Para 51 vítimas de assassinato no Rio Grande do Sul no primeiro semestre deste ano, a sentença foi o fato de ter nascido mulher. Ao contrário da maioria dos indicadores, onde o Estado conseguiu reduzir a criminalidade, os feminicídios — que são as mortes de mulheres em contexto de gênero — ainda representam desafio. Houve acréscimo de 24,4% — no mesmo período de 2019 foram 41. Os dados foram divulgados na manhã desta quinta-feira (9) pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) do RS.
Desde o início do ano, os feminicídios já vinham apresentando elevação no Estado. Somente no período de janeiro a maio, o RS tinha superado o total de casos registrados no primeiro semestre do ano passado. Março teve o maior número de casos, com 12 feminicídios (confira abaixo mês a mês). Com o período de distanciamento social, como forma de tentar combater a pandemia do coronavírus, essa preocupação ficou ainda mais acentuada. Isso porque as mulheres podem ter mais dificuldade para procurar ajuda e denunciar seus agressores.
Campanhas foram lançadas nos últimos meses como forma de tentar garantir que as vítimas tenham mais possibilidade de pedir ajuda, inclusive em estabelecimentos, como farmácias, entre elas a Máscara Roxa e Sinal Vermelho. A Polícia Civil do Estado disponibilizou um número de WhatsApp para receber informações de casos de violência contra a mulher: (51) 98444-0606. Os registros também podem ser feitos por meio da Delegacia Online. A SSP mantém ativa a campanha Rompa o Silêncio, divulgando nas redes sociais e em intervalos da TVE os números para denúncia de casos de violência contra a mulher.
Em entrevista ao Atualidade, da Rádio Gaúcha, o vice-governador e secretário da segurança Ranolfo Vieira Júnior analisou o número de casos mês a mês. Afirmou que, apesar da preocupação que há com o distanciamento, o aumento se concentrou nos primeiros meses do ano.
— Tivemos um janeiro muito violento, fevereiro também, em março se manteve o mesmo número, abril tivemos aumento novamente. Em maio e junho, dois meses seguidos dentro da pandemia, houve redução dos feminicídios. Então não se pode afirmar que o distanciamento social, que as pessoas estarem em casa, tenha contribuído para esse aumento. O aumento significativo se deu no momento em meses que não se vivenciava a pandemia. Estamos buscando essa explicação constantemente — afirmou.
Homicídios e roubos caem
Além dos feminicídios, foram divulgados outros indicadores na manhã desta quinta-feira. Um dos destaques foram os homicídios, que tiveram redução de 8,7%% – foram 901 pessoas assassinadas no primeiro semestre no RS contra 987 no mesmo período do ano passado. O total de vítimas em junho passou de 160 no ano passado para 125 neste ano, o menor para o mês desde 2009, quando foram 123 mortes.
Entre esses 125 óbitos em junho no RS, 16 foram de presos que tiveram liberdade concedida em atendimento à recomendação do Conselho Nacional de Justiça — 12,8% do total. Este é um dos fatores que o governo do Estado cita como um dos motivos que impactam nos homicídios. Na Capital, também houve redução dos homicídios no semestre — de 175 para 149 — uma queda de 14,9%.
Os latrocínios, que são os assaltos nos quais há morte da vítima, também tiveram redução de 12,8% — de 39 casos para 34 vítimas em 2020. É o menor acumulado desde 2009, quando houve 29 latrocínios nos seis primeiros meses. O secretário destacou alguns fatores que levaram a essa queda, como o programa RS Seguro, a integração entre as forças policiais e o uso da inteligência. Apontou ainda o fato de que, no mês de junho, Canoas, Pelotas e Gravataí, não tiveram nenhum registro de homicídio.
— Tivemos um pico da criminalidade no ano de 2017. Em 2018, começa uma redução e essa redução se acentua a partir de 2019 e mais ainda nesse primeiro semestre de 2020 — afirmou Ranolfo.
Confira a entrevista na íntegra do vice-governador:
Outro destaque positivo nos indicadores fica por conta da redução dos chamados crimes patrimoniais, como roubos, furtos em geral e também de veículos. Todos esses indicadores tiveram queda no primeiro semestre. Os roubos de veículos tiveram redução de 19,8% em relação aos primeiros seis meses de 2019, passando de 6.045 ocorrências para 4.850 – 1,1 mil casos a menos. Da mesma forma, os ataques a bancos, que também já vinham reduzindo significativamente nos últimos meses, caíram pela metade. Somados furtos e roubos, os casos reduziram de 59 para 29 (- 50,8%).
Em relação aos crimes patrimoniais, Ranolfo destacou as ações policiais, com identificação de autores e desarticulação de grupos criminosos, além do trabalho que vem sendo realizado nos anos anteriores, mas considerou que o distanciamento também tem impacto nos indicadores.
— Não tenho dúvida de que o distanciamento social acaba influenciando um pouco. Se tem menos veículo circulando, teremos menos roubo, se tem menos pedestre, tem menos roubo de pedestre. Mas é isso vem desde 2018, de forma crescente. Não é algo extraordinário na pandemia — disse.
Alguns feminicídios em junho
Guaíba: em 23 de junho, a motorista de aplicativo Jennifer Graboski, 25 anos, foi morta a facadas dentro do carro em um posto de combustíveis. Para a polícia, o ex-companheiro dela, Richard Adriano de Oliveira Silveira, 24 anos, com quem ela tinha uma filha de três anos, foi o autor do crime. Eles estavam separados e ela tinha obtido medida protetiva contra ele. O corpo do suspeito foi encontrado no Guaíba dias depois. Para a polícia, ele se suicidou após o crime.
Santana da Boa Vista: uma menina de 12 anos foi morta, após ser estuprada por um vizinho, no dia 10 de junho. A criança tinha ido ao local para procurar por uma costureira, quando foi atacada e estrangulada. O corpo foi localizado dentro de um guarda-roupas. Preso, Doglas de Oliveira, 29 anos, confessou o crime à polícia, mas negou a violência sexual (comprovada pela perícia).
Rio Grande: Ronaldo da Silva Martins, 19 anos, foi preso por suspeita de matar a mãe e a sobrinha de 10 meses em Rio Grande, no sul do RS, em 10 de junho. Ele já havia sido preso por histórico de violência doméstica, em outubro do ano passado, quando tentou arrancar a orelha da companheira, grávida de sete meses. Lizete Gomes Da Silva, 75 anos, mãe do rapaz, foi morta com uma pá. O bebê chegou a ser socorrido, mas não resistiu. A polícia suspeita que Martins estivesse sob efeito de drogas. Em depoimento, ele não soube explicar o que tinha feito.
Onde pedir ajuda
- - Disque Denúncia 181
- - WhatsApp (51) 98444.0606
- - Denúncia Digital 181, no site da SSP (clique aqui)
- - Emergências pelo 190 (Brigada Militar)
- - Disque 180