O DNA coletado dos pais do menino Bruno Leal da Silva, desaparecido há 20 anos no Litoral Norte, será confrontado no Estado com os restos mortais de 431 pessoas não identificadas. A comparação será feita por meio do Banco de Perfis Genéticos do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. A análise já começou nesta quinta-feira (17) e o resultado é esperado para os próximos dias.
Essa é a primeira etapa do teste que visa verificar se algum dos restos mortais analisados por peritos do Instituto-Geral de Perícias (IGP) pertence a Bruno, que sumiu na praia de Imara em 10 de julho de 1999. Os pais do menino — Devercina França Leal da Silva e Nazareno da Silva — coletaram DNA na terça-feira (15), no Posto Médico Legal de Osório.
O exame foi solicitado pelo delegado de Imbé, Antônio Carlos Ractz Junior, depois de GaúchaZH revelar que Devercina havia enviado material genético para um banco de DNA internacional, nos Estados Unidos. A expectativa da mãe é de localizar Bruno vivo, possivelmente vivendo em outro país. Apesar de o banco genético do Estado ter começado a ser abastecido em 2011, os familiares de Bruno nunca haviam feito a coleta para integrar o cadastro.
Desaparecidos
Atualmente, 209 famílias que procuram pessoas desaparecidas têm suas informações catalogadas na Divisão de Genética Forense do IGP. Conforme o chefe da unidade, perito criminal Gustavo Lucena Kortmann, é importante que mais pessoas que tenham situações semelhantes, de busca por desaparecidos, façam essa coleta.
No laboratório da Divisão de Genética Forense, o DNA dos pais de Bruno será amplificado e o perfil será cadastrado no banco de perfis genéticos. Automaticamente, o sistema vai comparar com os das 431 pessoas mortas não identificadas no RS. Se não for encontrada nenhuma coincidência entre os dados testados, os perfis do casal vão então ser comparados aos demais perfis que fazem parte do banco nacional.
Uma vez por semana, o material dos 18 Estados que já compõem a Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos é repassado para Brasília e novo teste é feito. Deste vez, os perfis serão confrontados com 1,8 mil dados de restos mortais catalogados no Banco Nacional de Perfis Genéticos do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Caso a busca nacional não tenha resultado positivo, os perfis dos pais de Bruno já ficarão arquivados no sistema nacional e os testes seguirão sendo feitos sempre que houver o ingresso de novos perfis dos Estados.
— É um trabalho atemporal e de utilidade pública. Mesmo que não ocorra identificação agora, pode acontecer a qualquer momento, sempre que houver o encontro de novos restos mortais em várias partes do país e também aqui no Rio Grande do Sul — conclui o perito Gustavo.
Mistério em oito momentos
- Em 10 de julho de 1999, Bruno Leal da Silva, nove anos, saiu de casa na praia de Imara de bicicleta para apagar luzes de casas que eram cuidadas por sua família. Depois, ia encontrar o pai em Atlântida Sul. O menino sumiu e a bicicleta foi achada à beira da estrada.
- Em 25 de julho de 1999, um suspeito foi preso por ter dado pistas falsas à polícia e ter omitido informações consideradas importantes para a investigação. Foi solto três dias depois.
- Em agosto de 1999, a Polícia Civil de Imbé apreendeu um Gol que havia sido usado pelo suspeito. Peritos encontraram mancha de sangue no porta-malas e marcas de tinta na lataria do carro. O teste de DNA a partir do sangue foi feito em Brasília e o resultado foi inconclusivo, ou seja, não pode afirmar nem descartar que o material fosse de Bruno.
- Outro exame, feito no Estado com apoio de peritos de São Paulo, indicou que a tinta na lataria do carro tinha as mesmas propriedades óticas da tinta do pedal da bicicleta de Bruno.
- Em setembro de 1999, o principal suspeito e outras cinco pessoas foram presas, enquanto a polícia fazia escavações pela praia em busca do corpo do menino. O inquérito foi concluído com indiciamento do principal suspeito por porte ilegal de arma, mas o Ministério Público denunciou o homem também por homicídio culposo e ocultação de cadáver.
- A Justiça acatou a denúncia por porte ilegal de arma, alegando que para enquadrar o suspeito em homicídio precisaria existir, ao menos, prova testemunhal, já que o corpo nunca foi achado.
- O MP recorreu, mas, em outubro de 2000, o Tribunal de Justiça entendeu não haver fundamento para receber a denúncia contra o suspeito.
- Em 2001, um crânio foi encontrado em Atlântida Sul, mas teste de DNA descartou a possibilidade de ser do menino.