Uma criança dócil, sensível, inteligente e que pedia abraços. Assim a psicóloga Ariane Schmitt definiu Bernardo Uglione Boldrini, ao começar seu depoimento no julgamento da morte do menino na tarde desta terça-feira (12), em Três Passos.
Ariane atendeu a Bernardo em mais de uma ocasião. A primeira foi em 2011, depois de a mãe do menino, Odilaine Uglione, ter cometido suicídio. Ela voltou a ter contato com ele em 2014. A psicóloga, no seu depoimento, discorreu sobre as péssimas condições físicas e emocionais em que o menino vivia. E atestou:
— A morte de Bernardo não aconteceu em 4 de abril de 2014, ele teve a infância abortada. A morte foi lenta, gradual e contínua.
Quanto a Leandro Boldrini, Ariane o avaliou como um pai "tangencial, periférico, sem vínculo e empatia". A médica lembrou de ter cobrado de Boldrini, que era colega de profissão do marido dela, o fato de o menino estar ministrando remédios sozinho. O pai, segundo Ariane, foi evasivo ao falar de uma possível solução.
No final de 2014, Ariane recebeu Bernardo em seu consultório "dopado e febril".
— Ele não tinha condições de falar. Liguei para o médico que atendia na calçada do meu consultório e Bernardo foi consultá-lo.
O médico que atendeu Bernardo procurou Boldrini na clínica e não foi recebido, segundo a psicóloga. Na ocasião, Bernardo estava com bronquite. Além disso, o menino sofria de "carência, falta de amor e autoridade exercida com violência e certo sadismo", segundo a médica.
Sobre a forma de autoridade a que ele estava submetido, o Ministério Público transmitiu dois vídeos em que Bernardo é provocado pelo pai e reage com agressividade.
— Que pai gravaria um filho numa situação assim,sendo provocado? Um pai chamaria o filho para largar a faca, dar um abraço e querer filmar o filho sorrindo. Bernardo não era assim. Bernardo foi muito pouco feliz.
A defesa de Boldrini insistiu sobre se Bernardo teve um diagnóstico. Ariane explicou que a família abandonou o tratamento e, inclusive, procurou outros médicos. O advogado de Graciele Ugulini, a madrasta de Bernardo, focou no fato de o menino se automedicar, o que foi constatado por Ariane à época. Vanderlei Pompeo de Mattos também perguntou se o menino era agressivo com colegas ou se relatou que odiava alguém.
Ariane explicou que na técnica de perguntar quem são os amigos preferidos, quem ficaria fora do carro do menino, Graciele ficava sempre em último lugar nas vagas. O advogado de Graciele quis saber se alguma vez Bernardo se queixou da madrasta. Ariane disse que não.
O depoimento terminou às 14h28min. A defesa de Edelvânia Wirganovicz fez apenas uma pergunta. A de Evandro não fez questionamentos.