Quando despertou na madrugada de terça-feira (24) com o som do celular, José Carlos Moraes, 56 anos, já imaginava o que havia acontecido. A loja que mantém no bairro Passo do Feijó, em Alvorada, havia sido atacada mais uma vez por ladrões. Desde 2012, as duas joalherias do empresário no município — possui uma terceira em Sapiranga — foram alvo de 17 assaltos e dois arrombamentos.
As vitrines vazias da Joalheria e Óptica Topaze, na Rua Noruega, são amostras da realidade que o empresário se acostumou a enfrentar. Pouco antes das 4h, três ladrões arrombaram a proteção de ferro em frente à vitrine e estilhaçaram os vidros a pontapés. Câmeras de segurança flagraram a ação. Estouraram expositores a chutes e encheram sacolas. Em quatro minutos, esvaziaram prateleiras e fugiram em um Jetta.
— Esse caso foi em uma modalidade diferente. Um arrombamento, durante a noite. Mas já sofremos 17 assaltos à luz do dia — conta.
Por quase duas décadas, Moraes manteve a joalheria sem ter problemas com a criminalidade. Foi alvo pela primeira vez em 2012.
— "Limparam" a loja. Mais de 20 anos de trabalho, foram levados em minutos. Recomecei do zero. Hoje em dia, só compro o que posso pagar. Quando me assaltarem, não vou ficar devendo — afirma.
Em 2014, foram seis assaltos em apenas quatro meses. Somente em junho daquele ano, foram três ataques. Em um deles, uma funcionária chegou a repreender o ladrão:
— Mas vai nos assaltar de novo?
— Daquela vez não fui eu. Era outro — respondeu o criminoso.
Em agosto de 2014, após mais um roubo, a Brigada Militar (BM) conseguiu capturar três suspeitos, um deles baleado em tiroteio com policiais. Na ação, foi recuperada toda a mercadoria levada.
O assalto mais grave aconteceu em dezembro de 2017 — foi o último caso antes do ataque deste ano. Durante o roubo na loja mantida por Moraes junto a um hipermercado, os ladrões renderem funcionárias e um segurança. Do lado de fora, um assaltante baleou uma dona de casa. Mariza Iracema Cassol Jaques, 54 anos, que estava no mercado coletando doações para famílias pobres, não resistiu.
— Tiveram assaltos muito violentos. A morte dessa senhora foi muito traumática. Levaram uma funcionária nossa de refém — recorda.
A mulher foi levada pelos ladrões até o Parque dos Maias, em Porto Alegre, no limite com Alvorada. No bairro, foi libertada quando os criminosos trocaram de veículo. Após ficar cerca de um mês afastada, abandonou o emprego.
— Essa funcionária não conseguia ficar lá dentro. Os outros trabalham com medo. Cada estranho que entra, acham que é bandido. A gente vê funcionário chorando, nervoso. A gente também sofre prejuízos porque (após um assalto) os clientes deixam de vir por um tempo — descreve Moraes, que nas duas últimas noites só conseguiu dormir com uso de calmantes.
Câmeras
A série de ataques fez Moraes investir em segurança, como sistema de videomonitoramento e em vidros reforçados. Mas isso não impede a ação dos ladrões. O arrombamento de terça-feira (24) foi captado pelas câmeras e o alarme disparou. Mas os criminosos estavam com os rostos cobertos. O empresário acredita que os mesmos ladrões estiveram na joalheria na tarde anterior ao crime. Chegaram a questionar um vendedor sobre a encomenda de joias.
— Olharam muito bem as vitrines, como quem está escolhendo — diz Moraes.
A criminalidade levou o empresário a modificar o tipo de mercadoria que comercializa. Deixou de vender somente joias e passou a investir no ramo de ótica, que hoje representa metade dos negócios.
— Já pensei em fechar diversas vezes. Não é fácil viver assim — diz.
O comandante da Brigada Militar em Alvorada, tenente-coronel Jefferson Marques de Melo, afirma que as características do caso mais recente levam a crer que não se trata de quadrilha especializada.
— Executaram a abertura da vitrine fazendo barulho, acionaram o alarme. Uma quadrilha especializada estuda o local do crime, entra no estabelecimento de outra forma, mais furtiva — explica.
Comandante do Policiamento Metropolitano, coronel Oto Amorim diz que a BM apreendeu 12,3 mil munições este ano, o que, segundo ele, evita ocorrências.
Colaborou Ásafe Bueno