Sanduíches, cucas, bolos e salgadinhos cuidadosamente alinhados em uma mesa de café da manhã. A figura central, a torta, dá a pista do tema da festa: "Salve 11º BPM", diz a decoração em glacê de cor verde, em homenagem ao 11º Batalhão de Polícia Militar.
Policiais e moradores do bairro Jardim Botânico e arredores se dividem entre as delícias colocadas sobre a mesa. A festa, que teve início às 7h30min, é feita para comemorar o reinício da atividade de policiamento na 3ª Companhia do 11º BPM. Após cinco meses em obras e investimento de mais de R$ 100 mil da comunidade, o local ficou apto a receber oito policiais que passam a morar no local.
— Como é bonito o povo se unir. Ficamos muito felizes com o resultado. Na paróquia, na praça, eu e outros tentamos mobilizar o máximo de pessoas possível para ajudar — conta a aposentada e doceira Oliria Allgayer, 70 anos, que cumprimentava os policiais, desejando boas-vindas.
Em 2012, por falta de efetivo, apenas um policial passou a atuar no posto policial localizado no bairro Jardim Botânico. A sede da 3ª Companhia havia sido transferida para o bairro Chácara das Pedras, a cerca de oito quilômetros.
Com o apoio dos moradores da região para a reforma e a chegada de novos policiais, será implantado no local, a partir desta sexta-feira (11), o modelo de policiamento comunitário.
— Os policiais têm grupo de WhatsApp com os moradores do bairro para serem alertados de ocorrências e problemas na região. Ocupando este espaço, por consequência, as viaturas começam a circular mais por aqui, contribuindo para a segurança do bairro. O apoio da comunidade foi essencial para a efetivação desse projeto. Eles estavam ansiosos, e nós também — comemora o comandante da 3ª Companhia, capitão Sérgio Roberto Rocha Machado.
Nos próximos dias, devem chegar veículos adaptados, como vans e bicicletas, que circularão pela região. Com isso, os policiais ficarão posicionados em pontos-chave, escolhidos com base nos indicadores de criminalidade. Além disso, há previsão de que, nos próximos meses, o batalhão tenha acesso a câmeras de segurança de condomínios da região para monitorar ocorrências — as telas para visualização das imagens também serão custeadas pela comunidade.
Nova carreira
No total, são 16 policiais que passam a trabalhar no posto. Oito deles ingressaram em novembro no concurso da Brigada Militar e vão morar no alojamento do posto policial — assim, o projeto é um reinício tanto para os moradores, que voltam a contar com policiamento, quanto para os PMs, que iniciam a trajetória na área da segurança pública.
— A gente sente que estão todos esperando por nós. Quando chegamos aqui, nos cumprimentavam e diziam: "Oi, já chegaram, quando começam?". É legal ter esse apoio — conta o soldado André Rodrigues, 27 anos, natural de Santiago, na Região Central.
É importante vir aqui e ser tão bem recebido. De todos que se formaram, poucos terão o privilégio de fazer parte desse projeto, de estar em um lugar diferenciado.
LUCAS BORGES
soldado da BM
Para o soldado Lucas Borges, 25 anos, ingressar em um local como o posto do Jardim Botânico é um privilégio:
— É importante vir aqui e ser tão bem recebido. De todos que se formaram, poucos terão o privilégio de fazer parte desse projeto, de estar em um lugar diferenciado.
O soldado André Rodrigues, 22 anos, é um dos que enfrentam a maior mudança: além de ser um dos mais jovens, enfrenta a adaptação ao Estado:
— Vim de Brasília para trabalhar com segurança pública aqui. É importante ser bem recebido.
Força coletiva
A ampliação do posto para a recepção dos policiais foi toda custeada por moradores e empresários da região. Foram feitos alojamentos e reforma da cozinha, sala de reuniões, banheiro e rede elétrica, entre outros espaços. O local passou a contar até com uma churrasqueira.
— É um presente que a comunidade está dando para a Brigada Militar. Nunca faltou nada, porque todo mundo sempre estava querendo ajudar o tempo todo. A gente quer ter o policiamento comunitário, quer ter essa relação com a BM — comemora o presidente da Associação Conviver Melhor, o funcionário público Marcos Otton.
O projeto de reforma foi elaborado pelo Instituto Brasileiro de Segurança Pública, em conjunto com profissionais do bairro.
— A gente foi analisar a estratégia da comunidade e ver o que estava faltando. Foi uma bela união — relata o presidente do instituto, Filipe Mansur.
Um grupo de mulheres do bairro se reuniu para costurar parte das roupas de cama usadas pelos soldados. A festa também foi toda planejada por moradores, que levaram os alimentos para o café da manhã.
— Eu sou a moça dos bolos, e me envolvi também na parte de decoração e doações. Mas foi um grande grupo que se uniu para todos os itens, desde a compra de tecidos até a costura e encaminhamento para cá — relata a professora Nara Furlan, 72 anos.
Os policiais, que receberam o carinho da comunidade durante a festa nesta sexta-feira, também ganharam, por volta de 8h30min, um presente inusitado e cheio de afeto: um desenho feito pela pequena Anita Fernandes dos Santos, de sete anos. Ansiosa e envergonhada, ela entregou uma folha de papel em que escreveu, em letras coloridas: "Parabéns, sejam bem-vindos". A obra foi completada por adesivos de corações e rostos felizes colados no papel.
— Eu vinha sempre com o meu pai no fim de semana ajudar a organizar tudo. Estou feliz que os soldados estão aqui.