
Caminhando de um lado para o outro na calçada em frente ao Departamento Médico Legal (DML), em Porto Alegre, Luciani Feijó, 43 anos, vivia na manhã desta quinta-feira (27) as horas de angústia que por muitas vezes temeu passar. Tinha medo de que o irmão, o policial militar Marcelo de Fraga Feijó, 30 anos, acabasse sendo vítima da criminalidade que escolheu combater. O caçula desconversava e confortava a família, dizendo que não havia risco.
Na noite de quarta-feira (26), em um beco escuro do bairro Partenon, na zona leste da Capital, o pesadelo da irmã se concretizou. O soldado da Brigada Militar foi morto em confronto, junto do colega Rodrigo da Silva Seixas, 32 anos.
— É uma dor horrível. Estamos sem chão. Meu irmão era tudo pra mim — descreveu Luciani, entre lágrimas.
Ela aguardava pela liberação do corpo do irmão, o que aconteceu somente no início da tarde. Depois dos preparativos, ele será encaminhado para Águas Claras, em Viamão, onde será velado a partir das 18h e sepultado nesta sexta-feira (28) no Cemitério Serapião José Goulart, ainda sem horário definido.
Era também para Águas Claras, na casa dos pais, que Feijó seguia aos fins de semana com a mulher e o filho, de dois anos. Na noite de quarta-feira, a irmã precisou ir até o local para dar a notícia da morte.
— Ele amava demais o filhinho. Chegava na casa dos nossos pais e era uma alegria. Agora acabou tudo — lamentou.
O terceiro filho e único menino da família, Marcelo foi fruto de uma gravidez complicada, segundo Luciani, que lembra de quando cuidava dele, ainda pequena:
— A gente vivia grudado. Eu cuidava, trocava fraldas. Uma vez derrubei ele do carrinho. Foi um susto — conta, apegando-se às lembranças.
Luciani recorda que desde jovem o irmão sonhava em ingressar na Brigada Militar. Antes, segundo a irmã, atuou na Polícia do Exército na Capital.
Ele amava demais o filhinho. Chegava na casa dos nossos pais e era uma alegria. Agora acabou tudo.
LUCIANI FEIJÓ
irmã de PM morto em confronto
Em setembro de 2012, aos 24 anos, ingressou no 19º Batalhão de Polícia Militar (BPM), onde fez o curso para o soldado e depois seguiu trabalhando. Atualmente estava no Pelotão de Operações Especiais (POE). Era acostumado a acompanhar operações em áreas conflagradas. Em casa, onde vivia com a esposa e o filho, a família tinha medo.
— A gente sempre dizia: "Se cuida, é perigoso". Ele respondia: "Não tem perigo, não te preocupa". Ele dava a vida pela profissão. Ele amava a profissão. Vivia pra ela e para a família — relatou a irmã.
Para o futuro, Feijó planejava construir uma casa para a família, para deixar de viver pagando aluguel. Entre as imagens compartilhadas por ele nas redes sociais, o filho aparece vestido com uma farda da BM.
— O meu sobrinho já segue o mesmo caminho. Já ama a Brigada. Não é porque ele morreu. Meu irmão era uma pessoa maravilhosa — diz Luciani.
— Era um exemplo de pai, de homem, de marido, de soldado — completa o cunhado, Alex de Oliveira Gutierres, enquanto confortava a esposa na calçada.

Atividades canceladas
No 19º BPM, as atividades comemorativas ao 21º aniversário do quartel, agendadas para a próxima semana, foram canceladas. Estavam previstas homenagens para os PMs e competições esportivas. A corporação está de luto:
— O momento é de absoluta tristeza, de choque. Estamos buscando agilizar todos os trâmites para auxiliar as famílias. Dar todo o suporte possível. Disponibilizamos apoio psicológico. O momento é de dor. Mas o que podemos fazer agora para honrar nossos colegas é apoiar as famílias, que ficam — afirma o subcomandante Alexsandro Gói.
No fim da manhã, ele acompanhava às famílias junto ao DML, na espera pela liberação dos corpos. A BM conseguiu apoio de uma funerária que ficará responsável por transportar os corpos dos policiais militares.
Rodrigo da Silva Seixas, 32 anos, natural de Caçapava do Sul, será velado na Câmara de Vereadores do município da Região Central. A previsão é de que a cerimônia comece por volta das 22h.