Passados quase seis meses da Operação Lamanai, da Polícia Federal, que resultou na prisão de sócios da Unick, clientes seguem sem qualquer perspectiva de receber os valores investidos. Recentemente, em razão da pandemia de coronavírus, o presidente e diretores da empresa que atuava no mercado de criptomoedas foram soltos. Conforme relatório da PF, a Unick deve cerca de R$ 12 bilhões a seus clientes. O número de vítimas, no entanto, é incerto.
O processo criminal contra 15 pessoas está com os prazos suspensos devido à pandemia de coronavírus. Audiências marcadas para ouvir testemunhas foram canceladas. Uma associação de clientes foi formada e tenta ingressar na ação como assistente de acusação do Ministério Público Federal (MPF). Em primeira instância, o pedido foi negado. O recurso aguarda julgamento pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4).
— Queremos ingressar como assistentes de acusação para pedir a condenação deles (dos réus) pelos crimes que cometeram. Desde o início, entendemos que os sócios e diretores da empresa estavam cometendo ilícitos — sustenta o advogado da associação, Demetrius Teixeira, que defende o aditamento da denúncia para incluir o crime de pirâmide financeira.
Além da condenação criminal, o advogado também defende a reparação do dano financeiro aos clientes que ficaram sem o dinheiro investido.
Vítimas
O motorista Charles da Silva Morel, de 43 anos, conta que dois anos antes da operação da PF passou a se interessar sobre investimento em moedas virtuais. Diz que pessoas próximas "passaram a fazer negócio com isso e se dar bem".
— Vendi o meu carro, que valia R$ 12 mil, por R$ 7 mil para poder investir na Unick. E ainda peguei mais R$ 4 mil da minha tia e coloquei na Unick também — relata o motorista, ao dizer que no início chegou a ganhar o percentual de ganhos prometido.
A empresa prometia até 30% de lucro aos investidores.
— Hoje a Unick me deve mais de R$ 30 mil — conta Morel, ao lembrar que um mês antes da operação da PF, convenceu a mãe, que contraiu um empréstimo de R$ 10 mil, e uma amiga, com aporte de R$ 5 mil, a investirem na empresa.
Supervisor de vendas em Içara, Santa Catarina, Samuel Cruz de Souza, de 25 anos, é mais uma vítima. Perdeu um carro na tentativa de lucrar com a Unick.
— Resolvemos vender o nosso carro e botar R$ 40 mil. No primeiro mês, veio o valor normal (o lucro). A gente sacou. No segundo mês, aconteceu o que aconteceu. Fechou. A minha mulher entrou em desespero, porque era a única coisa que a gente tinha — diz Souza, ao revelar que a esposa passou a fazer tratamento psicológico desde que os bens e valores vinculados à Unick foram bloqueados.
Todos os bens da empresa e de seus sócios estão bloqueados no processo criminal que tramita na 7ª Vara Federal de Porto Alegre movido pelo MPF contra 15 pessoas.
Na prática, os credores da Unick só deverão ser indenizados em caso de condenação dos sócios e depois do trânsito em julgado da ação penal. Valores poderão ser liberados antes somente se esse for o entendimento do juiz titular da ação penal.
GaúchaZH aguarda retorno do escritório de advocacia que defende a empresa.