Acompanhada de advogados e seguranças, a mãe de Dionatha Bitencourt Vidaletti, 24 anos, deixou a 4ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) no início da tarde desta segunda-feira (3). Ao longo das duas horas em que prestou depoimento, chorou diversas vezes ao falar do filho. Emocionada, a mulher de 48 anos relatou à investigação como aconteceu, em sua versão, o crime que resultou na morte de três pessoas da mesma família na zona sul de Porto Alegre. Ela estava na companhia do rapaz quando ele cometeu o triplo homicídio durante uma briga de trânsito.
Ao contrário do que o filho havia relatado aos policiais na terça-feira (28), quando foi preso, a mãe confirmou que a pistola de 9 milímetros usada no crime era da família dela e não das vítimas. A arma foi adquirida pelo pai de Vidaletti no dia 10 de janeiro — 16 dias antes do crime. A polícia já havia descoberto a compra do armamento por meio de um depoimento e de uma nota fiscal.
A mulher relatou à polícia que a Ecosport da família Vidaletti estava estacionada às margens de uma estrada, no Lami. O Aircross onde seguia Rafael Zanetti Silva, 45 anos, a esposa Fabiana Silveira Innocente Silva, 44 anos, os dois filhos do casal, entre eles Gabriel Innocente Silva, 20 anos, e a namorada dele colidiu contra o carro. Como a família não parou, Vidaletti decidiu seguir atrás deles. A mãe contou que tentou impedir o filho de persegui-los e que precisou embarcar rapidamente no banco traseiro para conseguir acompanhá-lo. Ela alega que não havia percebido que o filho estava com a arma do pai dentro do carro. Com esta pistola, o rapaz atirou contra Rafael, Fabiana e Gabriel, que não resistiram.
Sobre o momento do crime, a mulher relatou que, quando conseguiram interceptar a família na Estrada do Varejão, houve uma discussão. Ela contou que voltou até a Ecosport, pegou a arma que estava sob o banco do motorista e atirou para o alto, para cessar a briga.
— Ela confirma que pegou a arma. Que o filho teria trazido junto consigo no carro (Ecosport). Embora ela diga que no primeiro momento não tinha ideia de que ele tivesse levado a arma — afirma o delegado Rodrigo Pohlmann Garcia, da 4ª DHPP.
Questionada sobre a entrega dessa arma à polícia, a mulher disse que foi deixada no local do crime. No entanto, moradores que se aproximaram após os disparos não a encontraram. Sobre o fato de o filho ter afirmado que a pistola era de Rafael, a mãe disse à polícia que acredita que ele quis proteger o pai, já que a pistola está em nome dele.
— Ela diz que não sabe porque o filho teria feito esse relato. Acredita que ele tenha dito isso para que o pai não fosse culpado, porque ele seria o dono da arma — diz o delegado.
Por que não identificamos a mãe do atirador?
A mulher de 48 anos, mãe do autor confesso do triplo homicídio em briga de trânsito na zona sul da Capital, até este momento não é investigada pela Polícia Civil por participação nas mortes. Ela é tratada como uma testemunha do crime. Portanto, GaúchaZH preserva sua identidade.
Agressões
Assim como o filho, a mulher relatou que foi agredida pela família e que, por isso, o rapaz atirou contra os três. Alegou que, após efetuar um disparo para o alto, a briga cessou e ela retornou para o carro. Conta, no entanto, que neste momento teria passado a ser vítima de golpes, mas não soube informar quem teria cometido as agressões.
— Afirmou que, num primeiro momento, não quis dar a arma para o filho. Dionatha acaba retirando a arma da posse dela. E, depois disso, ela vai para o carro. Acaba sentando do lado do carona. Em dado momento, ela não consegue se recordar, se foi a vítima Fabiana ou Rafael, que lhe agride. Informa que teriam pego no pescoço dela e nos cabelos. E ela teria sofrido certa agressão. Depois disso ela escuta os disparos — relata o delegado.
Conforme o policial, o relato de testemunhas e um áudio obtido pela polícia no qual Fabiana telefona para a Brigada Militar e avisa que há uma mulher armada no local contradizem parte do depoimento da mãe de Vidaletti. Não haveria tempo entre o momento da ligação, as supostas agressões e os disparos, que foram captados no áudio. O delegado entende que as vítimas chegaram a ir na direção da Ecosport e, segundos depois, aconteceram os tiros.
— Entendemos que a Fabiana e o Rafael foram na direção da mãe do autor, que eles teriam se aproximado, mas não daria tempo para uma agressão. Logo em seguida, já houve os disparos — diz Pohlmann.
Ainda conforme o delegado, não há elementos que indiquem a participação da mulher no triplo homicídio, já que há relatos de testemunhas de que ela teria tentado evitar os disparos.
— Pelo triplo homicídio, o desenho todo que se tem é de que ela não participa efetivamente das execuções. Inclusive, tenta não entregar a arma ao filho. Embora tenha, como assumiu, efetuado o primeiro disparo. Mas o tiro, segundo ela e pelo que foi visto a partir dos depoimentos, seria para, em tese, proteger o filho das agressões que poderiam vir a sofrer. As vítimas, assim que desceram do carro, realmente foram na direção do filho (Vidaletti). Então isso poderia ter assustado a mãe e ela ter pego a arma e efetuados os disparos — afirma o delegado.
A polícia ainda apura se ela poderá, assim como o marido, ser responsabilizada por ter informado o furto da pistola e de duas espingardas. Um dia depois, a família fez boletim de ocorrência dizendo que havia localizado as espingardas. Agora, a mulher relatou que a pistola foi usada no crime e descartada no mesmo dia.
Advogado da família de Rafael, o criminalista Sergio Paulo de Camargo Tarcha também esteve na delegacia e conversou com a imprensa. Em seu entendimento, não houve participação da mulher ouvida nesta segunda-feira nos homicídios:
— Estou convencido de que ela não participou do homicídio. Ela deu um disparo de arma de fogo, mas alega que deu para o alto. A autoridade que preside o procedimento entende que foi para o chão, segundo testemunhas que acompanharam o trágico evento. O Dionatha teria tomado a arma dela. E num novo entrave houve os disparos por parte do Dionatha.
Sobre as agressões que a mulher alega ter sofrido, Tarcha defende que "não há nada que corrobore a versão". Ele disse ainda que com o depoimento da mulher fica esclarecido que Rafael não estava armado.
— Ela admite que era da família.
A polícia pretende concluir a investigação nos próximos dias. Estão sendo confrontados os depoimentos e as provas obtidas ao longo da apuração. Pelo menos 10 pessoas já foram ouvidas pela equipe da 4ª DHPP. Neste cenário, o delegado acredita que não será necessário ouvir o relato do menino de oito anos, filho do casal, que estava no banco traseiro do veículo e presenciou o crime. A namorada de Gabriel, que estava com o menino, prestou depoimento.
— Em princípio não há uma necessidade. Conseguimos construir toda a dinâmica que nos dão elementos suficientes para afirmar como o crime aconteceu — afirmou Pohlmann.