Depois que a Polícia Civil deflagrou operação para coibir a extorsão de comerciantes no centro de Porto Alegre, na última sexta-feira (6), criminosos que seriam integrantes da facção que foi alvo da ofensiva voltaram a ligar para as vítimas exigindo dinheiro. Desta vez, alegando que precisam de um valor mais alto devido ao prejuízo que tiveram com a prisão de comparsas.
Até esta quinta-feira (12), pelo menos nove comerciantes registraram ocorrência na 17ª Delegacia de Polícia, alegando que os criminosos passaram a exigir R$ 500 mediante ameaça de incêndios e agressões. Mas o delegado Juliano Ferreira, responsável pela investigação, diz que tudo não passa de um golpe.
Segundo o policial, os integrantes do grupo criminoso estão "desesperados" e também não têm mais como agir, pelo menos no momento, por causa das prisões ocorridas há seis dias. Ferreira diz ainda que os criminosos estariam tentando se reerguer financeiramente depois da ofensiva contra eles.
— Claro que não temos a pretensão de acabar com o tráfico, já que é o carro-chefe deles, e também com as extorsões, mas afirmo que eles não têm como agir agora. É um golpe, é um desespero, e cabe a nós, poder público, fiscalizar cada vez mais essa situação e evitar que ela retorne ou, no mínimo, que chegue ao nível em que estava — ressalta.
Em áudio divulgado pelo delegado, um homem que seria integrante da facção liga para um comerciante do Centro Histórico, diz que comparsas foram presos após denúncia de donos de estabelecimentos da região e afirma que o grupo precisa se recuperar. Com isso, pede mais dinheiro para que a segurança seja garantida:
Conforme uma das ocorrências registradas, o criminoso ainda dá o número de uma conta bancária e o nome do correntista. Todas as informações estão sendo verificadas, e Ferreira também não descarta que outra facção esteja se aproveitando do fato de que a primeira teve o esquema criminoso coibido para tentar dar um golpe nos comerciantes.
A polícia reuniu todas as nove ocorrências registradas até agora e pede o apoio dos comerciantes, solicitando que não tenham medo, entrem em contato com a 17ª DP e façam os registros dos golpes.
Investigação
Há mais de três anos, a facção começou a extorquir prostitutas e travestis do centro da Capital. Depois, passou a exigir pedágio para ladrões e traficantes que atuam nos bairros mais centrais. Nos últimos meses, a cobrança de propina atingiu comerciantes legalizados. Os valores cobrados, conforme o tipo de atividade, variavam entre R$ 20 e R$ 450.
Na última sexta-feira, 250 policiais civis cumpriram mais de 70 mandados judiciais em Porto Alegre e em Viamão. Ao todo, nove investigados foram presos — um deles com um fuzil — e outros sete tiveram mandados de prisão cumpridos na cadeia por já estarem detidos por outros crimes.
Carros de luxo e dinheiro foram apreendidos. Durante o cumprimento dos mandados de busca, os agentes chegaram a bloquear momentaneamente a Avenida Voluntários da Pátria, próximo à Rua Pinto Bandeira, para entrar em uma galeria usada pela facção para guardar armas e drogas.