Depois da divulgação de fotos de um churrasco entre detentos e familiares, que originou duas investigações, o Presídio Regional de Santa Cruz do Sul é palco de nova polêmica. Também pelo WhatsApp, desta vez vazou um vídeo que mostra presos consumindo drogas. Ao menos 11 homens, além do que grava as imagens, aparecem ao redor de um balde virado, onde um deles prepara o que supostamente seriam carreiras de cocaína.
— Vamos ligeiro aí, dar uns "tecos" — diz um detento logo no começo do vídeo, que tem 34 segundos, usando uma gíria que é sinônimo de cheirar cocaína.
Outro preso, de camiseta azul ao fundo, segura um cigarro e manuseia uma substância verde, a qual esmaga com a mão. A suspeita é de que seja maconha, mas as autoridades também cogitam ser tabaco.
Delegado penitenciário regional responsável pelo presídio de Santa Cruz do Sul, Bruno Pereira confirma que o vídeo foi gravado na cadeia e no mesmo pátio, das galerias A e B, onde foi realizado o churrasco natalino no último domingo (24).
— Pelas imagens, parece ter sigo gravado perto das janelas, num local onde os agentes não têm visibilidade. É um ponto cego. E o pátio não tem câmeras — afirma Pereira.
O local do churrasco e onde ele acredita ter sido gravado o vídeo seriam bem próximos, por isso, o delegado não acredita que a filmagem foi feita no dia da confraternização.
— Esse vídeo pode ser antigo. Não sabemos e vamos investigar — acrescentou.
Segundo o agente, a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) recebeu o vídeo na quinta-feira (28) pela manhã e, no início da tarde, realizou uma vistoria extraordinária nas celas onde estão detidos os homens gravados. Nenhuma droga ou celular foram encontrados.
O detento que está organizando as carreiras de pó branco foi isolado e é alvo de um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD), cujo resultado, junto com o vídeo, será remetido ao Judiciário e que pode estabelecer sanções a ele. O nome do apenado não foi divulgado nem o crime pelo qual está preso.
De acredo com o delegado, ele deve ser encaminhado, em breve, para outra cadeia "por questões disciplinares". Outros 26 detentos dessa mesma ala, A e B, foram recentemente transferidos: 16 deles porque escaparam na fuga em massa no presídio, em 17 de novembro, e foram recapturados e outros 10 por serem suspeitos de terem participação no plano. Dez detentos seguem foragidos.
Os demais que aparecem nas imagens vão ser investigados, mas ainda não sofreram nenhuma penalidade, pois não "há provas", conforme o delegado, de que consumiram a droga — embora, no vídeo, aparecem, pelo menos, sete carreiras de pó.
— Os outros podiam estar somente assistindo, não sabemos. O que está montando a cocaína foi indicado como o dono da droga — afirma Pereira.
Investigação do MP
O vídeo de consumo de drogas vai ser usado na investigação já aberta pela promotoria de Defesa Comunitária de Santa Cruz do Sul. O objetivo será apurar se houve improbidade da direção da prisão ao autorizar o churrasco sem informar ao Ministério Público (MP) e à Justiça e também se há falha na fiscalização.
Conforme o promotor Érico Fernando Barin, que coordena o inquérito, também foi incluída a "nova" confraternização, marcada para o próximo domingo (31), véspera de Ano-Novo. Desta vez, a Justiça permitiu participação de 130 presos das galerias C e D.
— Não há dúvida de que muitos pontos precisam ser esclarecidos. Há fortes indícios de falhas graves de fiscalização e controle, ou até mesmo de cedência de poder/espaço a presos ou facções, hipóteses que, se provadas, podem configurar crimes e improbidade administrativa — declarou Barin.
A Susepe também abriu sindicância para apurar "pontos contraditórios" envolvendo o churrasco do último domingo. Entre as questões a serem esclarecidas está quem forneceu os cerca de 100 quilos de carne, 15 sacos de carvão e 100 refrigerantes. Uma fonte disse à GaúchaZH que um integrante de uma facção criminosa levou os produtos até a cadeia. Já a Susepe afirma que foram familiares dos presos que doaram os alimentos, assim como deverá ocorrer no próximo domingo.
Farra no Central em 2014
Há exatos três anos, no dia 29 de dezembro de 2014, o Diário Gaúcho teve acesso a um vídeo que mostrava detentos do Presídio Central, em Porto Alegre, cheirando carreiras de cocaína na primeira galeria do Pavilhão B. Nas imagens, presos aparecem sorridentes, festejando a abundância da droga.
Em um momento, é possível ver um deles usando uma carta de baralho para separar carreiras de cocaína sobre uma mesa branca. Os presos que estão na fila, cerca de duas dezenas, parecem ansiosos, mas com bom humor. Diferente do video gravado em Santa Cruz, no Central, os apenados efetivamente cheiram o pó. Assista: