Qualquer veículo desconhecido que chega à Rua América, um beco sem saída, no bairro São Geraldo, em Gravataí, desperta pavor nos moradores. Era assim no início da manhã desta segunda-feira (28), quando vizinhos se reuniam na calçada, ainda assustados com a noite violenta.
Por volta das 23h30min deste domingo (27), dois homens e um adolescente foram mortos a tiros. Segundo a Brigada Militar e a Polícia Civil, a área é conflagrada pelo tráfico de drogas. Os moradores acreditam, no entanto, que o trio foi alvejado por engano.
Em frente de casa, uma moradora secava as lágrimas enquanto recordava que, por pouco, não estava na rua no momento dos disparos. Acompanhada dos filhos, uma menina e um adolescente, tomava chimarrão com os vizinhos. Entrou em casa para jantar e na sequência ouviu os estampidos.
— Pensei que fossem fogos (de artifício). Só depois me toquei que eram tiros. Por sorte não tinha nenhuma criança ali. Sabe-se lá quantos mais poderiam ter matado? Cada carro que entra aqui na rua agora a gente fica com medo — conta a moradora que não quis se identificar.
Do lado de fora, Cristiano Nascimento da Silva, 19 anos, Jair de Moraes Feijó, 31 anos, e um adolescente, de 14 anos, estavam sentados após receberem a entrega de um lanche. Não tiveram tempo de comer. Enquanto escutavam música e tomavam refrigerante, um veículo, identificado como Siena prata, aproximou-se deles. Os três estavam sentados na lateral de um campo de futebol, no lado oposto de onde ficam as residências.
Os disparos de fuzil 5.56 e pistola 9 milímetros atingiram os três, que tombaram sobre a calçada. Não houve tempo para socorrer nenhum deles. Mulher de Jair e irmã de Cristiano, uma jovem, de 25 anos, teria ficado ferida de raspão na perna. Ela chegou a ser encaminhada para atendimento médico, mas sem risco de vida.
— É hábito da gente sentar aqui do lado de fora, tomando chimarrão e conversando. As crianças ficam brincando. Minha mulher e meus filhos estavam sentados aqui. Podia ter sido meu filho — conta outro morador.
Durante a noite ele estava no trabalho e, somente por isso, não presenciou a execução dos vizinhos. Segundo a polícia, nenhum dos três mortos tinha antecedentes criminais.
É hábito da gente sentar aqui do lado de fora, tomando chimarrão e conversando. As crianças ficam brincando. Minha mulher e meus filhos estavam sentados aqui. Podia ter sido meu filho
VIZINHO DAS VÍTIMAS
— Se estivesse de folga, com certeza estaria aqui na rua e seria um dos mortos agora. Mataram três inocentes. Até o guri, de 14 anos, já trabalhava. Estava se virando. Eram trabalhadores, com família. Está todo mundo de luto — afirma o morador.
Cunhados, Cristiano, auxiliar de produção em uma empresa de Gravataí, e Jair residiam na mesma moradia, em frente ao local onde aconteceram os disparos. Amigo e vizinho dos dois, o adolescente morava em uma casa na mesma rua, com a família, e trabalhava em um depósito de bebidas.
Logo após os disparos, os moradores chamaram a Brigada Militar, que fez buscas aos atiradores. O caso foi registrado na 2ª Delegacia de Polícia de Gravataí e a investigação está sob responsabilidade da Delegacia de Homicídios do município.