Nos primeiros nove meses deste ano, 4,6 mil golpes foram registrados em Porto Alegre. O número representa 26% do total de crimes entre janeiro e setembro no Rio Grande do Sul. Isso significa que a cada quatro estelionatos praticados no Estado um acontece nas ruas da Capital. O aumento, em relação ao mesmo período do ano passado, é de 15%. Os dados são da Secretaria da Segurança Pública (SSP).
Entre os principais alvos dos criminosos, segundo a Polícia Civil, estão os idosos. Com foco nessas vítimas, estelionatários se especializam em trapaças como o golpe do bilhete premiado — antigo delito, mas que segue fazendo vítimas.
— Temos professores universitários, pessoas com formação, que caem nesse golpe do bilhete premiado. Não se tratam de vítimas por falta de estudo, por exemplo. Qualquer pessoa quando dá conversa acaba caindo. Esses estelionatários são treinados para fazer isso — alerta a delegada Cristiane Pires Ramos, titular da Delegacia do Idoso.
Em geral, os golpes envolvem a promessa de recompensa, como no conto do bilhete. Nesse caso, a vítima, muitas vezes uma idosa, é abordada na rua e convencida de que receberá parte de um prêmio milionário. Para isso, como prova de sua idoneidade, precisa entregar valor prévio aos golpistas. Uma das vítimas que procurou a Polícia Civil de Porto Alegre perdeu R$ 300 mil nesse golpe.
— O estelionato trabalha colocando a vítima em erro sobre o que está acontecendo. Enganar a vítima. Dar uma falsa percepção da realidade — afirma a delegada.
Outra forma de fazer com que a vítima seja ludibriada, é forjar uma possível perda financeira e se mostrar disposto a ajudar. É o que acontece nos golpes do motoboy ou do cartão. Estelionatários fazem contato por telefone e convencem a vítima de que ela perderá até R$ 5 mil caso não cancele o cartão de crédito. É orientada a partir o cartão ao meio e colocar dentro de um envelope com seus dados pessoais. Um entregador passa logo em seguida na residência da vítima e recolhe o pacote.
— Quando recebe a fatura do cartão, a vítima se dá conta que tem uma série de contas em seu nome. Só aí percebe que foi vítima de um golpe — explica Cristiane.
Constrangimento e riscos
A delegada Cristiane alerta para o risco sofrido pelas vítimas que, muitas vezes, circulam com desconhecidos. Os estelionatários costumam ser gentis e elogiar seus alvos para persuadi-los e adquirirem sua confiança. Não é incomum irem até a casa das vítimas, nos casos em que ela possuem dinheiro ou algum objeto de valor armazenado, como joias. Chegam, inclusive, a usar disfarces para dificultar o reconhecimento, caso o crime seja comunicado à polícia.
— As vítimas entram nos carros e vão em várias agências. O valor levado depende de quanto a pessoa disponibiliza. Sempre que acontecer uma situação em que se oferece alguma vantagem absurda, é preciso desconfiar — afirma a policial.
Quando chegam à Polícia Civil nem sempre as vítimas de golpes reconhecem que foram enganadas. Quando se trata do conto do bilhete, por exemplo, relatam que foram sequestradas, que os criminosos tinham armas e foram obrigadas a entregar o dinheiro. É o mesmo que muitas que pessoas costumam contar às famílias. Como já conhecem esse "sintoma", os policiais conversam em sala separada com a vítima.
O silêncio, segundo as investigações, é um fator que também colabora para que os casos se multipliquem. Como o constrangimento impede que as pessoas contem o que aconteceu, até para familiares próximos e por vezes nem registram o caso, os golpistas podem ficar impunes. A orientação, em todos os episódios, é sempre procurar a polícia e comunicar o crime.
— A vítima sente muita vergonha, constrangimento. Principalmente, quando é enganada pela ambição. É importante que essas pessoas saibam que não serão julgadas ou menosprezadas dentro da delegacia. Sabemos como lidar com esses casos — garante a titular da Delegacia do Idoso.
Se for vítima
Caso caia em algum golpe, informe a Brigada Militar ou vá até a Polícia Civil o mais rápido possível. Tente descrever aos policiais o máximo de características físicas dos golpistas. Se seus cartões de crédito ou débito forem levados, entre em contato com seu banco. Se for idoso, na Capital, há delegacia especializada para atender essas vítimas. Ela fica junto ao Palácio da Polícia, na Avenida Ipiranga, 1.803.
Esteliionatos*
Em Porto Alegre
2019 - 4.657
2018 - 4.038
15% de aumento
17 casos por dia (média) neste ano
14 crimes a cada 24 horas (média) no ano passado
No Estado
2019 - 17.760
2018 - 16.517
7,5% de aumento
65 casos por dia em média
60 crimes a cada 24 horas (média) no ano passado
* Dados de janeiro a setembro
Fonte: SSP-RS