O carinho que Rafael Mateus Winques, 11 anos, nutria pela mãe, Alexandra Dougokenski, 32 anos, foi demonstrado em um vídeo gravado em maio de 2019, quando o menino diz que a voz de sua mãe o fez sorrir pela primeira vez. A atividade feita em sala de aula fazia parte de uma homenagem pelo Dia das Mães.
A declaração foi gravada pouco mais de um ano antes da mãe ter confessado à Polícia Civil, na segunda-feira (25), ter assassinado o filho, que estava desaparecido por 10 dias em Planalto, no norte do RS, de maneira acidental. O Instituto-Geral de Perícias (IGP) indicou que Rafael foi morto por asfixia, enquanto Alexandra diz ter dado remédio ao menino.
Na época, a turma do 5º ano do Instituto Estadual de Educação Padre Vitório, onde Rafael estudou por três anos, foi provocada pela professora Ladejane Ravágio a criar versos para suas mães baseados em um poema que a educadora trouxe.
Em um cartão, Rafael escreveu:
“A voz da minha mãe é linda e com muito amor e carinho. E foi essa voz que me fez sorrir pela primeira vez. As mãos de minha mãe são lisas e macias como um algodão. As lágrimas de minha mãe são doces como o mel. A vida de minha mãe foi difícil para criar eu e meu irmão, mas ela conseguiu. Obrigado, mãe.”
— Fica claro o amor e o carinho dele pela mãe. Ele não escondia isso. São palavras dele inspiradas no poema — diz a professora, que lecionou para Rafael em 2019.
Cada aluno levou fotografias das suas mães para serem coladas em um cartaz, que aparece no fundo do vídeo. A ideia era que os estudantes criassem o poema com base nas características de cada mãe. O vídeo de cada aluno, gravado por Ladejane, foi publicado no Facebook da professora na época, onde as mães assistiram. A professora lembra o carinho com que o Rafael tratava o retrato de Alexandra:
— Eu me recordo que todos trouxeram a foto da mãe. Eu elogiei todas, é claro. Mas a reação do Rafa, quando eu disse: “Nossa, Rafa, tua mãe é bonita”, ele abriu um sorrisão largo. Do jeito tímido dele, mas com um olhar de paixão pela mãe dele. Foi diferente da atitude de todos os outros. Ele abriu um sorriso de coração.
O vídeo reforça o que dizem familiares, amigos e professores de Rafael: Alexandra era uma referência para o filho. Rafael era obediente, não alterava sua rotina sem consultar a mãe. Os bichos de estimação do menino, o gato Luck e a galinha Felipa, não entravam em casa por ordem de Alexandra. Amiga de Rafael, Isis Natali, 10 anos, afirma que o garoto era um bom confidente mas pouco falava de si mesmo:
— Ele parecia que não confiava muito nas pessoas, só na mãe dele.
Alexandra nunca despertou desconfiança na comunidade escolar. Levava o filho todos os dias à escola, comparecia às reuniões. Tanto Rafael quanto o irmão estavam sempre limpos e tinham bom comportamento.
— São crianças que nunca deram problema, nunca foram para a sala da direção. A mãe não levantava suspeita nenhuma — afirma a diretora da escola, Maria Cristina Rossi.