O Ministério Público Federal (MPF) denunciou nesta semana o suspeito de se passar por agente federal para aplicar golpes em vítimas de pelo menos três Estados. Daniel Lopes da Silveira, 38 anos, natural de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, foi preso no dia 24 de julho pela Polícia Federal (PF) em São Paulo. Ele foi denunciado por estelionato e uso indevido de sinal público.
Segundo o MPF, foram identificados nove casos nos quais as vítimas teriam sido enganadas pelo suspeito. Desses, sete no Rio Grande do Sul, um em Santa Catarina e outro em São Paulo. Em seis deles, Silveira teria se passado por policial federal e, assim, convencido as vítimas de que poderia conseguir vantagens, como agilizar vistos ou adquirir mercadorias apreendidas por preços mais acessíveis. No entanto, o preso foi denunciado até o momento por dois desses supostos golpes. Nos outros quatro, o MPF solicitou que sejam feitas investigações complementares.
Em três episódios de estelionato, o MPF entendeu que a competência é da Justiça Estadual. Isso porque nestes crimes ele não teria usado o fato de se passar por policial federal, e sim alegado questões pessoais para convencer as vítimas, companheiras e namoradas, de que precisava de dinheiro para trocar de veículo ou regularizar imóveis.
Além dos golpes, o preso também foi denunciado pelo uso indevido de sinal público. Para o MPF, foi constatada a "utilização indevida e reiterada" por parte de Silveira "de marca, logotipo e sigla da Polícia Federal, tendo em vista que costumava vestir o uniforme do mencionado órgão, como se fizesse parte de seu quadro de servidores".
A denúncia foi encaminhada na terça-feira (3) e o caso tramita agora na 11ª Vara Federal de Porto Alegre. O crime de ameaça, pelo qual ele também foi indiciado pela PF, tramita na Justiça Estadual, no Juizado Especial Criminal de Novo Hamburgo.
O acusado continua detido de forma preventiva no Presídio Central, em Porto Alegre. Procurada pela reportagem, a advogada Josiane Schambeck informou que já teve acesso à denúncia e que está trabalhando na resposta ao MPF. A advogada relatou também que aguarda o julgamento de habeas corpus encaminhado ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região.
Quando teve a prisão preventiva decretada, Silveira estava na capital paulista. Lá, passou a ser monitorado por agentes federais. Em 24 de julho, com uma mala de roupas, em um shopping, foi preso pelos policiais. No dia seguinte, foi encaminhado de volta a Porto Alegre, onde foi ouvido. Em depoimento, segundo o delegado federal João Rocha, admitiu que havia enganado algumas mulheres.
— Ele, inicialmente, negou. Depois disse que tinha enganado mesmo, mas que ia resolver tudo. Genericamente, concordou que enganou várias pessoas. Ele diz que começou e não viu o momento de parar — afirmou o policial, logo após a prisão.
As mulheres apresentaram durante os depoimentos prints de conversas e fotografias que Silveira teria enviado para elas. Materiais apreendidos com ele durante a prisão - um notebook e um celular - seguem sendo periciados para verificar se há provas das trocas de mensagens com as vítimas.
Vítimas se uniram
Entre as mulheres que relatam os supostos estelionatos, está uma moradora da Grande Porto Alegre, que chegou a ter uma filha com o suspeito. Por certo período, diariamente levava o companheiro até o Aeroporto Internacional Salgado Filho. Com a camiseta da PF, colete tático e arma (todos itens falsificados), ele desembarcava no início da manhã e só retornava no fim da tarde. Dan, como era chamado, contava detalhes da profissão. Ela foi uma das pessoas ouvidas ao longo da investigação.
Como forma de apoiar uma à outra e trocar informações sobre o que aconteceu, as mulheres se uniram e chegar a criar um grupo de WhatsApp. Assim, foram descobrindo histórias parecidas e a forma semelhante de agir do falso agente. A reportagem conversou com três mulheres que alegam ter sido vítimas de Dan. Uma delas, em Santa Catarina, diz que além da perda financeira, o episódio deixou traumas psicológicos:
— É diferente de um assaltante que entra na tua casa. Um assaltante não conhece tua família (...). Desenvolvi ansiedade. Tinha crise de desmaios do nada. Boa parte por conta da situação financeira. Ainda pago essa conta. Tive medo de conhecer outra pessoa. Como confiar de novo?