Preso preventivamente no Instituto Psiquiátrico Forense (IPF), em Porto Alegre, Daniel dos Santos Cárcamo, 26 anos, suspeito de matar seus pais na madrugada de quinta-feira (20), será submetido a exame mental. A avaliação foi determinada pela Justiça, e visa medir a capacidade dele em compreender seus atos.
De acordo com o delegado Gabriel Bicca, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o homem é o responsável por assassinar a facadas e pauladas o pai, o engenheiro civil Alaberto Diego Cárcamo Ulloa, 70 anos, e a mãe, a massoterapeuta Maria Orildes dos Santos, 56 anos. O crime ocorreu dentro do apartamento em que pai e filho moravam no bairro Nonoai, na zona sul da Capital.
O nome do agressor não foi divulgado, mas a reportagem de GaúchaZH apurou se tratar de Daniel dos Santos Cárcamo, 26 anos, um dos dois filhos do casal. Ele foi detido por PMs no interior da moradia com roupas sujas de sangue, aparentando estar em estado de choque. Daniel nada falou ao ser levado para atendimento em hospitais e quando foi recolhido ao IPF, na noite de quinta-feira.
Segundo o delegado Bicca, o homem estava em uma "espécie de catatonia".
Relatos colhidos pela polícia revelam que Daniel tinha "explosões de comportamento" e que passava de um estado tranquilo para violento ao extremo em questão de minutos. Além da avaliação mental, a pedido da polícia, foi solicitada coleta de sangue de Daniel para exame toxicológico.
Procurada pela reportagem, parentes evitaram entrevistas, mas conhecidos da família indicaram que Daniel tem histórico de consumo de drogas e internação em clínica de desintoxicação. Por causa da dependência química, ele teria se envolvido em conflitos e brigas com os pais, inclusive registradas em boletins policiais.
Alaberto e Maria Orildes eram separados, e Daniel morava com o pai no apartamento onde ocorreu o crime, no Condomínio Cidade Jardim. Até meados de 2018, eles viviam em uma casa nas proximidades. Daniel chegou a trabalhar como corretor de imóveis, mas, nos últimos dias, teria sofrido uma recaída no tratamento contra as drogas, o que teria motivado uma conversa em família na noite de quarta-feira (19).
Daniel e a mãe foram vistos chegando ao apartamento. Alaberto já os aguardava. No começo da madrugada, vizinhos ouviram gritaria e barulho intenso vindo do apartamento. Gritos de socorro de voz feminina motivaram a chamada de policiais militares que encontraram os corpos do casal e deram voz de prisão para Daniel.
— A autoria do crime está bem definida. Não ocorreu arrombamento e nem teve outra pessoa no apartamento. Vamos verificar o que levou ao desfecho trágico — afirma o delegado.
As mortes foram lamentadas em redes sociais. A empresa Engeplus Engenharia e Consultoria, na qual Alaberto trabalhava, no bairro Navegantes, na Capital, publicou mensagem de pesar, definindo o engenheiro como "excelente profissional e ser humano admirável, humilde e sempre com um sorriso no rosto que alegrava o ambiente onde estava".
As vítimas
- Nascido em Puerto Montt, no sul do Chile, Alaberto Diego Cárcamo Ulloa, 70 anos, era engenheiro civil, graduado pela Universidade do Chile. Conforme colegas, se mudou para o Brasil há 40 anos, trabalhando grande parte desse período na Empresa Engeplus, em Porto Alegre. Seu corpo será sepultado no Cemitério Metropolitano de Santiago .
- Maria Orildes dos Santos, 56 anos, era natural de Crissiumal, no noroeste gaúcho. Teve dois filhos com Alaberto, de quem estava separada havia alguns anos. Trabalhava como massoterapeuta e morava na zona norte de Porto Alegre. O enterro está previsto para o cemitério de Horizontina.
O exame mental
- Chamado de incidente de insanidade mental, o exame avalia se uma pessoa, no momento que cometeu um crime, tinha potencial de consciência do ato ilícito.
- A realização do exame depende de ordem da Justiça, podendo ser solicitada, a qualquer momento pela defesa do réu, pelo Ministério Público ou ser determinada pelo juiz.
- O exame é realizado por junta composta por psiquiatras ligados ao Instituto Psiquiátrico Forense (IPF).
O laudo pode indicar três situações
- Imputável: o réu tinha plena consciência de autodeterminar-se diante do fato, com capacidade de entender o que estava acontecendo. Nese caso, pode ser julgado como uma pessoa normal.
- Semi-imputável: em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Assim, pode ser julgado, mas com pena reduzida de um terço a dois terços, ou submetido a medida de segurança.
- Inimputável: Era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato, sendo isento de pena. Pode ser aplicada uma medida de segurança, com internação em unidades prisionais para doentes mentais com prazo mínimo que varia de um a três anos sem limite máximo definido. A libertação vai depender de perícia médica para avaliar o fim da periculosidade.
Importante: a decisão do juiz ou dos jurados (em caso de julgamento na vara do júri) não está vinculada ao laudo.