Às 6h12min desta terça-feira (3), ainda amanhecia quando um helicóptero sobrevoou o complexo prisional de Charqueadas, na Região Carbonífera. Era o sinal de que em minutos seria dado início ao transporte para penitenciárias federais de 18 presos considerados líderes de organizações criminosas. Do outro lado dos muros, os apenados já haviam sido conduzidos para dentro de vans. Escoltados por agentes armados, partiriam em direção a um parque na área central do município e, na sequência, para a Base Aérea de Canoas – de onde seria feito o transporte para as casas fora do Rio Grande do Sul.
Cinco minutos após as aeronaves começarem a cruzar o céu, quatro batedores da Brigada Militar, pilotando motocicletas, deram início à movimentação do comboio de veículos. Foi necessário quase o mesmo tempo para percorrer os 4,3 quilômetros entre o complexo prisional e a primeira parada: o Parque Adhemar de Souza Farias. No trajeto, policiais rodoviários isolavam os principais acessos da RS-401 para permitir que os veículos da operação se deslocassem com mais agilidade.
No gramado do Parcão, repousavam seis helicópteros — três da Brigada Militar, dois da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e um da Polícia Civil. Nos arredores, atiradores de elite caminhavam de um lado para o outro, com os rostos cobertos e olhares atentos. O isolamento permitiu somente que policiais, chefes da área da segurança e imprensa se aproximassem da área de onde seriam transportados os detentos. Não houve, como costuma acontecer em eventos que geram curiosidade, aglomeração de moradores. Poucos acompanhavam o movimento, de longe.
Vinte e cinco minutos após os presos deixarem o complexo prisional, às 6h42min, a primeira aeronave — um Koala da Brigada Militar — decolou, levantando poeira, com um tripulante na porta. A bordo, sob escolta de quatro policiais, estava o primeiro apenado a caminho da Base Aérea. Assim que o segundo levantou voo, bombeiros caminharam até o ponto de decolagem e, com uma mangueira, molharam o gramado. A ação previa o controle do acúmulo de poeira para não atrapalhar pousos e decolagens. Seriam necessários dez minutos para remover a primeira leva de seis presos. Cada um passaria a ser embarcado em uma aeronave, que saía na sequência.
Após o preso descer na base aérea, era preciso fazer o trajeto de retorno, em tempo cronometrado. Quando o primeiro helicóptero aterrissou de volta no parque, um dos policiais desembarcou com uma viseira escura na mão. A máscara preta na sequência foi entregue a outro agente. Este policial caminhou na direção das vans estacionadas ao lado do Parcão. Lá dentro, a venda foi colocada sobre o rosto de outro preso. No trajeto até as aeronaves, os apenados precisaram ser guiados. A estratégia pretendia impedir que eles tivessem contato com o mundo externo e conseguissem acompanhar a operação montada para a transferência. A viseira só seria removida quando o helicóptero já estivesse no ar.
Também como estratégia de segurança, para além dos 1,3 mil policiais empregados na ação, a vigilância da operação se deu por meio do uso de câmeras. Junto ao parque, foi instalada uma base móvel da Brigada Militar, com uma plataforma de observação elevada. Do alto, câmeras captavam em tempo real imagens em 360 graus, que eram transmitidas para equipes na Secretaria da Segurança Pública (SSP), em Porto Alegre. A intenção era manter vigília sobre qualquer possível movimentação anormal.
Quando metade dos presos já havia sido removida, o vice-governador e secretário da Segurança Pública do Estado, Ranolfo Vieira Júnior, deslocou-se do grupo de autoridades, ao lado do parque, e se aproximou da imprensa. Ele acompanhava a Operação Império da Lei desde a madrugada, quando chegou ao complexo prisional.
— Está indo rápido. Assim (com helicópteros) é bom também porque não impacta no trânsito de Porto Alegre e da Região Metropolitana — comemorou, em alusão ao avanço alcançado em comparação com a operação de julho de 2017, quando 27 detentos foram transferidos para penitenciárias federais. Daquela vez, o comboio até a Base Aérea foi realizado por via terrestre.
Usar as aeronaves, além de agilizar o transporte, foi a forma encontrada para minimizar a possibilidade de que qualquer etapa da megaoperação saísse fora do rumo. Embora os jornalistas estivessem registrando a movimentação desde a madrugada, o acordado por questão de segurança era que a operação só fosse divulgada após o embarque do último apenado, o que ocorreu às 8h20min.
Pouco mais de duas horas após deixaram o complexo prisional, os dois últimos apenados foram retirados de Charqueadas em helicópteros da PRF. Da Base Aérea, onde são mantidos em salas isoladas e passam por exame de corpo de delito, partirão ainda durante esta manhã para as penitenciárias federais.
Nessa estratégia de combate às organizações criminosas, como forma de reduzir ainda mais os indicadores de segurança, a operação realizada nesta terça-feira é um dos passos alcançados até agora sem percalços. Com o isolamento das lideranças, o Estado volta agora a atenção para um possível reflexo do lado de fora das cadeias.
— Agora tem que segurar a rua. Essa segunda etapa é pior — reconheceu Ranolfo, pouco antes de se afastar dos jornalistas.