A Justiça condenou o jovem de 17 anos acusado de ser o terceiro envolvido no massacre na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, que deixou oito mortos no início de março deste ano. Ele seguirá internado em uma unidade da Fundação Casa, mas agora por prazo indeterminado — o limite estabelecido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente é de três anos, com liberação compulsória aos 21 anos.
A decisão do dia 30 de abril é da juíza Erica Marcelina Cruz, da Vara da Infância e da Juventude, que havia determinado a apreensão e internação provisória do adolescente por 45 dias em 19 de março.
Durante a investigação policial foram analisados os celulares do adolescente e dos dois atiradores — Guilherme Taucci, 17, e Luiz Henrique de Castro, 25. Mensagens trocadas entre os três teriam revelado indícios da participação do jovem na organização do crime.
Na casa do adolescente, os policiais encontraram desenhos de pessoas mortas, mensagens criptografadas e uma bota militar muito semelhantes às achadas na casa dos dois atiradores.
Um vídeo mostra que Taucci e o jovem de 17 anos foram até um estande de tiros e treinaram disparos com armas airsoft e arco e flechas, cinco dias antes do ataque.
Segundo a Polícia Civil, o adolescente teria participado ainda da compra do machado usado para ferir alunos e professores.
Após a apreensão do jovem, o delegado titular da delegacia de Suzano, Alexandre Henrique Augusto Dias, disse considerar que ele era o autor intelectual do ataque à escola, ao lado de Guilherme, embora ainda não soubesse o que teria provocado a saída dele da efetivação do ataque.
Sua convicção, afirmou Dias, foi formada a partir de testemunhos e do material apreendido durante a investigação e baseou o pedido de internação pelo promotor do caso, Rafael Ribeiro do Val.
O jovem condenado é ex-aluno da Raul Brasil e era amigo de Taucci, tido pela polícia como líder do ataque a tiros. Os dois estudaram na mesma classe.
O advogado Marcelo Feller, defensor do adolescente apreendido, diz que vai recorrer da decisão. Para ele, as provas dos autos deixam claro que seu cliente não participou do planejamento do ataque e sequer sabia que o crime aconteceria.
— Ele foi condenado por ser quem é — afirmou Feller nesta terça-feira (7).
Os detalhes do processo correm em segredo de Justiça.
O que diz a defesa
O advogado já havia rebatido as acusações. Para ele, as mensagens obtidas no celular do adolescente mostram que ele é inocente.
Logo depois do ataque, no dia 13 de março, às 10h40min, o jovem envia: "Caralho, porra, Taucci, teve um tiroteio dentro da escola. Mano, dois adolescentes e eles se mataram." Sem resposta por 40 minutos, ele segue: "Taucci?"
"Um dos atiradores tinha um machado igual ao seu", ainda escreve o adolescente, antes de se dar conta de quem era o autor do crime. "Seu filho da puta, eu te odeio", foi a última.
Em outra mensagem, para um grupo de amigos, o jovem internado diz: "Isso me lembrou a minha estratégia pra fazer um massacre naquela escola. Não sei como eu conseguia pensar nisso, sério." Com outro colega, falou: "mano, o atirador pode ser o Taucci".
Os dois amigos, segundo o advogado, fantasiaram sobre um ataque do tipo, mas em 2015, quando eles tinham entre 13 e 14 anos. Taucci e o outro jovem brigaram nesta época e não se falaram mais até o fim do ano passado, segundo o defensor.
— Quando o Taucci tira isso do campo das ideias e passa a executar, ele não sabe. Sim, ele fantasiou sobre entrar na escola e matar pessoas, mas quatro anos antes e fantasiar é absolutamente diferente de colocar em prática — afirmou Feller, no dia 25 de março.
Ainda conforme o advogado, o coturno encontrado na casa do jovem foi um presente do tio, dado em fevereiro deste ano, seis meses após a data da compra de botas por Taucci, em novembro de 2018.
Também foi o próprio adolescente quem disse à polícia que esteve num estande de tiros junto à Taucci antes do crime.
Sobre a suspeita de que ele seria o terceiro jovem visto num estacionamento onde os atiradores guardavam o carro usado no ataque, Feller afirmou que a polícia não comparou as impressões digitais encontradas no veículo com as do adolescente.
O dono do estabelecimento, o empresário Eder Alves, 36, não reconheceu na foto do jovem, até então apreendido, fisionomia igual à do garoto que viu no local.