Uma Ferrari avaliada em mais de R$ 680 mil é o último dos carros apreendidos pela Polícia Federal (PF) na Operação Egypto, que investiga fraudes financeiras supostamente cometidas pela empresa InDeal, de Novo Hamburgo. Outros 36 carros estão sob posse da PF desde o dia 21, data em que a operação foi deflagrada, e deverão ir a leilão após determinação judicial. Os 10 presos — entre sócios, esposas de sócios e colaboradores — seguem detidos.
O veículo italiano foi encontrado em uma ligada ao grupo investigado, em Canela, na Serra . De fabricação 2009, o modelo California tem motor V8 e 460 cv. Segundo a tabela Fipe, que avalia automóveis novos e usados, o valor estimado é de R$ 682.375,00.
A Ferrari foi trazida em um guincho, diferente da semana passada, quando agentes federais pilotaram Mustangs, Porsches, Dodges, BMW e Mercedes, entre outros veículos, até a sede da corporação, em Porto Alegre. Estacionado na rua em frente ao prédio, virou atração para quem passava pelo local. Um motorista em um Uno brincou:
— Será que eles trocam taco a taco pelo meu?
Entre olhares, fotos e selfies, Sidnei Mainardi, 41 anos, teve a "honra" de transportar o carro tão desejado. E ele se diverte:
— Posso dizer que já andei de Ferrari.
Motorista da empresa Guinchos Total, com sede no Vale do Sinos, ele afirma que amarrou quatro cordas nas rodas, "para garantir que não caia", como explicou. Trabalhando há 12 anos como transportador, diz que nunca levou um bem tão valioso em seu caminhão.
— Parei num posto e quase não consegui ir ao banheiro, de tanta gente pedindo pra tirar foto. Mas tudo bem, é um carro que não se vê todo dia, né?— lembra.
Com placas de Belo Horizonte, o veículo leva o selo F1, e tem um volante que lembra os de carros de corrida, com câmbio acionado por borboletas (atrás do volante) e detalhes esportivos.
O automóvel será levado ao depósito da PF, na zona norte da Capital.
Procurada por GaúchaZH, a advogada da inDeal, Veridiana Fumegali Paiva, disse que não iria se manifestar pois não estava autorizada pela empresa.
Operação Egypto
Segundo a investigação, a empresa Indeal captava recursos de terceiros — o que é ilegal —, prometia retorno de 15% no primeiro mês, mas investia o dinheiro em outras áreas, incluindo artigos de luxo para seus sócios. Foram movimentados mais de R$ 1 bilhão entre fevereiro de 2018 e maior de 2019, segundo estimativa do auditor fiscal da Receita Federal Heverton Luiz Caberlon.
Além dos crimes de operação de instituição financeira sem autorização legal, gestão fraudulenta, apropriação indébita financeira, lavagem de dinheiro e organização criminosa, o inquérito apura o envolvimento de pessoas que teriam tentado obter informações sigilosas da investigação e que foram identificadas.
A PF obteve a quebra de sigilo bancário dos investigados, o que mostrou a movimentação financeira da empresa. Segundo a investigação, mais de R$ 500 milhões foram usados em investimentos convencionais, e não em criptomoedas, como prometido. Desta mesma conta, saíram ainda pagamentos para compra de pedras preciosas e imóveis de luxo.
O nome da empresa não foi divulgado pela PF, mas a reportagem confirmou a identificação ao ir até a sede onde os mandados foram cumpridos.