A volta para casa após um dia de trabalho deveria seguir a rotina normal na quinta-feira (25). Do serviço como vendedora no Centro de Porto Alegre, a mulher de 39 anos partiria para casa no bairro Aparício Borges, na zona leste de Porto Alegre. Mas, durante o caminho, recebeu uma mensagem do filho de 15 anos, pedindo para que ela não voltasse.
— Suspeitei. Achei que ele tivesse fazendo arte de adolescente, questão com namorada e tal. E aí eu disse para ele "eu vou para casa, estou cansada, quero descansar". E ele me respondeu "Mãe! Pelo amor de Deus, não vem. Os caras que a polícia está procurando estão aqui dentro". Daí eu falei "agora mesmo que eu vou" — conta a mulher.
Na residência da mulher, estavam três criminosos que fugiram após um confronto no Morro da Polícia. Eles mantinham refém o filho dela e um sobrinho de 16 anos. Enquanto ia, às pressas, para casa, pediu para o adolescente mostrar uma mensagem dela para os invasores: "Vou entrar, mas estou sozinha e não quero complicação".
Ao chegar em casa, bateu na porta e chamou pelo filho. Instantes depois, foi puxada para dentro pelos criminosos e teve pertences tomados, como casaco, bolsa e mochila.
A mulher foi empurrada para um quarto. O filho e o sobrinho foram mantidos na cômodo onde fica a sala e a cozinha, vigiados por um dos criminosos. Outros dois ficaram com a outra refém. Em determinado momento, os celulares foram retirados.
A família ficou por duas horas em cárcere privado. Durante o período, a mulher escutava as conversas dos criminosos no quarto ao lado. Sabia que eles tinham tentado entrar em uma casa e foram recebidos a tiros. Segundo a mulher, o trio aguardava ser resgatado por comparsas, o que provocava calafrios na vítima.
— Achei que eles iam matar a gente. Isso que passava pela minha cabeça. Porque a gente viu a cara de todo mundo — conta a mulher.
Um dos três criminosos estava bastante nervoso, segundo o relato da refém:
— Era o único que dizia: não faz nenhuma burrada, fica quieta. Daí eu dizia que eu queria ficar perto do meu filho. E ele não: “Não! Tu não vai ficar perto dele agora. Ele está bem, ele está aqui.”
Em um momento de distração dos criminosos, a polícia conseguiu entrar na casa. Segundo a mulher, o homem que estava na sala foi conversar com os dois que estavam no quarto. Foi aí que cerca de 10 PMs agiram.
— O rapaz (policial) pôs o rosto na janela e pediu para mim: "abre". E eu só botei a mão e abri, aí a polícia entrou, colocou eu, meu filho e sobrinho para a rua, e eles levantaram. Depois, eu não vi mais nada — conta.
Segundo a comandante das Companhias de Operações Especiais (COE) do 19º Batalhão de Polícia Militar (BPM), capitã Martha Ritcher, quando os policias entraram na casa foram recebidos pelos três homens com cinco armas — um revólver calibre 38 e quatro pistolas.
— Fizeram menção de atirar na guarnição e repeliu a injusta agressão — observa a oficial.
Os três homens foram levados para um hospital da Capital, onde acabaram morrendo. Eles foram identificados como Robson Brandão Flores, 26 anos, Felipe Pinto Griebler, 23, e um adolescente de 17 anos.
— Quando entramos para a Brigada Militar nosso objetivo não é tirar vidas, nosso objetivo é preservar. Só que, em dado momento da nossa profissão, a gente tem de fazer uma escolha entre a nossa vida e a de um civil que está em risco ou a do delinquente. Então, infelizmente, a gente teve de optar por repelir essa injusta agressão que estava na iminência de acontecer — salienta a capitã.
Ainda segundo a policial, os três homens pretendiam assassinar desafetos de uma facção rival.