Após mais de um mês internada em Porto Alegre, Rafaella Freese da Silva, 10 anos, cruzou com os pais no fim da tarde desta segunda-feira (25) as portas do hospital. A alta era um momento aguardado com ansiedade pela menina. Ela queria rever logo os irmãos.
Sem conseguir movimentar as pernas, após um tiro atravessar a janela de casa, em Viamão, na Região Metropolitana, e atingir sua coluna, a criança ainda precisará enfrentar meses de adaptação e tratamento. Mas a família está esperançosa. Para arrecadar doações e conseguir atender melhor a filha, os pais criaram uma campanha pela internet.
Durante o período em que esteve hospitalizada, Rafa, como é chamada, recebeu os cuidados constantes dos dois. Valeria Freese Salvador, 26 anos, permanecia durante todo o dia com a filha, enquanto o pai, Carlos Rafael Matos da Silva, 29 anos, passava a noite ao lado da menina. Foram dias difíceis, de incertezas. Mas, apesar das dificuldades, a menina não perdeu a alegria.
— Ela está muito bem, diante do que passou. Está muito animada. Estava contando os dias para ir para casa — descreve a mãe.
Para receber Rafa em casa, a irmã de seis anos passou os últimos dias pintando desenhos. Desde que a criança foi hospitalizada, o contato entre as duas só tem acontecido por telefone. A menina estava em casa com os pais e os irmãos quando foi baleada na manhã de 17 de abril. O caçula, ainda bebê, dormia no carrinho na sala, enquanto as gurias assistiam desenho ao lado dele. Quando os disparos tiveram início na rua, Rafa tentou se refugiar no quarto dos pais. Um dos disparos atravessou a janela do cômodo. O tiro transfixou a coluna e o pulmão da garota.
Desde então, a recuperação vem acontecendo aos poucos. Valeria conta que, apesar de a filha continuar sem o movimento das pernas, ela tem apresentado boas evoluções. Já consegue manter o equilíbrio e a sensibilidade melhorou. Após deixar o hospital, os exercícios diários da fisioterapia contarão com o auxílio dos pais. Inicialmente, a criança retornará à casa de saúde uma vez por semana, para consultas.
— Creio que estamos indo bem. Ela tem tido uma boa recuperação — diz Valeria.
Após o episódio violento, a família abandonou a moradia em Viamão. Alugaram uma nova casa, onde Rafa permanecerá agora com a família. Como os pais estão desempregados no momento e precisam manter a atenção com a filha, decidiram lançar uma vaquinha online para arrecadar doações (acesse aqui). O objetivo é reunir R$ 15 mil para custear o transporte e as adaptações na casa para receber a criança — até as 17h desta segunda-feira tinham sido reunidos R$ 3,9 mil.
Rafa agora também encontrou outra forma de se entreter. Lançou um canal no Youtube, onde se diverte postando vídeos. Esses primeiros foram produzidos ainda dentro do hospital. O que não impediu a desenvoltura da pequena. No mais recente, a menina aparece se maquiando e dando dicas aos seguidores.
— Mesmo nessa situação, ela é uma criança que nos passa algo muito bom. Queremos que ela fique confortável e que possa ser independente. Possa ir à escola, brincar, seguir a recuperação dela, mas também ter a vida mais normal possível. Essa é a nossa prioridade no momento. E a vaquinha foi feita em prol de tudo isso — afirma a mãe.
Investigação
Segundo o delegado Guilherme Calderipe, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Viamão, dois suspeitos foram presos até o momento. O mais recente foi um homem, de 30 anos. Ele foi detido pela Brigada Militar, em 18 de maio, por receptação de veículo roubado. Com ele, foi apreendida pistola 9 milímetros — mesmo calibre usado no tiroteio que atingiu a criança.
Ao saber da prisão, a equipe da DHPP passou a investigar o suspeito, que acabou reconhecido como um dos autores do tiroteio. Ele teve prisão preventiva decretada pela Justiça. Os policiais seguem tentando identificar os outros envolvidos, já que seriam pelo menos sete criminosos. Outro suspeito já havia sido preso no dia 10 de maio.