Ao longo das duas décadas em que mantém um mercado em Vera Cruz, no Vale do Rio Pardo, um comerciante nunca havia sido alvo de assaltantes. Na manhã de segunda-feira (30), acabou surpreendido por criminosos, enquanto chegava em uma agência bancária com um malote do valor arrecadado no fim de semana, e atingido por dois tiros. Três suspeitos do crime foram presos pela Brigada Militar e o dinheiro levado, recuperado.
Carlos Alberto Sehnem, 56 anos, desembarcou da Fiorino, estacionada em frente ao Sicredi, na Rua Cláudio Manoel, por volta das 10h. Na calçada em frente à agência, foi abordado pelo assaltante. Quando ia entrar na porta do banco, teve a camisa puxada por alguém, que disse "perdeu".
— Ele achou que era um conhecido, mas olhou para trás e viu a touca ninja. Daí, percebeu que era sério e foi para cima. Foi tudo rápido. Em fração de segundos. Na hora, ninguém vai entregar nada de mão beijada — relata o filho Diego Alex Sehnem, 33 anos, que está acompanhando o pai no hospital.
Enquanto lutava com o ladrão, o comerciante foi atingido por dois tiros. O primeiro disparo, ainda em frente à porta do banco, atingiu a panturrilha. O tiro transfixou a perna. O segundo disparo, já na rua, acertou o joelho esquerdo.
— Ele disse que nem sentiu o primeiro. Estava bravo. No segundo, não aguentou e caiu. Eles pegaram o malote e fugiram. O pai trabalha de domingo a domingo. Chegam esses bandidos e querem, do nada, levar o que a pessoa conseguiu com esforço. Por isso ele reagiu — diz a filha, Cristiane Andreia Sehnem, 29 anos.
Os irmãos foram avisados por um funcionário do mercado e seguiram até a frente do banco. Quando chegaram ao local, o pai já havia sido encaminhado ao hospital do município.
— Ficamos apavorados. Só sabia que ele tinha levado um tiro. Só fui saber da gravidade quando cheguei no hospital. Ele ainda tem muita dor. Está a base de medicamentos — relata o filho.
Ainda na segunda-feira, Carlos Alberto foi transferido para o Hospital Regional do Vale do Rio Pardo, em Rio Pardo, referência em traumatologia na região. Na quinta-feira (3), deve passar por cirurgia no joelho, onde a bala ficou alojada.
Ação planejada
Logo após o roubo, os ladrões fugiram em um Prisma, que foi encontrado abandonado na sequência na Avenida Nestor Frederico Henn. Em buscas aos assaltantes, policiais do Pelotão de Operações Especiais (POE) e da Patrulha Maria da Penha da Brigada Militar abordaram um Voyage em Santa Cruz do Sul, município vizinho a Vera Cruz.
Por volta das 11h, o veículo, com placas de Farroupilha, foi localizado no entroncamento da Avenida Melvin Jones com a RS-287. No automóvel, estavam uma mulher, de 26 anos, um homem, de 20, e outro, de 29. Os três foram encaminhados à Delegacia de Polícia de Vera Cruz. Os nomes dos presos não foram divulgados pela polícia. Foi apreendida com eles uma touca-ninja preta, um moletom cinza e o valor do malote roubado. A arma usada no assalto, possivelmente um revólver de calibre 38, não foi localizada.
Segundo o delegado Paulo César Schirrmann, em depoimento, um dos presos admitiu que participou do roubo. Ele relatou ter ficado aguardando no veículo, enquanto o comparsa atacava a vítima. A mulher teria auxiliado aguardando a dupla em outro carro, para despistar a polícia durante a fuga.
— Infelizmente, alguns comerciantes ainda mantêm o hábito de levar o dinheiro em mãos até o banco. Isso, com o tempo, começa a ser percebido pelos criminosos. É uma ação rápida. Nesse caso, como ele reagiu, houve esse contratempo. Ele (preso) disse que essa ação havia sido combinada no dia anterior. Estavam esperando por ele (o comerciante) — relatou o delegado.
Os outros dois detidos preferiram permanecer em silêncio. Os três foram presos em flagrante por roubo e lesão corporal grave. Eles ainda podem responder por outros crimes, que estão sendo averiguados. O trio foi encaminhado ao Presídio Regional de Santa Cruz. O Prisma apreendido será encaminhado para perícia. A polícia aguarda ainda a recuperação do comerciante para ouvi-lo.