Por Idete Zimerman Bizzi, médica, psiquiatra e psicanalista
Massacres em escolas e universidades se multiplicam ao redor do mundo e chegam ao nosso quintal. O efeito "contágio" está em flagrante curva ascendente, e ameaças de crimes em instituições mobilizam a população, produzindo pânico e confusão. Dividido entre reconhecer o problema e seguir inalteradamente com sua vida normal, o cidadão comum se pergunta o que fazer.
Em Precisamos falar sobre Kevin, a escritora Lionel Shriver retrata um adolescente mordaz e insatisfeito que executa brutalmente colegas e professores de sua escola, volta para casa e assassina o pai e a irmã. A mãe, sobrevivente, em visita ao filho na penitenciária pergunta por que, afinal, foi poupada, ao que ele responde: "Quando a gente monta um show, não atira na plateia".
A destrutividade que reina dentro dos assassinos nem sempre dá sinais inequívocos, mas invariavelmente busca notoriedade. Os massacres em ambientes públicos precisam da audiência para completar seu ciclo de agressão, vingança e triunfo sobre aqueles que representam os odiados "bem aventurados", os que presumivelmente gozam de afeto, de estrutura familiar, de esperança e futuro, enfim.
Aos assassinos, os meios de comunicação têm reservado um espaço limitado. Há uma proposta de que não sejam identificados pelo nome, exatamente para não viralizarem nas redes, não serem premiados com a desejada e macabra fama, e não encorajarem novos massacres. É-lhes negado o reconhecimento que tanto almejam.
Segundo Winnicott, psicanalista britânico, "a tendência antissocial está inerentemente ligada à privação", pois só de um vazio tal, tão primitivo, fonte de terrível solidão e sentimento de exclusão pode advir tamanha agressão. Ser visto pelos seus é existir; não ser visto pelos seus é morrer em vida. Em alguma medida, isso é válido para todos.
Tentar compreender o que move assassinos desse tipo não os isenta de culpa e muito menos substitui a busca de medidas de segurança frente a um perigo que é real. Pelo contrário, põe-nos alertas e nos torna mais aptos a enxergar o próximo.