Em meio às festividades do Natal Luz, Gramado, um dos principais cartões postais do Estado, tenta retomar a rotina após fim de semana marcado por sequestros, tiroteios, perseguição, policiais atropelados e cerco de forças de segurança. Até o momento, a polícia conseguiu prender sete dos oito suspeitos de integrar grupo criminoso suspeito de atacar dois empresários da cidade em cerca de 10 dias. O último caso foi registrado na sexta-feira (1º), quando os agentes interceptaram o sequestro.
Ao contrário do fim de semana, quando o barulho das sirenes de viaturas se misturava ao som de músicas natalinas, o clima em Gramado nesta segunda-feira (4) era tranquilo. Em meio ao aguaceiro que caiu sobre a cidade durante todo o dia, viaturas da Brigada Militar cruzavam o município com frequência em direção a Canela, onde o cerco na busca pelo último suspeito foragido segue desde domingo.
Ao circular pelos bairros que circundam o centro de Gramado, ainda é possível verificar o clima de apreensão de parte dos moradores. A maioria diz que é estranho vivenciar um clima desses em meio a uma das épocas com mais movimento de turistas.
Alguns motoristas de aplicativo relataram insegurança em atuar nas regiões mais próximas ao cerco. O delegado regional Heliomar Franco tenta tranquilizar a população.
— Não há mais nenhum criminoso em Gramado — pontuou, em referência ao bando.
No entorno do hotel pousada onde um dos criminosos em fuga sequestrou uma família, no bairro Planalto, a maioria dos vizinhos que viu a ação policial no local evita falar sobre o fato. Uma moradora da mesma quadra, que pediu para não ser identificada, levou um susto com a movimentação policial.
— Era mais ou menos umas sete horas da noite. Escutei uma freada. Fui olhar na minha janela e tinha uns dois três carros de polícia e o pessoal conversando, mas tu não entendia muito bem. Só entendi: "levaram o carro com a família e saíram em direção a Canela" — relatou.
A família e o carro foram abandonados em seguida na altura da Estrada do Caracol após o sequestrador deparar com a Brigada Militar. Desde então, os policiais realizam cerco na área de mata fechada atrás do oitavo suspeito.
Motoristas que passam pela região dão de cara com grande aparato de segurança. Viaturas da BM e agentes policiais civis e militares marcavam presença no terreno, abordando quem passa pelo local. Nem mesmo carros funerários escapavam da ação ostensiva.
Bando com base na Região Metropolitana
O bando que abalou a rotina de Gramado tinha base na Região Metropolitana e experiência em grandes assaltos, segundo a Polícia Civil. Os dois líderes da quadrilha são irmãos e comandam uma oficina mecânica em Sapiranga, no Vale do Sinos. Um deles foi preso durante a fuga e o outro é o suspeito que segue foragido. O delegado Gustavo Barcellos, de Gramado, destacou que os policiais descobriram no domingo um sítio em Glorinha, na Região Metropolitana, que seria usado pelos assaltantes como base. No local, além de objetos roubados em Gramado, os policiais encontraram vasto material explosivo.
— Nesse sítio, nós apreendemos 44 quilos de explosivos, uma quantidade absurda de explosivos, um veículo clonado, que foi usado no resgate do primeiro assalto. Esse carro tinha, inclusive, uma placa de aço atrás, ou seja, uma blindagem, miguelitos, touca ninjas, três coletes balísticos, o cofre do primeiro assalto e outros objetos, vinculados a quadrilha e utilizados em grandes assaltos — explicou Barcellos.
Na ação da última sexta, o bando, conhecido por operar com violência contra os alvos, planejava manter o empresário, que atua no ramo alimentício, como refém, dentro de seu próprio carro e levá-lo até o centro de Gramado, onde uma segunda parte do assalto seria colocada em prática.
— Quando nós interceptamos eles com o empresário e as demais vítimas, estavam se deslocando para Gramado (centro) para buscar mais dinheiro, porque lá no local do crime eles não encontraram o que eles queriam. Não ficaram satisfeitos. Então, eles iam sair dali com as vítimas subjugadas, ir para o centro de Gramado para buscar dinheiro, inclusive com familiares do empresário sequestrado — pontuou Barcellos.
Dois assaltos em cerca de 10 dias
A Polícia Civil começou a acompanhar o grupo após um assalto em Gramado, no dia 22 de outubro, onde os criminosos mantiveram um empresário do ramo moveleiro refém, enquanto roubavam um cofre da residência da vítima. Com base em ações de inteligência, os policiais conseguiram evitar a investida da quadrilha na última sexta-feira.
Os investigadores trabalham com a hipótese de o bando ter recebido informações privilegiadas de pessoas que conheciam a rotina das vítimas, empresários conhecidos na região.
— Nos dois assaltos, eles tinham informações detalhadas das rotinas das vítimas. Então, não há nenhuma dúvida de que eles de alguma forma obtiveram essas informações de pessoas que tinham acesso a isso. Essa investigação não se encerra com essas prisões — destacou Barcellos.
Um dos criminosos também tinha grande conhecimento sobre as vias da região, o que facilitaria a fuga, segundo o delegado regional Heliomar Franco:
— Um desses indivíduos é um profundo conhecedor das rotas alternativas, estradas vicinais da região. Inclusive, ele faz parte de um grupo de jipeiros. E eles rodam pelo interior todo da cidade. (...) Ele se valia dessa proximidade com o pessoal que fazia trilha para conhecer a região e repassar informação para esses indivíduos que vieram praticar crimes aqui em Gramado.