Apesar da redução no número de homicídios na Região Metropolitana de Porto Alegre, o Interior continua um campo aberto para batalhas entre facções. As cidades são vistas como território livre para empreendimentos do crime. Um dos polos onde a guerra está mais intensa é a Serra. A maior chacina do ano no Estado ocorreu dia 9 de junho em Bento Gonçalves. Cinco homens foram mortos com 64 tiros em um bar. As investigações apontam para desavença ligada ao tráfico.
Desde 2017, o município serrano vivencia um surto de homicídios. O número de mortos subiu de 35 naquele ano para 48 em 2018. Em 2019, já são 21 assassinatos. A motivação seria o avanço desses grupos criminosos da Região Metropolitana sobre a Serra. Caxias do Sul também é palco de acertos de contas.
Diretor do Departamento de Polícia do Interior da Polícia Civil, o delegado Joerberth Pinto Nunes diz que a migração é fato consumado. Em alguns casos, os criminosos de Porto Alegre e do Vale do Sinos se mudam para as localidades menores e lá negociam ou tomam bocas de fumo. Em outros casos, é estabelecida uma "franquia da facção": um chefe local do tráfico estabelece aliança com quadrilheiros mais organizados e vira representante na sua cidade.
— A disputa continua forte, tanto que abrimos várias delegacias de Homicídios e Delegacias de Polícia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco).
Nos anos 2000, com a ramificação do crime organizado, a hegemonia no interior de prisões passou a ser disputada por facções. Mas nos últimos anos, as mortes violentas no regime fechado foram praticamente extintas, enquanto se multiplicavam nas ruas. No Presídio Central — o maior do Estado —, os últimos assassinatos foram registrados em 2012. Naquela época responsável pela fiscalização da maior prisão gaúcha, o juiz Sidinei Brzuska, da Vara de Execuções Criminais (VEC) de Porto Alegre, transferiu presos com poder de mando e as mortes cessaram.
— Na minha leitura, as facções reduziram a violência para preservar territórios internos. Parece que deixaram de disputar territórios aqui (Grande Porto Alegre) e passaram a buscar novos espaços no Interior — conclui o magistrado que agora não atende mais o regime fechado.