No fim de maio do ano passado, em um dia chuvoso, Elaine*, 52 anos, caminhava pelo centro de Porto Alegre. A família passava por problemas financeiros e ela estava tomando antidepressivos. Enquanto seguia pela Rua Doutor Flores foi abordada por um rapaz que lhe ofereceu um brinde. Minutos depois, estava dentro de um estúdio fotográfico, do qual saiu com uma dívida de R$ 1,8 mil. O chamado golpe do book continua sendo alvo de investigações por parte da Polícia Civil.
— Como é seu nome? É uma mulher tão bonita. Vou levantar teu astral — disse o jovem para conseguir chamar a atenção de Elaine, que parou e ouviu a história dele.
O rapaz prometeu que ela receberia um brinde e que, para isso, só precisava subir até o estúdio fotográfico, dentro de um prédio próximo.
— Ele era tão querido, meigo. Não sei porque acreditei. Mas acreditei. Subi com ele — recorda.
Dentro do estúdio, onde havia uma fotógrafa e mais três mulheres, Elaine foi maquiada e foi dado início à sessão de fotos. Até então, acreditava que tudo seria sem custo.
— Não sei o que me deu. Acreditei. Fui deixando fazerem as fotos. Eram simpáticas, educadas. Elas iam me montando com aquelas roupas. Até o fim das fotos, acreditava que era um brinde — conta.
Quando a sessão terminou, ela foi conduzida até um computador, onde estavam armazenadas as imagens.
— Cadê meu brinde? — insistia Elaine, sem respostas.
Neste momento, a mulher indagou se ela havia feito book fotográfico quando completou 50 anos. Como respondeu que não, a funcionária passou a insistir para que ela ficasse com o álbum, ao custo de R$ 1,8 mil. Prometeu que seriam 10 parcelas e o primeiro pagamento só entraria em agosto. Elaine acabou cedendo e fez o pagamento no cartão.
— Confiei nela. Comecei a contar a minha história. E no fim, aceitei. Saí de lá tonta. Aos poucos, comecei a me dar conta. Passou uns dias, contei para o meu marido. Então, decidi cancelar. Liguei para o estúdio e ela ficou furiosa comigo. Disse que não podia. Aí tive certeza de que era golpe — relata a mulher.
Ela pagou as 10 parcelas pelo book, que chegou a resgatar, mas hoje mantém guardado. Quando recorda o caso, Elaine se emociona. Diz que a família já estava passando por dificuldades e que se sente culpada por ter sido ludibriada — o constrangimento é uma das reações comuns entre vítimas de golpes.
— Me senti como se estivesse tirando dinheiro da minha família, dos meus filhos. É muito difícil. Eles me pegaram num momento difícil, em que não estava bem psicologicamente. Eles são espertos, treinados para isso. Veem que a pessoa não está bem. Não culpo quem passa por isso. É um momento de fraqueza — diz e chora.
Investigações
A mulher ouvida nesta reportagem não chegou a registrar o caso na Polícia Civil. Ela procurou a Justiça, mas não conseguiu reaver o valor. Desde o ano passado, a polícia de Porto Alegre investiga série de casos envolvendo o golpe do book. No fim de outubro de 2018, operação cumpriu mandados de busca e apreensão em seis empresas. Segundo a titular da Delegacia do Idoso de Porto Alegre, Cristiane Pires Ramos, novos relatos de casos chegaram à polícia e são investigados, assim como outros golpes.
*Este nome é fictício, para proteger a vítima.