O médico Leandro Boldrini foi o primeiro réu pela morte de Bernardo Uglione Boldrini a ser ouvido no julgamento em Três Passos. O interrogatório do pai da vítima iniciou por volta das 15h desta quarta-feira (13) - terceiro dia de júri. Ele está sendo submetido a julgamento, ao lado de Graciele Ugulini, que era madrasta do menino, Edelvânia e Evandro Wirganovicz.
Antes de entrar na sala do júri, Boldrini conversou com os advogados Ezequiel Vetoretti e Rodrigo Grecellé, responsáveis pela sua defesa. Ele entrou no salão vestindo camiseta branca e calça jeans, mesma roupa usada na sessão de terça-feira (12). Os outros réus não estavam na sala.
— Faço questão de falar — disse Boldrini, que pediu à juíza Sucilene Engler para permanecer de frente para os jurados durante depoimento.
A magistrada questionou quantos filhos possui o médico. Ele afirma que dois. Ela questiona as idades. Boldrini afirma que a filha tem seis anos, a menina fez aniversário no domingo anterior ao julgamento dos pais, e que Bernardo teria 17. Na verdade, o garoto teria 16 anos, e completaria 17 em 6 de setembro.
Na sequência a juíza Sucilene leu ao réu a denúncia. Ao escutar a parte da acusação, Boldrini movimentava-se na cadeira, inquieto. Em seguida, retirou o microfone do pedestal. A acusação aponta o pai como o mentor do crime. Bernardo desapareceu em 4 de abril de 2014 e foi encontrado morto 10 dias depois, enterrado em cova rasa, no interior de Frederico Westphalen.
Boldrini iniciou as respostas negando que tenha algum envolvimento na morte do filho.
— Nego veementemente. Amo até hoje meu filho. Infelizmente ele não está mais comigo — afirmou.
O médico afirmou que Graciele disse a ele - no dia do desaparecimento de Bernardo - que o menino teria ido com ela até Frederico Westphalen e depois teria ido dormir na casa de um coleguinha. Boldrini disse ainda que não estranhou o fato do filho ter viajado com a madrasta porque isso seria habitual, diferente do que relataram testemunhas, dizendo que Bernardo não viajaria com Graciele.
— No almoço, percebi uma situação muito afetuosa. O Bernardo estava feliz — disse o pai, sobre o dia em que o menino foi levado até Frederico Westphalen e assassinado.
O médico disse que conversava com Graciele para que melhorasse o relacionamento com o menino. Sobre o vídeo, no qual Boldrini aparece ameaçando o filho, junto da mulher, ele afirmou que só queria que os dois se entendessem.
— Queria que o Bernardo e a Graciele se acertassem. Essa era minha intenção — disse.
Boldrini admitiu que atendeu telefone da mulher na tarde de sexta-feira, quando Bernardo foi morto, mas disse que não recorda o teor dessa conversa. O médico relatou que não se preocupou com a falta do filho naquele fim de semana porque Bernardo costumava ficar na casa dos amiguinhos brincando.
— Eu sabia que ele estava num lugar tranquilo, seguro. Não me preocupei — disse.
O pai disse que havia acertado com Bernardo, após audiência com Judiciário, que o menino deveria sempre retornar para casa no máximo até as 19h aos domingos. E, por isso, preocupou-se naquele domingo em que o filho não apareceu na residência. O fato de o médico ter ido procurar pelo garoto na casa de coleguinhas foi citado por testemunhas como ponto incomum na rotina. A Promotoria entende que essa seria uma forma de criar álibi para esconder o crime.
Boldrini alegou que os medicamentos que o menino tomava eram receitados por médicos. O réu argumentou ainda que vinha tentando melhorar a relação com o filho, especialmente após audiência na Justiça.
Em janeiro de 2014, Bernardo procurou sozinho o Fórum de Três Passos para reclamar da falta de atenção e dizer que queria morar com outra família. Em 11 de fevereiro daquele ano foi realizada audiência com a família. Foi concedido prazo de 90 dias para reavaliação do quadro familiar.
— Comecei a maratona de ligações e procura — disse sobre o domingo, 6 de abril de 2014, quando afirma ter percebido que o filho havia sumido, após ter ido na casa de um coleguinha de Bernardo e descobrir que ele não estava lá.
Ele contou ainda que estava no hospital, na segunda-feira, 7 de abril, quando foi chamado para ir na Delegacia de Polícia.
— Na medida em que o tempo ia passando, ia apertando o coração — disse.
Boldrini disse que chegou a fazer buscas por Bernardo em outros municípios. Essa informação também foi contestada por testemunhas, que alegam que o médico não teria interesse em procurar pelo menino. Boldrini disse que foi chamado pela Polícia Civil e informado que eles estavam trabalhando com a possibilidade de assassinato.
— Ainda não queria acreditar — afirmou.
Questionado pela juíza se desconfiou de Graciele, Boldrini negou. Disse que não conhecia Edelvânia, mas que a mulher havia afirmado que convidaria a amiga para ser madrinha da filha.
— O senhor ia batizar a sua filha, mas não foi na primeira comunhão do seu filho? — indagou a juíza Sucilene.
Boldrini respondeu que o filho não era muito assíduo na catequese e que não sabia a data da cerimônia. Ele disse que dois meses antes, recebeu um convite de casamento em Santo Ângelo e que deixou tudo acertado para que outra pessoa acompanhasse Bernardo. Ele negou que o filho não tivesse roupa para ir na cerimônia.
— Confesso que hoje, senhores jurados, faria diferente — disse.