Réu da morte de um motorista de aplicativo encontrado em Laguna, em Santa Catarina, Wesley Nunes Ferraz alega que apenas chamou o carro para o outro envolvido e que não teria embarcado no veículo no Rio Grande do Sul. É o que diz a advogada Daniele Krieger Lobato, que representa Ferraz e ouviu o relato do cliente.
Desaparecido na véspera do Réveillon, o motorista Paulo Junior da Costa, 22 anos, foi encontrado morto com o corpo parcialmente enterrado em um matagal em 4 de janeiro. O crime é tratado como latrocínio (roubo com morte).
Segundo a defesa, Ferraz teria ido para Laguna apenas na tarde do dia seguinte. De acordo com a advogada, o réu teria pegado uma carona com um motorista de Sedex. Para comprovar a tese, Daniele pediu em 14 de fevereiro o exame de digitais no carro conduzido pela vítima — um Gran Siena vermelho —, o que já havia sido solicitado pelo Ministério Público.
Conforme o delegado Bruno Fernandes, responsável pela investigação em Santa Catarina, a perícia chegou a ser feita. Porém, a análise ficou comprometida porque o carro ficou aberto, ficando a mercê de calor e poeira, o que comprometeu a permanência das digitais. Apenas uma foi coletada, de um morador das redondezas que localizou o veículo.
O delegado salienta que, para o pedido de prisão e indiciamento, havia provas para apontar o envolvimento de Ferraz. Entre eles, o depoimento do outro réu, Jackson do Nascimento, que afirmou a presença do comparsa no crime. A polícia não descarta que Ferraz possa ter sido o "mentor intelectual do crime", não participando diretamente do latrocínio.
Justiça nega liberdade provisória
Após a prisão de Ferraz, a defesa pediu a liberdade provisória dele. Em 21 de janeiro, o juiz Renato Müller Bratti negou a solicitação para assegurar a ordem pública, como previsto no Código de Processo Penal (CPP).
O magistrado também se manifestou sobre o pedido da defesa de absolvição sumária do réu sob a alegação que não cometeu os crimes: "Não há como acolher-se nesta fase procedimental, pois necessária a instrução do feito para deliberação a respeito, já que temos nos autos pelos menos indícios de que o acusado Wessley foi um dos autores dos ilícitos".
A primeira audiência do caso na Justiça catarinense vai ocorrer em 10 de abril.
Motorista desapareceu no dia 31 de dezembro
Cerca de quatro horas antes da meia-noite de 31 de dezembro, o jovem de 22 anos desapareceu enquanto trabalhava como motorista de aplicativo. Um dos últimos contatos foi com a namorada Lavinia Gomes pelo WhatsApp. Inicialmente, ele encaminhou dois áudios para ela, que foram apagados. Em seguida, a jovem reclamou por mensagem de texto que não conseguia ouvi-los porque foram deletados.
Como resposta, foi informada que não era para se preocupar, que ele estava em uma corrida para Pelotas, distante 267 quilômetros de Guaíba, onde mora com a família. Preocupada, Lavinia questionou o que estava acontecendo.
"Daqui uma hora estou retornando", informou.
A jovem desconfiou das mensagens por erros de ortografia e excesso de pontos — diferente de como ele escreve. De pronto, procurou a família de Costa. Por volta das 20h30min, o pai do jovem conseguiu contato, em uma ligação. Costa teria dito que não iria demorar e que estava levando carvão para o churrasco da virada do ano.
— Este foi o último contato dele — conta a namorada.
Costa era estudante de Engenharia Mecânica na UniRitter, fazia estágio em Guaíba e, nas horas vagas, trabalhava como motorista de aplicativos.