João de Deus foi denunciado pela 12ª vez por crimes sexuais durante atendimentos que realizava em Abadiânia (GO). Desta vez, o Ministério Público de Goiás (MP-GO) estende a denúncia a dois guias de turismo, que promoviam excursões até a Casa Dom Inácio de Loyola, onde o médium atendia. Eles teriam acobertado estupros contra duas mulheres do Rio Grande do Sul. As informações são do portal G1.
— Os guias eram coniventes e atuavam energicamente para que elas não interrompessem o "tratamento". Chegavam a dizer que eles também já tinham passado por este processo de "cura", mas que era praticado por outro homem e não João Faria — relata a promotora Renata Caroliny Ribeiro e Silva.
Para a promotora, o MP-GO começa, a partir da denúncia, uma etapa de investigações para apurar uma rede de proteção ligada a João de Deus.
— Nós estamos indo além da responsabilização criminal do João Teixeira de Faria (João de Deus). Nós percebemos que essa rede de proteção atuava energicamente, não só no sentido de serem coniventes, mas também atuavam para que essas vítimas não procurassem a Justiça. Persuadindo-as no sentindo de continuarem com a garantia de cura e limpeza espiritual — relata a promotora.
Preso desde dezembro de 2018, João de Deus nega ter cometido os crimes. Ele foi condenado, em dezembro do ano passado, a 19 anos e três meses de prisão por abusos sexuais cometidos contra pacientes na Casa Dom Inácio de Loyola, o hospital espiritual que mantinha em Abadiânia. A sentença foi a primeira a ser aplicada por causa das denúncias de violência sexual. O médium já havia sido condenado antes, mas por posse ilegal de arma de fogo. Ele ainda responde a mais 10 ações penais por crimes contra mulheres, uma delas já concluída para sentença.
Conforme o G1, o advogado do médium, Anderson Van Gualberto, afirmou que a defesa ainda não foi intimada sobre a nova denúncia. "De antemão, caso esta denúncia tenha sido desenhada com os mesmos contornos das anteriores, não terá melhor sorte nos tribunais superiores, pois o MP vem fazendo verdadeiro malabarismo jurídico para tentar prevalecer a qualquer custo as imputações criminais inverídicas", completou.
A denúncia foi feita ao Judiciário no dia 26 de dezembro, mas divulgada nesta segunda-feira (13).
Vítimas são gaúchas que viajaram para Goiás
Conforme o portal, a investigação apontou que os abusos, agora denunciados pelo MP, teriam acontecido entre janeiro de 2009 e janeiro de 2011. À época, as vítimas tinham entre 20 e 28 anos.
Os guias denunciados tinham relação próxima com as mulheres, segundo a promotora. Eles atuavam com excursões de fiéis do RS para Abadiânia, que ocorriam mensalmente.
Pela denúncia, durante as viagens, as vítimas reportaram aos guias os abusos, mas, em resposta, teriam ouvido que aquilo fazia parte do tratamento.
— Eles diziam que as ejaculações poderiam ser muito mais fortes que centenas de cirurgias espirituais que essas vítimas poderiam realizar — disse a promotora.