na noite de quarta-feira (15) no bairro Passo D'Areia, em Porto Alegre, Gabriéli Camargo de Miranda, 26 anos, havia se formado em Direito há pouco mais de um ano e sonhava em ser policial civil.
Natural de Fontoura Xavier, no norte do Estado, cresceu na comunidade da Picada Fernandes, uma localidade isolada do município e com pouco acesso a internet, onde a família criava animais e abelhas. Filha de professora aposentada da rede municipal e de um agricultor, saiu de casa aos 18 anos para estudar.
Na Capital, entrou na universidade, morou na casa de duas tias e trabalhou como atendente de farmácia. Aos finais de semana, e especialmente no período de pandemia do coronavírus, ia ao Interior visitar os pais e o irmão mais velho. Por familiares, é descrita como uma jovem discreta, reservada e que gostava do campo.
Agora, investigadores da 3ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Passo (DHPP) estão atrás de respostas para o duplo homicídio que tirou a vida do casal na Zona Norte.
— Ela é uma família muito humilde. Os pais lutaram muito para pagar a faculdade dela. Ela sempre quis ser policial, chegou a fazer o último concurso mas não passou. Era muito apegada à família e a terra dela, gostava muito de estar com os pais. Veio para a cidade grande para melhorar a qualidade de vida dela e da família — conta o primo Marcelo Barcellos.
Gabriéli e Silva namoravam há dois anos, mas moravam juntos há poucos meses. Natural de Porto Alegre, Silva era pensionista do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e foi sepultado em Alvorada, na Região Metropolitana. GaúchaZH tentou contato com familiares dele, que optaram por não conversar com a reportagem.
O casal foi morto em uma sala comercial de um prédio na Rua Tupi, no bairro Passo D'Areia. Segundo a Polícia Civil, o local do crime é usado por garotas de programa para encontros. À frente do caso, o titular da 3ª DHPP, Luis Antônio Firmino, afirma Silva agenciava prostitutas no local.
No dia anterior às mortes, na terça-feira (14), o casal registrou uma ocorrência por lesão corporal na 9ª Delegacia de Polícia. De acordo com o delegado, Gabriéli teria se desentendido com uma garota de programa e acabou sendo cercada por 10 outras garotas, quando foi agredida. Silva teria tentado interferir para defendê-la, e também acabou agredido.
O local do crime, segundo o investigador, é uma sala comercial com várias divisórias. Três testemunhas já foram ouvidas e a polícia procura as garotas de programas que estavam na sala comercial no momento dos disparos e teriam presenciado o crime.
— Estamos confirmando que a motivação foi a briga. Chegaram para matar o Willian, que teria batido em uma das meninas no dia anterior. Quando começaram a atirar, Gabriéli vem ao encontro dele e os criminosos percebem que é a sua namorada. E atiram nela também. Tinha várias meninas dentro da sala 306, que ele gerenciava, no momento do crime. Ainda tem muita gente para ser ouvida, mas, primeiro, estamos focando nas testemunhas que estavam no momento do crime, que são as mais importantes. Depois, também vamos ouvir também os familiares — descreve o delegado.
Firmino explica que o motivo do desentendimento que antecedeu os assassinatos ainda não está claro. O delegado não descarta a possibilidade de que o crime tenha sido encomendado:
— Parece que foi uma discussão relacionada ao trabalho das garotas de programa. Até o momento, não há nenhum indício de envolvimento com tráfico de drogas.
A polícia segue em buscas de câmeras de segurança que podem ter flagrado os passos dos criminosos. A dupla ainda não foi identificada.