Um dia após a cidade de Paraí, na Serra, literalmente ser acordada em meio a uma intensa troca de tiros entre polícia e criminosos, que resultou em sete mortes, moradores ainda não retomaram a tranquilidade. A calmaria nas ruas, habitual no pequeno município de 7.600 habitantes, esconde um sentimento de angústia ainda latente.
– A gente fica com receio, deita na cama e pensa “será que às 2h vai acontecer de novo?” – relata o funcionário Maurício Dall’Agnol, 32 anos, que vive a poucos metros de um dos dois bancos invadidos na madrugada de sexta-feira (6).
Na manhã deste sábado (7), as agências do Banco do Brasil e do Sicredi recebiam reparos nas fachadas, estilhaçadas inicialmente a marretadas e posteriormente pelos disparos da Brigada Militar e dos bandidos. Quatro criminosos morreram em um terreno aos fundos do prédio do Sicredi e três foram alvejados antes de sair do Banco do Brasil. Somente um está identificado até o momento: definido pela polícia civil como o “explosivista” do grupo, Eroni Francisco Tauchen Lourenço, 44 anos, carregava nas costas uma mochila com seis quilos de explosivos.
No entorno dos prédios, a curiosidade era vista por quem observava os resquícios do confronto. Paredes perfuradas a bala viraram atração turística, e estilhaços espalhados pelo passeio eram fotografados por quem acordou cedo para visitar os dois locais, distantes não mais do que 100 metros. Em duas clínicas dentárias, tapumes de madeira substituem provisoriamente as aberturas destroçadas.
Enquanto observa sacos de lixo e uma caixa de papelão com parte da porta de vidro destruída, o bancário aposentado Francisco Emílio Migliorini, 63 anos, relembra da tensão que vivia quando ainda atuava nos terminais de atendimento, desejo dos criminosos. Ao seu lado, o engenheiro agrônomo Otávio Dallagnol, 45, explicava que os filhos de 10 e 13 anos pediram para dormir com os pais.
– Eles se assustaram, saíram da cama. Foi uma madrugada difícil na sexta, correram pra sala se escondendo, acho que por isso não conseguiram dormir sozinhos – relata.
Dono do hotel Vizzion, Cláudio Klaus, 56 anos, teve de trocar a posição dos móveis em seu quarto. A filha colocou o colchão aos pés de sua cama.
– E não vai pensar que ela vai perder o medo da noite pro dia, não – avalia.
Uma moradora que teme se identificar conta que parentes foram ao velório de jovens mortos, celebração realizada em Guaporé. A polícia confirma que dois dos sete mortos viviam ou atuavam nesse município da serra gaúcha.
– Imagina, os pais dele nem deviam saber no que haviam se metido – comenta, ao sair para a caminhada matinal, não sem antes desejar bom dia a um casal que sorvia o chimarrão em cadeiras colocadas na rua, na esperança da volta de dias sem violência.