Ao apresentar a réplica às considerações finais da defesa, a Promotoria pediu nesta sexta-feira (15) pena máxima aos quatro réus do caso Bernardo — Leandro Boldrini, pai do menino, a madrasta Graciele Ugulini e os irmãos Edelvânia e Evandro Wirganovicz . Diante do conselho de sentença, o promotor Bruno Bonamente, titular do processo, pediu que os jurados façam justiça.
— Bernardo não grita mais por socorro. Ele foi silenciado. Tenho certeza que hoje Bernardo grita por justiça, justiça, justiça! É isso que ele quer. E só vocês podem fazer justiça. Pedimos condenação em pena máxima — afirmou Bonamente.
O último dia de julgamento em Três Passos começou com o salão do júri lotado pelo público. Entre os réus, o detalhe que ganhou destaque foi a roupa de Leandro Boldrini, pai de Bernardo Uglione Boldrini, morto há cinco anos. Nos últimos três dias, Boldrini usou camisetas brancas. Nesta sexta-feira, a roupa traz imagens de pequenos pés pintados e dizeres: Pai, eu sigo seus passos. Maria Valentina". A menina é filha de Boldrini com a ré Graciele Ugulini. Ela tem seis anos.
Imediatamente a camiseta virou alvo de comentários do Ministério Público. A imagem também repercutiu nas redes sociais, com a maior parte de comentários negativos.
A sessão começou com polêmica por causa de uma entrevista em vídeo que o Ministério Público tentou apresentar com uma psiquiatra falando sobre psicopatas. A apresentação não foi permitida pela juíza Sucilene Engler, pois o vídeo não constava do processo. O promotor Ederson Vieira repetiu que os réus são psicopatas.
Vieira começou contestando uma informação sustentada pelo réu Evandro Wirganovicz, de que no dia 2 abril, quando seu carro foi visto parado perto do local da cova de Bernardo, ele estava de férias e pescando na região. O MP apresentou gravações indicando que ele não estava de férias naquele dia.
O promotor apresentou um áudio de ligação entre Graciele e a ré Edelvânia Wirganovicz. Pelo tom natural da conversa, ele sustenta que não há indicativo de que Edelvânia tenha agido para ocultar o corpo sob ameaça de Graciele. Edelvânia diz que "está rezando" e que tudo vai dar certo nas buscas ao menino. Em outra ligação, ao falar com outra amiga, Graciele diz que sente "ânsia de vômito ao olhar para o povo da cidade", depois de comentar as buscas.
— Está um inferno isso aqui, as pessoas colocando a culpa em mim e no Leandro. Querem explicações — queixa-se Graciele em telefonema com a Edelvânia.
E Graciele comenta que Edelvânia deve ser procurada pela polícia. Edelvânia passa a repetir o que as duas haviam feito no dia 4, dia do crime, dá detalhes do que fizeram. Segundo o promotor, elas sabiam que estavam com os telefones grampeados.
— O culpado vai aparecer, mais cedo ou mais tarde, né, amiga — diz Edelvânia na ligação.
Também foi mostrada ligação em que o marido da madrinha de Bernardo liga para o casal cobrando e afirmando que eles estariam envolvidos no sumiço. Um diálogo que tem como interlocutor um irmão de Boldrini revela, segundo o MP, que as defesas teriam acertado que Graciele e Edelvânia deporiam isentando Boldrini.
O promotor discorreu sobre telefonemas entre pai e filho. A defesa de Bondrini sustentou que o médico ligava, sim, para o filho. O MP dissecou os dados. Apontou que em 17 ligações feitas em finais de semana, 12 haviam tido tentativa de ligar primeiro por parte de Bernardo. Vieira resumiu alguns depoimentos que demonstrariam descaso de Boldrini por Bernardo.
Mais uma vez, o MP apresentou trechos da confissão de Edelvânia à polícia para reforçar a afirmação de que não houve constrangimento por parte da polícia. O promotor leu trechos de laudo psiquiátrico feito de Boldrini na prisão e destacou que ele tem "traços claros de psicopatia".
Vieira disse que a ação de Evandro, ao cavar o buraco, proporcionou ao casal a chance de executar o crime. Afirmou que Edelvânia não sofreu coação de Graciele para agir, já que as duas dialogam naturalmente dias depois do crime. Pediu aos jurados que, durante a análise dos quesitos que serão apresentados, digam não a tudo que as defesas pedirem.
— Se valham das experiências de vocês como pais. Como um pai reage quando um filho desaparece? — pediu Vieira aos jurados.
MP mostrou também o vídeo em que Bernardo grita insistentemente por socorro.
— Não tem agressão, senhores jurados ? — indagou Vieira.
— Cagão nas calças, vai lá atrás do teu pai. Não tenho nada a perder Bernardo. Tu não sabe do que sou capaz. Prefiro apodrecer na cadeia a ficar contigo nesta casa — fala Graciele no vídeo.
— Sei que tua mãe era o máximo para ti, mas simplesmente ela te abandonou — diz Boldrini ao filho, que chora e pede que não falem da mãe dele.
A mãe de Bernardo, Odilaine Uglione, cometeu suicídio em 2010.