O dentista preso suspeito de assassinar Jacir Potrich, gerente do Sicredi de Anta Gorda, apresentou comportamento considerado "fora do comum" ao ser capturado, afirma o delegado Guilherme Pacífico, responsável pela investigação. Segundo o policial, o preso foi irônico e inclusive riu quando o assunto da prisão foi mencionado. O nome dele não foi revelado pela polícia, mas GaúchaZH confirmou que trata-se de Carlos Alberto Weber Patussi, 52 anos.
— Foi frio e um pouco sarcástico. Em nenhum momento se mostrou desesperado ou preocupado. Estava com tranquilidade fora do comum, algo não esperado para alguém que se coloca em uma posição, por exemplo, de uma prisão injusta. A maioria das pessoas teria reação diferente — revelou o delegado.
O dentista foi preso na quarta-feira (23) em seu apartamento em Capão da Canoa, no Litoral Norte. Depois, foi levado até uma delegacia no Vale do Taquari. Acompanhado de uma advogada, preferiu manter o silêncio no momento do depoimento formal.
Logo depois, Patussi foi encaminhado a um hospital. Ele apresentou sintomas de pressão alta e foi medicado. Após, foi levado até o Presídio Estadual de Encantado.
Enquanto isso, uma outra equipe de policiais e de agentes do Instituto-Geral de Perícias (IGP) fazia a análise da casa onde o dentista mora. A residência fica no mesmo condomínio de Potrich, um lugar com apenas três casas. Os agentes aplicaram o composto químico luminol, que apresenta a presença de material genético. Cães farejadores estiveram no local também, mas não indicaram a presença de um corpo. Celulares e computadores foram apreendidos.
Nos próximos dias, a esposa de Patussi deve ser ouvida pelos investigadores. Os policiais querem entender se ela sabia do assassinato. Ela estava em casa no momento do crime, segundo Pacífico. Já estava previsto o depoimento dela, mas complicações na investigação impediram, diz o delegado.
Falta ainda descobrir como Potrich foi assassinado e onde está o seu corpo. As câmeras de segurança mostram apenas o dentista indo para o mesmo quiosque onde o gerente foi visto pela última vez. Depois, o suspeito é flagrado desviando o foco dos equipamentos para cima usando uma vassoura.
Suspeita de aplicação de ácido em corpo
A polícia já esvaziou açudes, procurou em rios, em tubulações no condomínio e na própria casa, mas não encontrou nada. Uma das hipóteses levantadas pelos agentes é de que o dentista tenha usado ácido para dissolver o corpo da vítima.
— Uma pessoa do ramo médico, odontológico, com conhecimento de fisiologia, anatomia, química, que lida com o corpo humano, química. Para pessoa dessa área, seria mais fácil. Para pessoa comum, seria difícil — comenta Pacífico.
Ainda assim, para a polícia, o crime está consumado e o corpo não é considerado essencial para a finalização do inquérito. A data final do prazo policial é o dia 22 de fevereiro.
Motivo do crime
Para a polícia, o crime foi motivado por uma inimizade grande entre Potrich e Patussi. Antes amigos, um fato fez a relação entre os dois passar de confiança para uma convivência raivosa. O banco alugava um imóvel do dentista na cidade. Depois de um tempo, a instituição decidiu deixar o local e alugar outro espaço. O dentista não teria sido avisado pelo amigo, o que causou fúria.
Desde então, havia uma inimizade entre eles. Em depoimento no início da investigação, a esposa de Potrich chegou a falar que acreditava que o vizinho teria cometido o crime. Comentou, também, que se fosse a situação contrária, o sumiço do dentista, o seu marido poderia ser o culpado.
Contraponto
A defesa do dentista afirma que não existem sequer provas da existência do crime, já que nenhum corpo foi localizado. O advogado Paulo Olimpio Gomes de Souza alega que o cliente estava em casa com a família, e não frequentou o quiosque no dia do desaparecimento.
Sobre a possível desavença por questões financeiras, Souza diz que nunca ocorreu, porque o imóvel foi alugado por outro cliente, por um preço maior, após a saída do banco Sicredi.
Bancário sumiu após pescaria
O gerente sumiu em 13 de novembro. No dia, ele foi um dos primeiros a chegar ao banco e saiu do local por volta das 15h30min. Dali, foi até a propriedade de um conhecido, no interior da cidade, que estava fazendo aniversário. Aproveitou para pescar.
Imagens de câmeras de segurança mostram a chegada dele ao condomínio às 19h07min. O bancário entrou na casa e passou pela porta dos fundos. Na residência, limpou os peixes, tomou caipirinha e se dirigiu até um quiosque na área comum do condomínio. A partir dali, não foi mais visto. Apesar de ser metódico, deixou facas e outros utensílios sujos em cima de um balcão, o que chamou a atenção da família e da polícia.
Na época do desaparecimento um açude, ao lado do quiosque, foi esvaziado e buscas com cães farejadores foram feitas em perímetro de dois quilômetros quadrados, sem que o gerente fosse localizado.
Potrich morava na casa com a mulher Adriane Balestreri Potrich, 53 anos, e com o sobrinho Arthur Balestreri, 24. O jovem está na cidade há oito meses. No dia do sumiço, Adriane tinha ido visitar o filho do casal em Passo Fundo. O sobrinho era o único da família que estava na cidade. Segundo o delegado, ele permaneceu o dia no escritório. Passou em dois lugares antes de ir para casa e perceber a falta do tio.
Na época do sumiço, se desconfiava de um sequestro pela função que ele exercia no banco. Rotas de carros-fortes chegaram a ser desviadas da região.