O sonho de uma gaúcha de Porto Alegre em tentar obter a cidadania italiana custou R$ 45 mil, dois períodos de férias perdidos, acúmulo de dívidas, humilhação no continente europeu e muita incomodação. Um ano depois, nada foi resolvido e o caso virou processo judicial e investigação da polícia. A mulher de 37 anos, casada e mãe de uma criança, foi uma das cerca de 50 vítimas de um empresário preso nesta terça-feira (17), em Piracicaba, em São Paulo. Ela e as outras pessoas foram lesadas ao buscar assessoria especializada em cidadania italiana na empresa do suspeito. O prejuízo causado às vítimas é estimado em R$ 1,5 milhão.
A mulher, que pediu para não ter o nome divulgado, procurou a Delegacia do Consumidor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) para registrar ocorrência e se uniu a outras 14 pessoas para ingressar com processo judicial. Ela firmou contrato em 2018 com a empresa DHG, de Caxias do Sul, empresa a qual tinha boas referências. Segundo a vítima, o processo seria muito mais rápido diretamente na Itália do que via consulado.
— Os preços não divergiam muito desta empresa (DHG) com os de outras, mas como tinha quatro referências, fechei contrato. Dei nas mãos do investigado R$ 20 mil e acumulei dois períodos de férias para ir até a Itália em setembro do ano passado. E aí começou o meu pesadelo — explica a vítima.
A moradora da Capital ficou 47 dias em uma pequena cidade italiana, o que não foi combinado. Não teve hospedagem e transporte e, muito menos, a cidadania prometida em pouco mais de 40 dias. Segundo ela, durante esse período, nem a entrada no processo foi realizada.
— Gastei R$ 45 mil ao todo, já que tive de gastar com transporte, alimentação, demais custos, nada foi resolvido e sigo sem a cidadania. Meu sentimento é de impotência porque me julgo uma pessoa esclarecida e busquei referências, todos os procedimentos legais, tomei uma série de providências. No fim, me culpo muito e não aconteceu. Passou um ano e ainda estou tentando processar tudo o que me ocorreu. Ele é um golpista — diz a mulher.
Segundo a vítima, o responsável pela empresa investigada apresentava várias desculpas, como problemas com funcionários, pedidos de mais prazo e até chegou a pedir que algumas pessoas se deslocassem para outras regiões simplesmente para obter mais tempo. Ela diz que o suspeito ainda vendeu euros para os próprios clientes que estavam na Itália, mas sem os serviços oferecidos por ele.
— Aconselho que quem vá fazer a cidadania na Itália se aproprie bem do processo, saiba bem como funciona cada etapa e que aprenda pelo menos um pouco da língua antes de ir, pois só assim podemos reduzir as chances de outras pessoas interferirem na conquista da nossa cidadania, adiando o reconhecimento deste que é um direito de todo descendente de italiano — desabafa a moradora de Porto Alegre.
Para evitar transtornos, a polícia recomenda que o mais garantido, apesar de burocrático e demorado, é buscar cidadanias via consulados.
Investigação
O delegado Joel Wagner instaurou inquérito policial há oito meses e passou a investigar o caso até obter na Justiça a prisão preventiva do suspeito identificado como Robert Martini Delazeri, 39 anos. O suspeito, que tem antecedente criminal por estelionato, vai responder mais uma vez por este delito e também por crimes contra a relação de consumo. A polícia diz que, depois de sair do Estado, ele foi para Piracicaba (SP), onde foi preso nesta terça-feira.
O inquérito aponta que o investigado teria adquirido dívidas após o ano de 2016 e perdido contatos que mantinha na Europa. Mesmo assim seguiu oferecendo os serviços de assessoria, mas sem honrar com grande parte dos compromissos. O delegado avalia que existam outras vítimas. Por isso, disponibiliza para contato o telefone 0800 510 2828.
GaúchaZH tenta contato com a defesa do suspeito para contraponto.