Em mais uma investida contra os traficantes que dominam a Vila Nazaré, na zona norte de Porto Alegre, a Polícia Civil realizou nesta quinta-feira (22) a Operação Renitência. Desta vez, o objetivo era atingir o comando da rede criminosa que atua na região, considerada um dos maiores pontos de venda de maconha do Estado.
Em julho, outra operação foi deflagrada no local, principalmente, por causa de ameaças de traficantes contra moradores que queriam sair da vila. A Nazaré precisa ser desocupada para liberar as obras de ampliação da pista do aeroporto Salgado Filho, mas os traficantes querem manter o negócio e, para isso, refutam as transferências.
O trabalho deflagrado nesta quinta-feira é do Departamento de Homicídios e do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc). Foram 70 policiais cumprindo seis mandados de prisão preventiva e 13 de busca e apreensão. Uma retroescavadeira foi usada para procurar drogas.
Três pessoas foram presas em flagrante durante a ofensiva. Das seis ordens de prisão, duas foram cumpridas ao longo da investigação — os outros quatro alvos seguem foragidos. Os nomes dos presos não foram divulgados.
A apuração começou há um ano, a partir da execução de dois irmãos ocorrida à luz do dia, em agosto de 2018. Conforme a polícia apurou, eles foram mortos porque estariam negociando drogas por conta própria, sem prestar contas aos patrões do tráfico.
A dupla execução ocorreu diante de testemunhas e as vítimas foram atingidas por mais de 100 tiros. Apesar de moradores terem presenciado o crime, a polícia não conseguiu depoimentos de testemunhas em função do medo imposto pelos criminosos na região.
Com o trabalho integrado dos dois departamentos, a polícia acredita ter obtido provas contra os matadores e o suspeito de ser mandante da dupla execução e também sobre a ligação deles com o tráfico na região.
A polícia aponta Neri José Soares, conhecido como Barão da Maconha, como o mandante das mortes e responsável pela chefia do tráfico na região. Neri foi preso no Paraguai, em julho de 2017, por agentes do Denarc com apoio da Polícia Nacional Paraguaia. Ele vivia foragido no país vizinho desde 2013 e sob a fachada de pecuarista.
Com receio de tentativa de resgate pela quadrilha dele, as autoridades paraguaias emitiram a expulsão de Neri menos de duas horas depois da prisão, feita na cidade de Los Cedrales. No momento da captura, o criminoso, que se criou na Vila Nazaré, avisou tranquilamente aos policiais:
"Eu tenho pouco de pena, em pouco tempo eu resolvo isso. Tenho um escritório em Brasília contratado que atua junto ao Supremo Tribunal Federal".
De fato, não ficaria muito tempo preso: Neri deixou a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) em março do ano passado. A polícia suspeita que ele segue comandando sua rede de distribuição de maconha a partir do Paraguai, para onde teria ido novamente.
Outros dois alvos da Operação Renitência são os suspeitos de terem executado os irmãos, no crime de agosto de 2018, e de serem os principais líderes do tráfico na vila atualmente: Clóvis Roberto Oliveira da Silveira, o Tovi, e Claudemir da Silveira, o Zeca. Os dois não foram localizados nesta quinta-feira, assim como Neri José Soares.