Segurança

Investigação interna

Milhares de consultas sobre situação da empresa Indeal são auditadas por Secretaria da Segurança do RS

Objetivo é saber quantos servidores públicos consultaram informações sigilosas a pedido dos sócios da firma, investigada por fraude no mercado de bitcoins

Humberto Trezzi

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A Secretaria da Segurança Pública do Estado está realizando um pente-fino no sistema Consultas Integradas, que mostra a situação criminal de suspeitos. O objetivo é verificar quantos policiais checaram, ilegalmente, informações sobre a Indeal, que era investigada pela Polícia Federal por fraude no mercado de bitcoins. Agentes civis e militares são suspeitos de usar dados sigilosos dos computadores da SSP de duas formas: para tentar extorquir os sócios da empresa e, em outra situação, para tentar informá-los e protegê-los, verificando se existiam mandados judiciais contra a companhia, por exemplo.

Pelo menos três policiais são investigados pela PF por suspeita de terem violado sigilo funcional (o acesso ao Consultas Integradas) nas checagens sobre a Indeal. Um deles é o coronel Régis Rocha da Rosa, da BM, que admitiu ter feito consultas a pedido de uma advogada da Indeal. O objetivo seria verificar quem eram possíveis autores de extorsões sofridas pela empresa - eles se identificaram como policiais civis.

O oficial da BM teria sido beneficiado com uma aplicação financeira aberta pela Indeal. Ele disse que aplicou o dinheiro para verificar se o sistema de bitcoins funcionava de forma correta, mas um dos sócios da Indeal, numa mensagem, disse que o coronel foi pago por um "servicinho" prestado à empresa.

Já dois policiais civis, um escrivão e um delegado lotados em Novo Hamburgo, são investigados por suspeita de extorsão contra a empresa. Eles teriam arrancado R$ 170 mil de sócios da Indeal, mediante ameaça de prendê-los.

Mas há suspeita de que mais policiais possam ter acessado os dados sobre a Indeal com objetivos pouco nobres. É, por isso, que está no final uma auditoria determinada pela SSP. Há indícios de que os dados sobre os sócios da empresa foram acessados mais de mil vezes. Isso pode ter sido feito legalmente, por pessoas que investigavam as suspeitas de malversação nas aplicações financeiras da firma, ou ilegalmente, a pedido da Indeal, para verificar a existência de mandados judiciais contra ela, por exemplo. Ou protegê-la contra achacadores.

Já está comprovado que duas pessoas, o gerente de um banco e um estagiário da Justiça Federal, acessaram o programa para verificar a existência de mandados contra a Indeal. O bancário foi preso e denunciado criminalmente, o estagiário foi afastado do serviço e também é processado na Justiça.

Os resultados da auditoria da SSP serão repassados ao secretário Ranolfo Vieira Junior e, posteriormente, à PF e corregedorias das polícias Civil e Militar, para rastreamento de possíveis infratores. Um servidor graduado da SSP ressalva que grande parte das consultas pode ser legal.

 — Basta alguém levantar suspeita de fraude contra uma empresa para o policial checar se existe veracidade. E cada vez que abre uma aba no Consultas Integradas, para verificar um imóvel, um endereço, um veículo, o computador considera como um acesso. Por isso, é temerário dizer que os milhares de acessos são ilegais - esclarece esse policial.

A respeito da situação do coronel Régis, que admitiu ter pesquisado sobre a Indeal, a SSP confirma que ele permanecerá, por hora, no cargo. Pelo menos, enquanto não for finalizado o inquérito da PF a respeito dele ou enquanto não houver pedido da Corregedoria-Geral da BM para que ele deixe o cargo. A ideia é não precipitar uma solução drástica enquanto a suspeita de crime permanece, apenas, uma suspeita.

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