A amizade entre quatro garotos de 13 anos se iniciou no Colégio Estadual Coronel Afonso Emílio Massot, em Porto Alegre, há três décadas. Desde então, os adolescentes cresceram e formaram família, mas a união não se desfez. Os laços só expandiram, pois filhos e esposas também se tornaram amigos. O domingo era para ser mais um dia de confraternização do quarteto e suas famílias, mas terminou no momento mais difícil pelo qual eles já passaram.
Enquanto retornava da festa de aniversário de 18 anos da filha de um dos melhores amigos, Rafael Zanetti Silva, 45 anos, foi morto a tiros ao lado da esposa Fabiana Silveira Innocente Silva, 44 anos, e do filho Gabriel Innocente Silva, 20 anos. A família foi assassinada após um acidente de trânsito pelo condutor do veículo no qual eles colidiram. O homem, que está foragido após ter prisão temporária decretada, não teve nome divulgado pela polícia. Mas GaúchaZH apurou que se trata de Dionatha Bitencourt Vidaletti, 24 anos.
Na manhã de domingo, Paulo Escobar, 45 anos, tomou café com Rafael. Era habitual os amigos se visitarem. Os dois combinaram de ir com as famílias ao aniversário da filha de outro amigo, Márcio Becker, 45 anos. A festa seria realizada em um sítio na zona sul. Rafael foi à comemoração com a esposa, os dois filhos - Gabriel e o caçula de oito anos — e a nora, de 18 anos. Cerca de 50 pessoas participavam do aniversário.
Logo após o almoço, Rafael decidiu retornar para casa. O mecânico, que mantinha uma oficina junto à moradia da família, no bairro Aberta dos Morros, havia agendado horário com um cliente para a venda de um veículo.
— Insistimos para que eles ficassem, pelo menos até cantarmos parabéns. Mas ele tinha marcado para uma pessoa ver o carro às 15h30min. E então foram — recorda Márcio, que também era padrinho de Gabriel.
Às 14h30min, o mecânico deixou o sítio com a família em um Aircross. Logo após eles saírem, Paulo também decidiu ir embora. O sítio não possui sinal de telefone. No trajeto, ele foi avisado por outro amigo que Rafael e a família teriam se envolvido em um acidente. Quando chegou ao local, descobriu que o casal havia sido morto a tiros e que Gabriel fora levado para o hospital. O jovem morreu durante o atendimento médico.
— Me disseram que era um acidente. Nunca imaginei uma tragédia como essa. Ele só queria dar o melhor para a família dele — diz Paulo, que retornou até o sítio e avisou os amigos sobre o que havia acontecido.
Em frente ao Departamento Médico-Legal (DML) de Porto Alegre na manhã desta segunda-feira, onde auxiliavam nos trâmites para liberação dos corpos da família, os amigos estavam incrédulos. O motivo da morte, um acidente de trânsito, era o que causava mais perplexidade. Repetiam inúmeras vezes que tanto Rafael, como Gabriel, poderiam ter consertado o carro, já que trabalhavam com isso. Como o casal não tinha outros familiares próximos em Porto Alegre, os amigos é que ficaram responsáveis pelos cuidados do caçula.
— Ele presenciou tudo. Viu a mãe, o pai e o irmão serem mortos. Não dá para acreditar que isso tenha acontecido. Não vai trazer eles de volta, mas alguma coisa precisa ser feita. Não foi uma vida, foi uma família inteira que foi destruída — emociona-se Márcio.
Os pais de Rafael, que residem em São Paulo, precisaram de atendimento médico ao saberem do que havia acontecido. Os parentes de Fabiana são de Bagé, na Campanha, e se deslocaram para a Capital ao serem informados da tragédia. Ela trabalhava como técnica em radiologia na Unimed Porto Alegre.
Os amigos lembram que Gabriel herdou do pai o fascínio por veículos. O jovem era sócio de uma loja de estética automotiva na Avenida Juca Batista, no bairro Hípica, também na Zona Sul. Na fachada, nesta manhã, havia uma faixa de luto estendida, assim como em outras duas lojas do centro comercial. O jovem planejava se mudar com a namorada para Florianópolis, Santa Catarina, por receio da violência. Nesta terça-feira, deve ser realizada uma homenagem à família no local e depois os amigos seguirão até o cemitério para acompanhar velório e enterro.
— É muito difícil aceitar isso. Éramos mais do que amigos, éramos como irmãos — lamenta Paulo, sobre o amigo Rafael.