Aos poucos, no início da tarde desta quinta-feira (7), as janelas dos quatro andares do Palácio da Polícia, no bairro Azenha, em Porto Alegre, começaram a ser ocupadas por policiais, com máscaras de diferentes cores. Olhares e ouvidos atentos para o mesmo lugar: o pátio interno. O estacionamento, de onde partem viaturas para atender crimes, transformou-se temporariamente em palco para sete músicos. A apresentação instrumental realizada pelo Grupo Empire foi a forma como a Polícia Civil encontrou para agradecer as mães, que seguem trabalhando em período de distanciamento social, e quebrar a rotina.
Mãe de três crianças, Cristiane Ramos foi uma das policiais que garantiu lugar à janela para acompanhar o evento musical. No caso dela, junto ao primeiro andar, onde está localizada a Delegacia de Proteção ao Idoso, órgão que coordena. A delegada reconhece que conciliar o trabalho policial aos cuidados com o trio Eduardo, nove anos, Leonardo, oito anos, e Rafaela, três anos, é um desafio diário. E, que se tornou ainda maior, durante o período atual.
— Neste momento difícil, penso que as mães merecem ainda mais ser homenageadas. A polícia não para. E, enquanto isso, todas temos uma vida lá fora. Temos filhos nos esperando em casa, quando voltamos do trabalho. E, agora, com essa rotina toda alterada, também para as crianças, precisamos nos desdobrar ainda mais. Por isso, achei uma excelente ideia da instituição, uma valorização, criar esse momento. Faz com que as mães se sintam abraçadas — descreveu.
A apresentação do Concerto na Janela, como foi chamado, respeitou as regras do distanciamento social, empregado como forma de reduzir a propagação do coronavírus. Por isso, os músicos usavam máscaras, assim como os policiais e a distância foi mantida entre os artistas e a plateia. Mas isso não afetou a apresentação, que incluiu no repertório canções como Eu Sei Que Vou Te Amar, de Vinicius de Moraes e Tom Jobim, Over The Rainbow, de Harold Arlen (tema de O Mágico de Oz), e Como é Grande o Meu Amor por Você, de Roberto Carlos. Ao fim de cada música, eram ouvidos os aplausos.
Mãe das gêmeas Catharina e Roberta, de oito anos, a escrivã Rosane Raphaelli era uma das atentas na plateia improvisada. A policial elogiou a ideia da instituição de buscar uma homenagem sensível para as policiais, mas se empolgou ainda mais ao descrever as duas filhas.
— Achei uma iniciativa linda. Totalmente diferente, muito bonito, elegante. As mães sempre amam ser homenageadas. As minhas filhas são tudo para mim. São as meninas mais fofas do mundo. Um presentão de Deus — disse, emocionada.
De uma das janelas do quarto andar, a chefe da Polícia Civil Nadine Anflor desejou felicidades às policiais no Dia das Mães e agradeceu à parceria dos músicos. Primeira mulher a ocupar o posto de chefia na corporação, desde o início do ano passado, a delegada é mãe de Carlos Eduardo, nove anos.
— Agradecemos de coração ao grupo. Por nos permitir fazer essa homenagem diferente. Nesse momento de isolamento, como é bom uma música, como acalma e nos traz alegria, para que a gente continue vivendo e acreditando em dias melhores, que tenho certeza que virão — disse.
Sobre ser mãe e policial, Nadine afirmou que considera uma das suas missões provar que é possível para a mulher estar em qualquer lugar, ainda que por vezes não seja possível estar tão presente no dia a dia, como gostaria.
—Isso não nos faz menos mães. Pelo contrário, criamos filhos mais responsáveis e que têm orgulho das mães. Isso é demais. Ontem (quarta-feira) saí pela manhã e voltei somente à noite. Ele deixou um recado na geladeira —descreveu, mostrando a imagem do bilhete onde Cadu, como é chamado, escreveu que acordou com vontade de dizer que tem "a melhor mãe do mundo".
Os músicos
Formado em 2016, o Grupo Empire é composto por sete músicos profissionais de diversos municípios da Região Metropolitana. O foco é a apresentação em eventos. Eles utilizaram para o concerto, que durou cerca de meia-hora, dois trompetes, um saxofone tenor, um trombone, um saxofone barítono, um sousafone e uma bateria.