No próximo 5 de julho, o soldado Rodrigo da Silva Seixas completaria 33 anos. Na mesma sexta-feira, o 19º Batalhão de Polícia Militar (BPM), na zona leste de Porto Alegre, também estaria em festa. Para marcar o 21º ano, seria realizada uma formatura. Os policiais se reuniriam na sede e receberiam homenagens. O dia de comemorações ficará isolado em um futuro que nunca chegará. Nesta quinta-feira (27), o clima era de tristeza nos corredores do quartel.
A um quilômetro dali, na noite anterior, durante uma incursão na Vila Maria da Conceição, Rodrigo tombou com o colega Marcelo de Fraga Feijó, 30 anos. Baleados durante confronto com criminosos, em um beco escuro, os dois policiais militares do Pelotão de Operações Especiais (POE) não resistiram. De luto, o 19º BPM suspendeu todas as atividades previstas para os próximos dias.
Casado, o soldado Rodrigo é pai de uma menina, de três anos. Ao lado da sede do Departamento Médico Legal (DML), no fim da manhã desta quinta-feira (27), e esposa era amparada pelos colegas do marido e por uma assistente social.
— Era uma pessoa maravilhosa. Ela me ligou pedindo ajuda. Eu fui correndo, de madrugada. É uma coisa muito triste, com uma filha pequena — conta uma familiar, que acompanhava a esposa do brigadiano na espera pela liberação do corpo.
Natural de Caçapava do Sul, o soldado terá o corpo transportado até o município da Região Central. A previsão é de que o cortejo saia por volta das 18h de Porto Alegre. O velório deve ter início às 22h, na Câmara de Vereadores da cidade. Segundo a direção da Câmara, a cerimônia será realizada no plenário. O prédio ficará aberto durante toda a madrugada, até a realização do enterro na manhã de sexta-feira (28). O corpo deverá ser encaminhado ao cemitério em cortejo em um caminhão do Corpo de Bombeiros.
Rodrigo acumulava 13 anos como policial. Ingressou na Brigada Militar como PM temporário – função exercida por pessoas que tenham prestado o serviço militar obrigatório das Forças Armadas até cinco anos antes. Nesse período, trabalhou na área administrativa do 19º BPM. Passou no concurso para soldado e ingressou de forma definitiva na BM em 2009. Após um ano de curso, regressou para o 19º BPM.
— Os dois (policiais) eram grandes camaradas. Amigos, exemplos para os colegas. Bem-humorados. Pais de família exemplares. Tinham grande amor pela atividade que desempenhavam e demonstravam isso — recorda o subcomandante do 19ºBPM, Alexsandro Goi.
Às 16h, haverá homenagem aos policiais, com "sirenaço", em frente ao Palácio da Polícia, em Porto Alegre.
"Eram amigos"
Goi foi um dos que acompanharam os familiares dos soldados durante a madrugada até a liberação dos corpos, no início da tarde desta quinta-feira.
— Estavam há um bom tempo no POE. Eram excelentes policiais, com perfil para atuar em situações de dificuldade, em áreas conflagradas como aquela. Atuavam em todas as operações do POE. É uma tristeza muito grande. Deixa toda a família brigadiana enlutada. O nosso batalhão tem essa característica de união. Eles eram amigos. As famílias conviviam — relata.
O major diz que, além do suporte às famílias, a preocupação no momento é com o impacto que a perda terá no efetivo. Junto dos soldados mortos, havia mais dois policiais durante o atendimento da ocorrência.
— Mesmo vendo os colegas já feridos, os policiais tiveram o discernimento de responder a agressão do que estava atirando na direção deles e prender o outro. Isso demonstra o profissionalismo desses policiais. Perder um colega é um momento muito duro da atividade policial — afirma.